Copa falha ao distribuir recursos e dá ao Sudeste 44% do investimento
Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo
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Evaristo Sá/AFP
Para cada R$ 2,25 investidos pelo governo federal na Copa do Mundo, R$ 1 vai para Rio, São Paulo ou Minas
O Sudeste recebe R$ 1 de cada R$ 2,25 investidos pelo governo federal em obras nas cidades-sede da Copa do Mundo. A região mais rica do Brasil concentra cerca de 44% de toda a verba destinada pela União à preparação dos municípios para receber o Mundial. O dado contraria o argumento de que a escolha de 12 sedes faria com que os investimentos públicos fossem melhor distribuídos por todo o país.
Cada uma das três sedes localizadas no Sudeste tem investimento federal estimado em R$ 1,9 bilhão, em média, quase três vezes mais do que o que foi direcionado pela União para os outros nove municípios que terão jogos da Copa. A verba recebida pelas outras cidades, em média, é de R$ 789,6 milhões.
"Quando foram selecionadas 12 cidades para sediar a Copa, pensamos que isso poderia servir para dispersar um pouco a distribuição dos investimentos públicos. Mas não foi o que nós verificamos", disse a professora Olga Firkowski, pesquisadora da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e do Observatório das Metrópoles, durante seminário sobre a transparência de gastos públicos na última semana.
O levantamento do UOL Esporte foi feito com base nos dados disponibilizados pelo governo federal no Portal da Transparência e leva em conta financiamentos feitos pela União aos estados e municípios, além dos recursos aplicados de forma direta.
Uma das explicações apontada por especialistas para a concentração de investimento no Sudeste é o grande número de habitantes na região. Quando se divide o total investido pela população das cidades-sede, a área fica atrás das outras. O governo federal repassou R$ 281 por habitante no Sudeste. No Nordeste, o investimento foi de R$ 482,91 por pessoa.
O governo federal alega que não é possível fazer comparações entre as regiões, pois a destinação de recursos não foi pensada levando-se em conta cada área do país, mas sim os planos dos governos estaduais e municipais, a complexidade de cada obra e a necessidade de cada intervenção.
'Copa pode ser cabo eleitoral'
Para a oposição, o levantamento mostra que o governo fez uma escolha política ao concordar com as 12 sedes e priorizou os investimentos no Sudeste justamente por ser a região com maior número de eleitores. "A Copa pode ser o maior cabo eleitoral do Brasil, ainda mais se a seleção brasileira ganhar o hexa", afirma o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
A definição das 12 sedes, nas cinco regiões do Brasil, "consolidou a política de nacionalização da Copa do Mundo", segundo nota enviada pelo Ministério do Esporte. O conceito, afirma o governo, será aproveitado também nas Olimpíadas, quando deverão ser feitos investimentos em infraestrutura esportiva em todo o território brasileiro, e não só no Rio.
Crítico dos gastos públicos na organização da Copa, Dias diz que, com R$ 25 bilhões, o País daria escola para todas as crianças e adolescentes com idade entre 3 e 17 anos que, por algum motivo, se afastaram dos estudos. "Foi prometida a Copa dos investimentos privados, mas não é isso que estamos vendo. A Fifa vai ganhar bilhões e nós vamos ficar com o prejuízo."
Ao todo, devem ser consumidos R$ 26 bilhões de dinheiro público, envolvendo financiamentos do governo federal e verbas aplicadas por estados e municípios. Cerca de R$ 9 bilhões são destinados a obras de mobilidade.
Em nota, o governo afirmou que "os investimentos federais e os financiamentos federais em obras de infraestrutura nas 12 cidades-sede da Copa têm como objetivo melhorar a vida dos brasileiros. A destinação de recursos leva em conta a finalidade (ampliação de via, construção de BRT ou reforma em terminal aeroportuário) e a complexidade de cada obra (VLT, construção de viaduto e reforma de ponte)".
A nota ainda lembrou que o governo tem se esforçado em reduzir as desigualdades sociais. O Brasil "elevou 37 milhões de brasileiros para a classe média entre 2002 e 2012 e se transformou na sétima maior economia do mundo. A economia da Região Nordeste, por exemplo, foi uma das que mais cresceu no período."