De olho no cofre

"Pagaram R$ 80 mi em propina para vencer a licitação", diz assessor do governo de MT

Vinícius Segalla*

Do UOL, em São Paulo

  • Arte UOL

    Assessor do governo de MT diz que não tem "ninguém bonzinho" na concorrência pelo VLT

    Assessor do governo de MT diz que não tem "ninguém bonzinho" na concorrência pelo VLT

O mineiro Rowles Magalhães Pereira da Silva, atualmente exercendo o cargo comissionado de assessor especial da vice governadoria do Estado de Mato Grosso, afirmou ao UOL Esporte que há uma série de irregularidades no processo de licitação para a construção do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).

Vencedor de licitação do VLT de Cuiabá era conhecido um mês antes do resultado

  • Arte/UOL

    A licitação para definir o consórcio construtor do VLT de Cuiabá, atualmente orçado em R$ 1,47 bilhão, tinha o seu vencedor conhecido pelo menos um mês antes da entrega das propostas dos consórcios concorrentes e da abertura dos envelopes.

    No dia 18 de abril deste ano, uma mensagem cifrada publicada no jornal Diário de Cuiabá revelou que o Consórcio VLT Cuiabá sairia vencedor do certame. LEIA MAIS

No dia 22 de maio deste ano, o Consórcio VLT Cuiabá, formado pelas empresas Santa Bárbara, CR Almeida, CAF Brasil Indústria e Comércio, Magna Engenharia Ltda e Astep Engenharia Ltda, venceu a licitação, com uma proposta para construir e colocar em operação o sistema ferroviário por R$ 1,47 bilhão.

Um mês antes da publicação do vencedor, no dia 22 de abril, Rowles disse ao UOL Esporte que o Consórcio VLT Cuiabá sairia vencedor. Afirmou também que ele próprio negociara a propina para que o consórcio ficasse com a obra, no valor de R$ 80 milhões.  E que, ao fim das negociações, todos os consórcios concordaram em realizar propostas de valor superior ao do consórcio vencedor.

Rowles procurou a reportagem do UOL Esporte pela primeira vez em 8 de agosto de 2011, quando ainda não era assessor especial do governo, e sim representante de um fundo de investimentos, o Inifinity, que doou um estudo de viabilidade do VLT de valor estimado em R$ 14 milhões ao governo de Mato Grosso. O estudo, feito pela empresa estatal portuguesa Ferconsult, seria uma moeda de troca para que empresas ligadas a Rowles fossem escolhidas para tomar parte na construção da obra.

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O previsível Brasil

Contrariado pelos rumos que a licitação do VLT tomava dentro do governo de Mato Grosso, opostos a seus interesses, Rowles procurou o UOL Esporte a fim de denunciar supostas ilegalidades cometidas pelos que coordenavam o processo.

O agora assessor especial do governo mato-grossense jamais revelou sua identidade à reportagem, apresentando-se apenas como João, e dizendo ser uma pessoa que tinha seus interesses em jogo e que estaria disposto a denunciar aqueles que o haviam traído.

  • Fernando Donasci/UOL

    Rowles Magalhães Pereira da Silva (esquerda) se encontra com repórter do UOL Esporte em São Paulo; assessor decidiu denunciar suposta fraude em licitação porque seus interesses estariam sendo contrariados

A reportagem, porém, descobriu quem era o denunciante e que o mesmo possuía um cargo no governo.  A partir daí, passou a gravar as conversas com Rowles. Entendendo tratar-se a fonte de um funcionário do Estado de Mato Grosso que age contrariamente ao interesse público, tentando utilizar a imprensa para fazer prosperar as negociatas de que participa, o UOL Esporte decidiu por romper a relação jornalista-fonte.

Há cerca de um mês, a reportagem informou Rowles Magalhães Pereira da Silva de que era conhecedora de seu nome verdadeiro e de suas relações com o governo de Mato Grosso.  Informou também que tinha gravado as conversas que foram travadas entre o assessor especial e o repórter do UOL Esporte. Por fim, informou que o conteúdo dessas gravações seria publicado, e perguntou a Rowles se ele teria algo a dizer. O assessor especial do governo de Mato Grosso, então, deixou de atender às ligações do UOL Esporte. Leia e ouça, abaixo, às principais denúncias de Rowles Magalhães Pereira da Silva a respeito do processo de licitação do VLT de Cuiabá.

Concorrência de cartas marcadas 1

Neste trecho, o assessor especial do governo de MT afirma que foi ele quem organizou a concorrência de cartas marcadas pela obra do VLT de Cuiabá. Ele conta que organizou uma viagem do governador de Mato Grosso, junto com uma comitiva de deputados estaduais, em maio do ano passado, para conhecer os investidores portugueses que estavam dispostos a construir o VLT. No mesmo trecho, Rowles revela, ainda, que coordenou toda a concorrência, além de ter formado todos os consórcios que participaram da licitação.

Concorrência de cartas marcadas 2

O assessor especial do vice governador de Mato Grosso relata que conhecia os valores das propostas que seriam feitas no processo de licitação do VLT. Ele conta que revelou ao consórcio Transvia Cuiabá, formado pelas empresas S/A Paulista Construções e Comércio e Isolux Projetos e Instalações, entre outras, o valor da proposta que seria apresentada pelo consórcio VLT Cuiabá, formado pelas empresas CR Almeida e Santa Bárbara. Apesar disso, o Transvia Cuiabá ofereceu proposta superior à do VLT Cuiabá, porque teria feito um acordo que envolve uma licitação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

R$ 80 milhões de propina

Aqui, Rowles afirma que a empresa CR Almeida, do consórcio vencedor, ofereceu R$ 80 milhões em propina para os funcionários do governo de Mato Grosso para sair vencedora da licitação da obra, de R$ 1,47 bilhão.

 

"Ninguém entrega o VLT a tempo da Copa"

Neste trecho, Rowles Magalhães Silva afirma que o VLT não será entregue a tempo para a Copa. Ele afirma que a empresa do consórcio responsável pela construção dos carros ferroviários (CAF Brasil Indústria e Comércio) assinou com as construtoras do consórcio (Santa Barbara e BR Almeida) um contrato de gaveta (não registrado em cartório) em que as empreiteiras se responsabilizam por pagar por qualquer multa que seja gerada pelo atraso na entrega do sistema.

A CAF nega com veemência a existência de qualquer contrato de gaveta, e afirma ter total condições de entregar os trens no prazo previsto em contrato.

 

"Falei para o secretário: se vira!"

Aqui, Rowles descreve sua conversa com o secretário da Secopa-MT, Maurício Guimarães, em que ele cobra que o titular da pasta encontre uma solução para atender aos interesses da empresa portuguesa Ferconsult, que teria doado o projeto de viabilidade do VLT para o governo de MT com a promessa de que seria chamada para fazer parte de uma PPP (parceria público-privada) que tocaria a obra. A doação foi feita, mas não foi feita uma PPP, e sim uma licitação, e a Ferconsult desistiu de concorrer em qualquer consórcio, por ser autora do projeto de viabilidade e temer uma impugnação de sua participação.

 

"Ninguém é bonzinho"

Aqui, Rowles afirma que o consórcio que ficou em terceiro lugar (Transvia Cuiabá) na disputa, antes de ter supostamente acordado com o consórcio vencedor, chegou a oferecer R$ 60 milhões de propina para ficar com a obra.

* Colaborou Adriana Vandoni, especial para o UOL, em Cuiabá

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