Bebeto é membro do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL) há quase três meses. Empolgado com a missão de ajudar na realização do Mundial no Brasil, o ex-jogador e agora deputado estadual tem se desdobrado para cumprir com suas obrigações na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e no Conselho Administrativo do comitê.

O calmo baiano tem uma intensa agenda de viagens a cidades-sede do torneio e "entrou de cabeça" na organização da Copa. Trabalha muito para fazer do Mundial do Brasil o melhor de todos os tempos e enfrenta até dilemas pessoais para garantir que a Copa será perfeita.

Um desses dilemas diz respeito à Lei Geral da Copa, que prevê a liberação da venda de bebidas alcóolicas em estádios do torneio. Religioso, Bebeto tem "pavor" bebidas. Em entrevista exclusiva ao UOL Esportes, ele disse inclusive que, por ele, o Mundial não precisaria ter cerveja. "Por mim, se não tivesse, eu estaria tranquilo."

Mesmo assim, ele diz que apoia a liberação do álcool porque isso é um compromisso do governo com a Fifa. Como político, Bebeto já disse que votaria a favor da Lei Geral. Também como político, afirmou que pretende explicar a seu ex-parceiro Romário seu trabalho no COL para que o deputado federal entenda que a Copa do Mundo será uma "oportunidade única" para o Brasil.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Bebeto ao UOL, concedida em seu escritório, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro:

UOL: O deputado Romário já falou que a Copa do Mundo de 2014 será uma "roubalheira". Você é membro do COL. Você e Romário jogam em times diferentes hoje?

Bebeto: Por incrível que pareça (risos). Ele tem a opinião dele e eu tenho minha. Vou ser sincero: minha opinião é totalmente contrária. Eu discordo totalmente dele. Eu penso em realizar uma ótima Copa do Mundo. Não vou medir esforços para isso.

UOL: Você já teve oportunidade de explicar seu trabalho para ele?

Bebeto: Ainda não, mas eu vou ter. Quando a gente precisar dele, ele vai ajudar. Tenho um carinho muito grande por ele. Somos amigos até hoje e somos parceiros ainda.

UOL: Como você se sente com as críticas de Romário à preparação do Brasil para a Copa do Mundo? É seu amigo criticando seu trabalho.

Bebeto: Ele jamais ele fala de mim. Ele conhece minha história, sabe que não tem esquema comigo. Por isso que eu digo que haverá a oportunidade para eu explicar tudo para ele.

UOL: Você entrou no COL em um momento em que se falava muito da saída de Ricardo Teixeira. Como foi a negociação com ele?

Bebeto: O Ricardo Teixeira tinha me ligado perguntando sobre o COL. Cheguei a pensar se eu aceitaria ou não, e aceitei. No em que assumi, todo  mundo ficou perguntando: "pô, o Ricardo vai sair?". Do jeito que ele falou comigo, ficou dando risada, brincando com a gente, eu jamais iria imaginar que ele fosse sair. Mas todo mundo ficava perguntando e eu dizia: "Meu irmão, eu estou aqui para trabalhar". Recebi o convite e estou muito feliz. Para mim é um orgulho trabalhar em prol do Mundial, para gente tentar fazer o melhor Mundial de todos os tempos. Este é meu objetivo. Eu não vou medir esforços para isso. Não quero receber um cargo do COL e não fazer nada. Eu quero trabalhar, e é o que eu tenho feito. 

UOL: Você foi pego de surpresa com a saída de Teixeira?

Bebeto: Fui pego de surpresa. Eu e o Ronaldo [ex-jogador e membro do COL]. Ninguém sabia de nada.

UOL: Sua chegada no COL foi tratada por algumas pessoas como uma manobra de Teixeira para desviar as atenção das críticas a ele.

Bebeto: Nós não podemos esquecer o trabalho de Ricardo Teixeira pela seleção brasileira. O Brasil conquistou duas Copas durante a presidência dele na CBF. O resultado foi maravilhoso. A única coisa que tenho que falar dele é isso. 

UOL: Por que aceitou entrar para o COL?

Bebeto: As pessoas não sabem o que é uma Copa do Mundo. Eu participei de três. Eu sei o que é uma Copa para um país, para um povo. Eu cito a Espanha, que sediou a Copa em 1982, como exemplo. Depois da Copa, a Espanha se modificou por completo. O Brasil é a sexta economia do mundo. Temos que aproveitar essa oportunidade. O legado que a gente vai deixar para nosso povo é tremendo.

UOL: O que achou das cidades que visitou?

Bebeto: Fui a Natal e Cuiabá. Em Natal, eu fiquei um pouco preocupado porque o negócio está um pouco devagar. O estádio ainda não levantou. Cuiabá me surpreendeu. Fiquei impressionado com o que vi. 

UOL: Salvador e Recife estarão na Copa das Confederações?

Bebeto: Em Salvador, o pessoal está trabalhando direto, o dia todo. Aquilo cresceu de um jeito... Não vai ter problemas. Recife eu fiquei um pouco preocupado também. Mas os governos sabem da importância da Copa das Confederações. A gente está vendo essa motivação.

UOL: Você é deputado estadual no Rio de Janeiro. A construtora Delta anunciou a saída de duas obras da Copa no estado. Isso te preocupa?

Bebeto: Não vai ter problema. No contrato, está acertado que, se sair uma empresa, as outras assumem a obra. Então, não vai ter problema. 

UOL: O caso da Delta levanta preocupação quanto à legalidade das contratações.

Bebeto: A Delta é uma grande empresa. Mas, se tem suspeitas, que seja apurado. Se tiver alguma coisa errada, ela tem que pagar.

UOL: O custo dos estádios já subiu R$ 1 bilhão desde 2010. O que você acha disso?

Bebeto: É difícil, mas é o governo que pode responder. O COL está ali para cobrar a obra, mas não tenho como responder isso.

UOL: Você, como deputado, o que acha da Lei Geral da Copa?

Bebeto: Vai ser aprovada. Me perguntaram um dia da questão da bebida alcóolica. Eu não bebo e não fumo. Sou servo de Deus. Mas isso é um compromisso que o presidente assinou com a Fifa. Em todas as Copas do Mundo teve bebidas alcóolicas.

UOL: Há um compromisso, mas é mesmo preciso a bebida alcóolica?

Bebeto: Eu tenho pavor deste negócio de bebida alcóolica. Eu vou ser sincero, por mim, se não tivesse, eu estaria tranquilo. Mas é um compromisso.

UOL: Gostaria de poder jogar essa Copa no Brasil?

Bebeto: Eu não tive essa felicidade. Eu tive a Copa América, em 1989. Eu fui eleito o melhor jogador da Copa América e fui artilheiro. Já pensou eu ter uma oportunidade de jogar um Mundial aqui? Eu ia fazer de tudo para o Brasil conquistar. Agora, estou tendo essa oportunidade de fazer isso como membro do COL. Para mim, vai ser a mesma coisa. Se o Brasil ganhar então, aí eu entrei para história.

UOL: O Brasil vai ganhar?

Bebeto: Vai. Todo mundo reclama: "a gente ainda não tem uma seleção". Para mim, já tem. 

UOL: Quem está nessa seleção?

Bebeto: Aí eu não vou falar (risos). Mas ninguém está garantido. Todo mundo fala do Neymar. Ele não é mais promessa, é realidade, mas até lá tem muita coisa ainda.

UOL: O que você acha do trabalho do Mano?

Bebeto: Qualquer que fosse o treinador que assumisse, teríamos problema. Estamos em um período de renovação. Só que no nosso país a cobrança é muito grande. Ser treinador da seleção brasileira é muito difícil. Temos que ter um pouco mais de paciência. Deixe o Mano trabalhar. Só uma coisa que me preocupa é que nós não estamos jogando as Eliminatórias. Então, temos que estar jogando sempre. Jogar contra seleções fortes.

UOL: A cobrança pode atrapalhar o Brasil em 2014?

Bebeto: A pressão vai existir, mas é maravilhosa. Eu estava doido para jogar uma Copa no meu país. Eu queria essa pressão do meu lado. Eu ia dar carrinho, correr atrás, dar o sangue.

UOL: Você vai concorrer a reeleição para deputado estadual?

Bebeto: Vou. Eu não posso parar. Eu conheci a política por meio do meu cunhado Luiz Fernando Petra, que foi assinado em 2002. Eu sempre achei a política um meio sujo e corrupto, mas o Duda Petra, meu outro cunhado, conseguiu me convencer a entrar. Fui eleito. Quando eu cheguei Assembleia eu vi que tem muita gente querendo fazer.

UOL: Você almeja algum cargo específico? Prefeito, por exemplo.

Bebeto: Não se sabe o dia de amanhã. Eu estou aí, fazendo meu trabalho. Isso depende muito de partido. É difícil eu falar. Está cedo.

UOL: Pretende assumir algo na CBF? 

Bebeto: Minha preocupação maior agora é com a Copa do Mundo. Eu não posso pensar em outra coisa. Quando você tem um objetivo e pensa em outra coisa, você sai do foco e não faz nem uma coisa nem outra. Quando eu me propus a ser membro do COL e aceitar o convite, aí eu me cai de cabeça e vou com tudo. Quero focar nisso.