Livro sobre Barbosa revela churrasco com madeira de trave do gol de Ghiggia

Do UOL, em São Paulo

Nunca uma única jogada de futebol suscitou tanto debate e envolveu uma jornada quase filosófica por temas como nacionalismo, racismo e culpa individual. Diante da maior plateia reunida para testemunhar um jogo de futebol, um fatídico lance na decisão da Copa do Mundo de 1950 selou para sempre a sorte do goleiro Moacyr Barbosa.

É na história do goleiro marcado pela derrota na Copa em casa que se debruça o livro "Queimando as Traves de 50", do jornalista Bruno Freitas, repórter especial do UOL Esporte. A obra, que tem lançamento no Rio de Janeiro nesta segunda-feira, narra casos pitorescos envolvendo o impacto do Maracanazo. Uma delas é um episódio que parece lenda, em que Barbosa usou a madeira da trave do gol de Ghiggia para fazer um churrasco.

Pouco depois de se aposentar, em 1962, Barbosa foi admitido como funcionário do Maracanã, o palco de tantas jornadas, felizes ou frustrantes. Quando a Fifa ordenou a substituição mundial das traves de madeira pelos modelos de ferro, arredondados, a armação usada na Copa de 50 ficou obsoleta. Eis então que um diretor do estádio, Abelardo Franco, ofereceu o objeto como lembrança ao ex-goleiro.

Munido da lembrança física do momento mais triste de sua carreira, Barbosa teve uma das ideias mais originais que poderia conceber. O antigo goleiro da seleção usou a madeira da "trave maldita de Ghiggia" para aquecer um churrasco para seus amigos, no bairro de Ramos, subúrbio carioca.

A história do churrasco com as traves da Copa foi originalmente relatada por Barbosa ao jornalista Roberto Muylaert. Antigos conhecidos do ex-goleiro no bairro de Ramos confirmam o episódio, numa dessas histórias que poderia ter perfeitamente saído da cabeça de um roteirista de cinema.

"Queimando as Traves de 50" recolhe outros episódios rocambolescos, como o dia em que Barbosa fez um detrator pular de um trem em movimento. Foi na semana posterior à derrota para o Uruguai. O jogador se encaminhava para o interior, para se juntar ao atacante Ademir de Menezes em um retiro de descanso. Ao ouvir um torcedor dizer que gostaria de surrar o goleiro da seleção, Barbosa tirou o rosto de trás de um jornal e se apresentou: "por acaso o senhor está me procurando?". Neste instante, o valentão saiu de cena com um salto pela janela.

O livro também descreve um capricho do destino. Na partida decisiva do carioca de 1950, o primeiro então com o Maracanã à disposição para os times do Rio, Barbosa faz uma defesa elástica em um lance idêntico aquele que marcou sua vida, pegando uma bola venenosa de Maneco no contrapé. Apenas seis meses após a derrota na Copa, o goleiro enfim comemoraria um título no gramado mais famoso do país.

Recolhendo essas e outras histórias, o autor mergulhou no drama de Barbosa para tentar descrever o tamanho da cruz que o goleiro de 50 carregou. "A pena máxima no Brasil é de 30 anos, mas eu já paguei mais do que isso", costumava lamentar o ex-jogador, em vida, quando confrontado com a memória do chute traiçoeiro de Alcides Ghiggia.

Ao longo do livro vemos um raio-X sobre a derrota brasileira de 50, com o desastroso clima de festa antecipada que tomou conta da seleção, além de um diagnóstico técnico sobre a vitória uruguaia, construída por elementos que vão além de um suposto erro de goleiro. 

Mas o livro "Queimando as Traves de 50" evita o conceito mais óbvio que se tem sobre Barbosa e tenta enxergar o personagem como um todo. A obra descreve as façanhas do jovem goleiro do Ypiranga nos anos 40, em São Paulo, que um dia irritou Leônidas da Silva e despertou interesse do Corinthians.

A obra também conta como o elástico arqueiro negro virou um ícone da fase mais vitoriosa do Vasco da Gama, virando titular depois que um companheiro de posição tirou a sorte grande na loteria. No clube, Barbosa brilhou na conquista do Sul-Americano de 1948, parando o River Plate de Di Stéfano.  

No pós-Copa, o livro revela como o impacto do Maracanazo influenciou mais de uma geração de jornalistas, escritores e cineastas. Um pertinente convite de revisão da história como nação às portas do segundo Mundial no Brasil.

"Minha intenção foi ir além do lugar comum, da imagem consagrada de Barbosa como goleiro da Copa de 50. Quis mostrar ele como o grande goleiro de sua geração, venerado. Além disso, tentei ir a fundo no que significou para ele carregar a culpa que lhe atribuíram. Me impressionou em particular a amizade em que brasileiros e uruguaios daquele jogo cultivaram por décadas, em que imperava um código de cavalheiros: jamais falar sobre a partida", afirma o jornalista Bruno Freitas. 

O autor também foi até o Uruguai levantar detalhes pouco conhecidos sobre como o lado vencedor vê o histórico dia 16 de julho de 1950. O livro conta com depoimentos de figuras como o próprio Alcides Ghiggia, Oberdan Cattani, João Máximo, Teixeira Heizer, Geneton Moraes Neto, Roberto Muylaert e Jorge Furtado, entre outros.

O jornalista Sergio Cabral assina o texto de prefácio. A orelha fica por conta de Mauricio Stycer, repórter especial e crítico do UOL.   

LANÇAMENTO NESTA SEGUNDA, NO RIO DE JANEIRO

QUEIMANDO AS TRAVES DE 50 – glórias e castigo de Barbosa, maior goleiro da era romântica do futebol brasileiro

Autor: Bruno Freitas
Editora: iVentura
Nº de páginas: 151
Formato: 16 x 23 cm

Lançamento e sessão de autógrafos do autor

Quando: 25 de novembro de 2013, no Rio
Onde: Livraria Saraiva
(Av. Ataulfo de Paiva, 1.321 – Leblon)
Horário: 19h

 

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