Goleiro carrasco de Messi e CR7 se conforma por ficar fora da seleção

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres

  • Mowa Press

    Diego Alves chegou a ser titular na reta final da passagem de Mano Menezes pela seleção

    Diego Alves chegou a ser titular na reta final da passagem de Mano Menezes pela seleção

Poucos são os jogadores que podem se gabar de fazer Cristiano Ronaldo e Lionel Messi hesitarem – e sem mostrar as travas da chuteira. Titular do Valencia, da Espanha, o goleiro Diego Alves é dono de um impressionante índice de aproveitamento em pênaltis, com 13 defesas em 26 cobranças, incluindo as dos dois maiores jogadores de futebol da atualidade.

Ele é também um caso raro de brasileiro atuando com regularidade numa grande liga europeia. No entanto, desde que Luiz Felipe Scolari assumiu a seleção brasileira, em novembro de 2012, o ex-jogador do Atlético-MG foi convocado apenas uma vez (o amistoso de reestreia de Felipão, contra a Inglaterra, em Wembley), e ainda assim como reserva de Julio César.

Numa tacada só, perdeu o posto de titular, que conquistara na gestão de Mano Menezes, marcada pela convocação de mais de 10 atletas para a posição, e uma vaga no grupo que vai à Copa do Mundo – Felipão, que já garantiu Julio César, parece destinado a chamar Jefferson, Diego Cavalieri ou Vítor para os dois lugares restantes.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Alves mostra resignação com a decisão do treinador, mas diz ter a consciência tranquila sobre o rendimento mostrado nas sete partidas como camisa 1 da seleção. "Levei apenas um gol em sete jogos. Não acho que tenha comprometido o time em algum momento", lembra o goleiro.

UOL Esporte: Depois de toda a luta ser titular da seleção com o Mano, você sumiu da equipe com a chegada do Felipão. Foi surpresa?
Diego Alves: Na época em que o Felipão assumiu, vi uma entrevista do Parreira em que ele justificava minha ausência por eu não estar jogando. Não sei se ele se confundiu: fiquei no banco em alguns jogos, mas fui titular em 25 das 38 partidas do Valencia na Liga Espanhola. A decisão de quem é convocado vem do Felipão e da comissão técnica, tenho que respeitar. Mas fui titular da seleção com o Mano e levei apenas  um gol em sete partidas.

UOL Esporte: Esse gol foi contra a Colômbia, um dos melhores times que o Brasil enfrentou na época do Mano. Você acha que se a seleção tivesse enfrentado times mais fortes seu trabalho teria aparecido mais (N.R: Alves esteve ainda em campo contra Gabão, Egito, China, África do Sul, Iraque e Japão)?
Diego Alves: Não sei se foi por aí. Até porque o Japão é um time que o próprio Felipão elogiou muito na época da Copa das Confederações, mesmo sabendo que a gente tinha ganhado de 4 a 0 deles (em outubro de 2012). Estava me sentindo bem na seleção, fiz amizades e me sentia entrosado com o grupo. Estive na primeira convocação do Felipão, que já tinha escolhido o Júlio como titular dele, mas parei de ser chamado de uma hora para outra.

UOL Esporte: Com apenas um amistoso antes da Copa, você já se sente fora do Mundial?
Diego Alves: Tudo o que tenho de fazer é continuar trabalhando, porque minha realidade atual é apenas o clube, e o Valencia é uma equipe em que estou feliz e motivado a ajudar a melhorar na tabela (o time, que jogou a Liga dos Campeões de 2013, está apenas em oitavo lugar na tabela do Espanhol).  Respeito muito os goleiros que o Felipão tem chamado, e olha que o Fábio do Cruzeiro, um jogador que fez um belo Campeonato Brasileiro, também não conseguiu entrar no grupo. Goleiro é uma posição muito específica, é um cargo de confiança do treinador e acho que o Felipão já fechou quem vai levar à Copa.

UOL Esporte: Você é um caro esses dias de goleiro brasileiro atuando com mais regularidade numa grande liga europeia. Dá para estranhar que haja uma concentração de jogadores baseados no Brasil, com a exceção do Júlio, que está na Inglaterra?
Diego Alves: Saí do Brasil cedo, com 22 anos, depois de apenas 61 jogos pelo Atlético. Por isso sou mais reconhecido na Espanha. Mas estou feliz no futebol espanhol. Nunca voltaria para o Brasil apenas para ganhar reconhecimento ou visibilidade. Quero continuar crescendo tecnicamente, porque é assim que minha carreira vai evoluir que poderei ajudar o Valencia a conquistar títulos.

UOL Esporte: Mas a Europa não é um teste mais rigoroso para goleiros que o Campeonato Brasileiro?
Diego Alves: Na minha opinião, sim. O Campeonato Brasileiro hoje está diferente, mais valorizado e está dando mais visibilidade que antes. Mas o futebol é diferente da Europa, bem mais lento, não é tão disciplinado. Para os goleiros, especificamente, vejo a Europa mais atualizada. O futebol daqui exige mais, você precisa aprender a jogar mais adiantado, a usar bem mais os pés. Lembro que estranhei muito no começo. Mas o Jefferson, o Vítor e o Fábio são goleiros excelentes, mesmo jogando no Brasil. Só acho que aqui na Europa fiquei um goleiro mais completo.

UOL Esporte: Você se surpreendeu com a decisão do Felipão de garantir o Júlio na Copa apesar da falta de partidas no Queen's Park Rangers?
Diego Alves: Para todo mundo foi novidade o Felipão tê-lo garantido, mas o Júlio já demonstrou seu valor e foi campeão da Copa das Confederações com a seleção. Acho que até ele foi pego de surpresa pela convocação antecipada, mas vejo isso também como uma tática do Felipão para dar confiança ao goleiro que ele escolheu como titular. A gente torce pelo Júlio, que foi muito criticado em 2010, mas que é um excelente goleiro.

UOL Esporte: Você tem 28 anos, idade baixa para o um goleiro. Leva vantagem para a Copa de 2018, se é que isso serve de consolo?
Diego Alves: Todo jogador que participar de uma Copa. Mas ainda tem muito chão até 2018. Na vida a gente precisa fazer as coisas passo a passo. Há objetivos mais imediatos para mim. Quero renovar com o Valencia pelo menos mais uma vez (o atual contrato vai até junho de 2015) e sonho em voltar à Liga dos Campeões e ganhar títulos.

UOL Esporte: Para isso não será preciso sair do Valencia, que anda em dificuldades financeiras? Algumas vagas interessantes poderão abrir em breve, como no Barcelona, de onde Victor Valdés vai sair no meio do ano...
Diego Alves: O Valencia poderá ter um grande mudança em breve, porque há o interesse de um investidor (o bilionário de Cingapura Peter Lim). Eu amo morar em Valencia e estou feliz num clube que apostou em mim. Minha prioridade é ficar aqui. A Liga Espanhola também está mudando, esse ano o Atlético de Madri está aí, pau a pau com o Barcelona.

 

UOL Esporte: Seu xará e colega de futebol espanhol, Diego Costa, provocou polêmica com a naturalização espanhola. Se a oferta viesse, você pensaria numa mudança?
Diego Alves: A situação do Diego Costa é bem diferente da minha. Ele nunca passou por seleções de base, como eu, que ainda participei de uma Olimpíada. O Diego Costa veio do nada e fez a carreira dele na Espanha. Fez sua opção de jogar pela Espanha e acho que vai fazer falta à seleção brasileira. Mas era uma decisão que só ele poderia tomar. Mesmo se quisesse e pudesse, a Espanha tem muitos goleiros bons, ao ponto de o Iker Casillas, titular da seleção, ser reserva no clube dele e o titular, o Diego Lopez, sequer ser chamado pelo (treinador) Vicente Del Bosque.

UOL Esporte: Você adicionou nesta temporada o Diego Costa à lista de ilustres de pênaltis que defendidos. Messi e CR7 já ''pararam'' também. Virou ''carrasco'' dos atacantes?
Diego Alves: Um jornal da Espanha disse uma vez que eu e o Palop (ex-goleiro do Sevilla e hoje no futebol alemão) temos o recorde de 11 pênaltis defendidos na Liga Espanhola. Quem sabe eu não ultrapasso ele este ano (risos)... Sempre tive facilidade para pênalti, desde as divisões de base. Mas não sou de ficar estudando muito vídeo, essas coisas. Observo muito os jogadores de forma geral na hora da cobrança, porque ninguém bate do mesmo jeito o tempo todo. Ainda não levei gol do Neymar também. Ele ficou implicando comigo, de brincadeira, na hora do jogo com o Barcelona, dizendo que ia se criar. Mas em mim não fez gol (risos).

UOL Esporte: Algum truque psicológico para os pênaltis?
Diego Alves: Se te contar, não pego mais nenhum.

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