Juíza liberou obra da Arena Amazônia oito dias antes de acidente fatal

Leandro Prazeres

Do UOL, em Manaus

"A morte do operário poderia ter sido evitada se a Justiça tivesse atendido os nossos pedidos". A afirmação é do procurador regional do Trabalho Jorsinei Dourado do Nascimento, um dos integrantes do Ministério Público do Trabalho que pediu a interdição da obra da Arena Amazônia, em Manaus, no último sábado (14). Apenas oito dias antes do acidente que matou o operário Marcleudo de Melo Ferreira, 22, a juíza substituta da 12ª Vara do Trabalho Margareth Dantas Pereira Duque, rejeitou os pedidos do MPT para que a empresa Andrade Gutierrez cumprisse normas de segurança junto aos trabalhadores.

A morte de Marcleudo ocorreu na madrugada do último sábado (14) quando ele caiu de uma altura de 35 metros. O operário trabalhava na instalação dos refletores do estádio Arena Amazônia, que irá receber quatro jogos da Copa do Mundo de 2014, entre eles a partida entre Itália e Inglaterra. Logo após a sua morte, a Justiça do Trabalho, a pedido do MPT, decretou a interdição imediata de todas das obras que envolvam atividades em altura.

Em seu despacho, a juíza Margareth Dantas Pereira rejeitou os pedidos feitos pelo MPT e liberou a obra até que uma perícia fosse realizada nesta segunda-feira (16). A partir do resultado dessa perícia é que a juíza iria analisar se acataria os pedidos do MPT ou não. "Essa empresa tem sido reincidente nesse tipo de prática [desrespeito às normas de segurança]. Infelizmente, a perícia acabou chegando tarde demais", afirma Jorsinei.

De acordo com os relatórios de fiscalização do MPT, foram constatadas 64 irregularidades no canteiro de obras da Arena Amazônia. Entre as mais graves estão a ausência de proteção contra quedas e a não fixação de cabos de aço para proteger contra acidentes. Além disso, os operários da obra utilizavam cintos de segurança sem dispositivo de trava-quedas. A empresa também utilizava andaimes de forma irregular e deixou de instalar proteção coletiva nos locais com risco de queda. Mesmo depois da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), o MPT constatou que das 64 irregularidades encontradas no início do ano, 12 ainda não haviam sido resolvidas.  

A reportagem do UOL Esporte procurou a juíza Margareth Dantas Pereira Duque por meio dos telefones da 12ª Vara da Justiça do Trabalho, mas não obteve retorno.

Na noite deste domingo, a Unidade Gestora do Projeto Copa (UGP Copa), órgão do governo do Amazonas que administra as obras para a Copa de 2014, emitiu uma nota oficial informando que irá acatar a decisão da Justiça do Trabalho que suspende os trabalhos envolvendo operações em altura, mas que todos os outros serviços na arena continuarão normalmente a partir desta segunda-feira.

A Andrade Gutierrez, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não irá comentar a decisão da Justiça do Trabalho, que interditou a arena. 

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