Fifa volta à Bahia após protestos e faz sorteio da Copa em complexo isolado
Bruno Freitas e José Ricardo Leite
Do UOL, em São Paulo
A volta da Fifa (Federação Internacional de Futebol) a uma praça onde foi maltratada será agora bem diferente e mais segura. Da turbulência vivida em um hotel no centro de Salvador, há cerca de seis meses, para um distante complexo hoteleiro a 80 km da capital baiana. É assim que a entidade máxima do futebol volta ao estado no qual foi sofreu maior resistência popular durante a Copa das Confederações.
O sorteio que definirá os oito grupos da Copa do Mundo, na próxima sexta-feira, dia 6, será realizado na Costa do Sauípe, local isolado na região norte da Bahia e que pertence ao município de Mata de São João. Mas, por perto dos resorts, não há nenhum centro urbano. Apenas hotéis e pequenos vilarejos.
Situada à beira da estrada do Coco, que liga a capital Salvador até a região norte do estado, o complexo da Costa do Sauípe tem uma localização que dificulta possíveis manifestações populares por estar na beira de uma rodovia. Mas não há até agora nenhum movimento ou grupo que planeje algum tipo de protesto.
O clima agora é bem diferente do que a cidade viveu no evento teste para a Copa. Nas manifestações realizadas na capital baiana, após confrontos com a polícia nos arredores da Fonte Nova, o protesto migrou para a região do hotel onde membros da Fifa estavam hospedados.
Alguns manifestantes jogaram pedras contra dois ônibus oficiais da entidade. Houve também uma tentativa de invasão ao hotel, contida pelo Batalhão de Choque.
Protestos na Copa das Confederações
Em função do clima tenso, integrantes do estafe da Fifa que estavam prontos para visitar pontos históricos de Salvador, como o Pelourinho, cancelaram os passeios logo depois das ações violentas.
Os confrontos com a polícia foram no dia do primeiro jogo que a cidade recebeu, a vitória por 2 a 1 do Uruguai sobre a Nigéria. Entre os diversos motivos dos protestos, o principal era o questionamento contra padrões impostos pela entidade à cidade durante os dias de jogos, como o isolamento de parte da região dos diques, que leva à entrada da Fonte Nova.
Em determinados horários quando havia partidas da Copa das Confederações, o local só poderia ser transitado por quem tivesse ingressos para os jogos. O motivo do confronto entre manifestantes e policiais no dia dos protestos foi, inclusive, quando um grupo tentou furar a barreira policial para avançar à região dos diques.
Naquela oportunidade, o governador da Bahia, Jaques Wagner, revelou até ter recebido uma ligação da presidente Dilma Roussef com questionamentos sobre a segurança da cidade para o jogo que ocorreria dois dias depois do protesto, entre Brasil e Itália. Mas nada de grave ocorreu para aquela partida.
Agora, seis meses depois, o evento da Fifa volta a ir para um local mais afastado de um grande centro, embora a entidade em momento algum condicione isso a qualquer temor de segurança.
O sorteio que definiu as eliminatórias, por exemplo, foi realizado na Marina da Glória, no Rio de Janeiro.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia não informa oficialmente o número de pessoas envolvidas na segurança em torno do evento, que terá atividades no local a partir do próximo dia 2. Se limitou a informar até agora que toda o trajeto entre o aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, e o complexo de hotéis terá esquema especial.
Diz em comunicado que "além do patrulhamento aéreo, marítimo e terrestre, ações de inteligência e monitoramento das redes sociais também serão feitos pelas forças de segurança". O efetivo não deve ser dos menores. Serão gastos aproximadamente R$ 150 mil só para hospedagem de policiais federais no resort.
"Ficamos em primeiro lugar na avaliação da segurança durante a Copa das Confederações e tenho certeza de que iremos repetir o sucesso no sorteio dos grupos para o Mundial Fifa", disse o secretário Maurício Teles Barbosa.
FNT critica local distante
Grupo que tem grande por deputados e entidades da sociedade civil, a FNT (Frente Nacional de Torcedores) diz que não planeja nenhum protesto no local do sorteio, mas questiona a realização em um complexo hoteleiro distante da sociedade.
"Fica complicado estruturar um protesto lá na Costa do Sauípe. Onde está o povo? A própria escolha do local do sorteio já evidencia o que a máfia da bola pretende com essa Copa do Mundo: exclusão e elitização do futebol. Além de altos lucros para suas empresas parasitárias, senhoras do capital estrangeiro", falou o presidente da FNT, João Herminio Marques.
"Infelizmente, não faremos nada na Bahia. Porém, não estamos parados... 2014 promete muita luta e resistência a esse modelo excludente de futebol", completou Marques.
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