Legítima defesa ou queima de arquivo? PM e defesa de manifestante divergem

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

Após ter participado de um protesto contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves, 22, foi baleado por policiais militares no último sábado (25), em Higienópolis, bairro da Zona Oeste de São Paulo. Levou dois tiros e está internado na Santa Casa, que fica próxima do local do incidente. E então começam as divergências. Com versões absolutamente contraditórias, Polícia Militar e defesa do rapaz vão de legítima defesa a queima de arquivo para tentar explicar o que aconteceu.

"Pessoas que moram na região em que o incidente aconteceu vieram seguindo os policiais até o hospital para ter certeza de que eles viriam para cá. As pessoas ouviram os oficiais gritando 'mata!'. O que é isso, afinal? Queima de arquivo?", questionou Daniel Biral, que representa o grupo Advogados Ativistas e assumiu o caso no fim de semana.

Na última segunda-feira, o secretário de Estado de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, disse que a PM "agiu em legítima defesa". Segundo ele, Chaves tinha na mochila um estilete e material explosivo.

"Ele tinha um estilete, sim, mas tinha porque usava o artefato para trabalhar como estoquista nos Armarinhos Fernando. No sábado, o Fabrício trabalhou e depois foi participar dos protestos", justificou Biral. "Disseram que ele tinha material explosivo feito com uma lata de cerveja, mas essa história não bate. Artefatos assim são feitos normalmente com vidro", continuou o jurista.

Chaves havia participado de vários protestos no ano passado. No entanto, de acordo com a mãe do estoquista, ele tinha deixado de frequentar as manifestações por ter ficado assustado com atos de vandalismo.

No sábado, o estoquista resolveu voltar aos protestos. Participou de um ato chamado "Não vai ter Copa", realizado no vão livre do Masp. Agendada pela rede social Facebook, a manifestação acabou em grande confusão e mais de cem detidos.

Depois da manifestação, Chaves foi abordado por policiais militares na região da Rua da Consolação. Segundo a Corporação, ele estava acompanhado de outro rapaz, ambos com "atitude suspeita".

Ainda de acordo com a PM, Chaves fugiu correndo após ter sido abordado. Depois, tentou golpear um oficial com um estilete. Os disparos teriam sido reação a essa conduta.

Os próprios policiais conduziram Chaves à Santa Casa de São Paulo. Como o rapaz foi acusado de tentativa de homicídio, o quarto dele recebeu escolta. A mãe dele só foi liberada para entrar na manhã desta segunda-feira.

"Ele foi transportado pela polícia, estava com o RG e estava identificado, mas ninguém da PM entrou em contato com a família", lembrou o advogado de defesa. "Estamos vivendo um tempo ditatorial", completou.

Internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), Chaves estava entubado até a manhã de segunda-feira. Ele acordou, falou com a mãe e pediu para ver o pai, que mora no interior de São Paulo. Alvejado no tórax e na região genital, o estoquista perdeu um testículo e ainda pode ficar sem movimentos de um braço.

Na segunda-feira, Grella Vieira apresentou fotos de artefatos que teriam sido apreendidos na mochila de Chaves. "Não são objetos próprios para quem quer participar de uma manifestação", classificou.

"Esse caso está cheio de coisas erradas. Ele estava com policiais no quarto por causa de uma acusação estapafúrdia. E o inquérito, aliás, já começou com uma irregularidade. A delegacia em que ele foi instaurado [4º Distrito Policial] não estava de plantão. Fomos até lá no dia seguinte, mas eles estavam fechados. Não sei explicar por quê", finalizou Biral.

OUTRAS CIDADES

O sábado foi um dia com diversas manifestações contra a realização do Mundial. Atos vinham sendo articulados em 32 cidades espalhadas pelo Brasil, como em Brasília, onde um pequeno grupo protesta. No Rio de Janeiro, o protesto começou pequeno, com cerca de 50 pessoas por volta das 17h, em Copacabana.

Às 18h30, o grupo, que já contava com 70 pessoas, fechou um dos sentidos da avenida Atlântica, em Copacabana. O número de manifestantes decepcionou pela expectativa criada - havia mais policiais militares do que protestantes. Para chamar a atenção, os protestantes jogaram futebol no meio da pista e exibiram cartazes em inglês.

Duas horas depois, o grupo, que aumentou para 120 pessoas, chegou a Ipanema e começou a se dispersar sem nenhuma confusão. Porém, mais tarde, o Shopping Leblon e Teatro Oi Casagrande fecharam as portas pela chegada dos manifestantes que foram até o Leblon e ameaçaram iniciar um 'rolezinho'.

Em Goiânia, cerca de 100 pessoas caminharam pelo centro da cidade com cartazes criticando os gastos excessivos com o Mundial. O mesmo número de manifestantes também marcou presença em ato em Brasília, segundo a rádio CBN.

Curitiba também foi palco de protestos e há relatos de vandalismo contra o sistema de transporte público, com ao menos um ônibus destruído. Em Natal, no Rio Grande Norte, um grupo de manifestantes ocupou a BR-101 em protesto contra a realização da Copa do Mundo 2014 no Brasil.

O movimento se reuniu em frente a Arena das Dunas, onde jogaram futebol e gritaram palavras de ordem contra a realização do evento, como ocorreu em outras cidades-sedes no país. A via foi bloqueada.

Houve protestos em frente a Arena Amazônia, palco das partidas do Mundial em Manaus, e também na Praça 13 de maio, no centro da capital Recife, contra os gastos nos preparativos para a Copa de 2014.

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