Jornalista, engenheiro e mais dez imigrantes haitianos viram operários na reforma do Mineirão
Do UOL, em São Paulo*
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Sylvio Coutinho/Divulgação
Haitianos estão há um mês em Belo Horizonte e ganham cerca de R$ 1.200 por mês
Um grupo de 12 trabalhadores haitianos legalizados integra a equipe que trabalha na reforma do estádio Mineirão, em Belo Horizonte. Atualmente, eles realizam a tarefa de perfuração do concreto para instalação das cadeiras. Recebendo salários que ficam em torno de R$ 1.200, parte deles trabalhava em profissões como jornalista e engenheiro no Haiti, mas agora está na obra do Mineirão porque foi a melhor opção que encontrou no Brasil.
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Grupo está na capital mineira há cerca de um mês, após passagem por várias cidades do país
Estão na capital mineira há cerca de um mês, após passagem por várias cidades do país, como Tabatinga (DF), Manaus (AM), São Paulo e Rio de Janeiro. Todos eles são vítimas da devastação provocada pelo terremoto de janeiro de 2010 no Haiti.
Parte deles frequentou universidade, fala mais de dois idiomas, com prevalência do crioulo, e vem da cidade haitiana de Gonaives. Um deles é jornalista. ?Fui avisado por um amigo que minha esposa havia morrido. Trabalhava numa rádio de Gonaives e tinha uma rotina tranquila. Depois da tragédia, resolvi sair do país para reconstruir minha vida. Foi uma viagem de oito dias até chegar ao Brasil?, conta Wilkens Eustache, de 28 anos.
O professor de engenharia mecânica Monexanti Noel, 29 anos, deixou o filho de 5 anos e a mãe no Haiti para chegar ao Brasil com ajuda financeira do irmão. ?A vida lá está muito difícil. Escolhi o Brasil porque há trabalho?, diz. A forte demanda por mão de obra pela qual passa o país também foi determinante na escolha de Jocelyn Dorsainvil, de 28 anos. Ele perdeu o pai e a esposa no terremoto. Sua viagem do Haiti ao Brasil durou oito dias. ?Estou reconstruindo minha vida já há um ano no país, sempre com trabalho. Graças à ajuda de um padre em Manaus, consegui chegar até São Paulo, onde trabalhei numa gráfica?, lembra.
O pai de Evens Deshommes, 22 anos, mora em Miami, mas ele preferiu o Brasil. ?Não quis os Estados Unidos porque a situação aqui no Brasil está melhor. Achei São Paulo muito grande e fria. Belo Horizonte me parece tranquila?, conta o jovem, que está há nove meses no país. O terremoto o fez perder dois primos e abandonar a faculdade de ciência da informática no Haiti. O secretário interino da Secopa Fuad Noman contextualiza a chegada dos haitianos. ?A presença do grupo reflete o momento importante que Minas Gerais vive. É muito gratificante dar oportunidade de trabalho aqueles que sofreram com tamanha catástrofe, o que engrandece ainda mais essa obra monumental que será orgulho de todos nós mineiros?, disse.
Dieu Lifete Pierre, 33 anos, tem experiência em construção civil. Trabalhava como pedreiro em Santo Domingos, na República Dominicana, onde vive a mulher e os três filhos. Sua família financiou o custo da passagem ao Brasil de cerca de R$ 3 mil. ?Estou no Brasil desde outubro. Fiquei em Tabatinga dois meses sem trabalho. Depois passei por Manaus e São Paulo. Finalmente, com ajuda de um padre, cheguei a Belo Horizonte. Foi uma trajetória bem difícil?, avalia.
O diretor-presidente da Minas Arena, Ricardo Barra, explica o caráter humanitário da contratação. ?Um de nossos empreiteiros identificou este grupo por meio de uma organização não-governamental. Muitos perderam família, trabalho e moradia com o terremoto de 2010. Apostamos que o novo trabalho no Mineirão possa devolvê-los a esperança por um futuro mais promissor?, conclui Barra. O Ministério da Justiça estima em 4.000 o número de haitianos que entraram como imigrantes no país em 2011.
* Com informações de Alexandra Martins, da Secopa-MG