De olho no cofre

Secretarias da Copa concentram orçamento alto e funções de outras áreas

Aiuri Rebello, Tiago Dantas e Vinícius Segalla

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

Estados e municípios criaram secretarias ou comitês para acompanhar o andamento das obras e gerenciar o investimento público nos projetos relacionados à Copa do Mundo. Em algumas cidades, esses órgãos viraram super-secretarias, com orçamento alto e responsabilidades que, em geral, competem a outras pastas. A criação de uma grande estrutura, porém, nem sempre tem influência direta no bom andamento das obras e dos contratos assinados.

Em Cuiabá, por exemplo, a Secopa-MT (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo do Mato Grosso) é responsável pela construção da Arena Pantanal, orçada atualmente em R$ 540 milhões. Compete à pasta, portanto, administrar os recursos vindos do governo federal e pagar os fornecedores. O valor equivale a quase 5% do orçamento de todo o estado do Mato Grosso para 2013, estimado em R$ 11,6 bilhões.

O orçamento inchado não impediu a obra de sofrer atrasos e enfrentar, em outubro, denúncias de superfaturamento na licitação para compra de cadeiras para o estádio. Embora não pague diretamente outras intervenções, como o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), por exemplo, a Secopa-MT é responsável por acompanhar o andamento dos trabalhos. Em outubro, o governo admitiu que a intervenção não estará pronta até a Copa.

Com um orçamento de R$ 30,6 milhões em 2013, a Secopa-BA (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo na Bahia) é a gestora do contrato do Estado com o consórcio que administra a Arena Fonte Nova e responsável pelas polêmicas estruturas temporárias da Fifa no estádio. Centraliza também a liberação de recursos para reforma de locais candidatos a centros de treinamento oficiais de seleções, como o Estádio Antonio Carlos Magalhães, em Porto Seguro, orçado em cerca de R$ 3 milhões.

A missão da Secopa-RN (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo no Rio Grande do Norte) é coordenar as ações e informações de outros órgãos do governo relativos à Copa de 2014. A principal obra sob sua supervisão é a Arena das Dunas, construída em uma PPP (Parceria Público Privada) entre o governo do estado e a construtora OAS. O BNDES financia R$ 250 milhões dos R$ 350 milhões da obra. O governo do RN paga o resto.

O poder exercido pelas secretarias criadas exclusivamente para a Copa nem sempre se manifesta por meio de orçamentos inchados. No Amazonas, por exemplo, a UGP Copa (Unidade Gestora do Projeto Copa) tem verba destinada apenas para o pagamento de funcionários. O coordenador do grupo, Miguel Capobiango, porém, acompanha todos os assuntos que, de alguma forma, estão relacionados ao Mundial. Em agosto, por exemplo, Capobiango estava no meio de uma negociação para encontrar uma área para o estacionamento dos veículos da Fifa e dos meios de comunicação que farão a cobertura dos jogos em Manaus.

A articulação política é também a função principal assumida pelas secretarias formadas nas cidades de Salvador, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo, bem como nos respectivos comitês estaduais. Consultadas pelo UOL Esporte, todas as secretarias dessas cidades alegaram que dispõe de um orçamento pequeno, destinado ao pagamento dos seus funcionários e custos operacionais, como pagamento de luz e xerox, por exemplo.

A secretaria paulistana é chefiada pela vice-prefeita, Nádia Campeão. Embora não seja responsável por contratar as obras previstas para a cidade, Nádia frequentemente acompanha o andamento dos serviços, mesmo aqueles sob responsabilidade do governo do Estado. Já o comitê montado pelo governo do Estado para acompanhar o preparativo para a Copa, por sua vez, é ligado à Secretaria Estadual do Planejamento e, entre outras coisas, tem a função de identificar oportunidades econômicas que podem surgir em decorrência do evento.

A Secopa-DF (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo do Distrito Federal) é responsável por administrar o estádio Mané Garrincha e sua agenda de eventos, além de questões relativas ao Mundial como a sinalização específica e alinhamento de ações com a Fifa. A construção do estádio e as obras complementares no seu entorno, a um custo de R$ 1,7 bilhão, são de responsabilidade da Terracap, empresa estatal do DF dona da arena.

De acordo com o governo, a Secopa-DF não teria orçamento próprio não fosse a pasta ter pendurado em si um programa social de qualificação profissional, o Fábrica Social. O programa conta com orçamento de R$ 21 milhões em 2013, sem nenhuma relação com o mundial futebolístico.

O Rio de Janeiro não criou uma secretaria específica para centralizar as ações e planejamento para a Copa do Mundo no estado nem no município. As obras pactuadas para o Mundial, como a reforma do estádio do Maracanã -- que custou cerca de R$ 1 bilhão antes de ser transferido para o Consórcio Maracanã, vencedor do leilão de concessão -- são executadas por secretarias que já existiam.

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