Herói do Brasil ignorou função e jogou para arquibancada

Tim Vickery

Do Rio de Janeiro para a BBC Brasil

  • AP Photo/Themba Hadebe

A Copa do Mundo no Brasil chegou ao fim com um bom resultado. A Argentina foi um adversário mais difícil do que muitos imaginavam que iria ser para a Alemanha na final no Maracanã, e mostrou uma agressividade ofensiva que poucos previram.

Poucos jogadores argentinos tiveram oportunidades perdidas para lamentar. Mas os alemães, sem dúvida, mereceram ser os primeiros europeus a vencer neste lado do Atlântico.

Eles tiveram que suar para chegar lá. Primeiro, enfrentaram três adversários difíceis na fase de grupos sob o calor intenso do Nordeste - duas partidas tiveram início às 13h.

Depois, fizeram a longa viagem a Porto Alegre, onde experimentaram o frio do inverno gaúcho e enfrentaram a Argélia. Daí, vieram os peso-pesados. Nas quartas de final, jogaram contra a França, vista por muitos como o melhor time europeu. E claro, o time derrotou as duas potências sul-americanas, na América do Sul. A vitória por 7-1 sobre o Brasil certamente ficará como um dos placares mais surpreendentes.

Cada jogo tem sua própria história, mas a competência da defesa argentina coloca o péssimo desempenho brasileiro sob uma perspectiva afiada e implacável. Na ausência do capitão Thiago Silva, a defesa do Brasil entrou em colapso com uma facilidade espantosa - e, ainda assim, o jogador a ser o maior culpado, aparentemente, continua a ser o mais popular da equipe.

Antes da disputa pelo terceiro lugar contra a Holanda, quando o time do Brasil foi anunciado, o maior aplauso da torcida foi para David Luiz. Não muito conhecido no país antes da Copa das Confederações do ano passado, David Luiz tornou-se rapidamente uma figura de culto. Fãs brasileiros amam seu estilo de jogo - uma tirada de bola espetacular na final contra a Espanha o ajudou bastante - e a maneira como ele se expressa.

Bem articulado e educado, ele foi o primeiro jogador da seleção a falar sobre os protestos que ocorriam em todo o país no ano passado. Suas palavras ajudaram a construir uma ponte entre os fãs e a equipe.

Porém, o que aconteceu a partir daí serve como advertência sobre os perigos da popularidade. O desempenho de David Luiz contra a Alemanha foi a pior coisa que eu já vi de um jogador de alto nível numa partida importante.

Tal julgamento não é só porque ele cometeu erros. Todo mundo erra. Ele vem da opinião de que David Luiz perdeu de vista suas verdadeiras prioridades.

Ele não é um defensor natural. Seus instintos são de ir para a frente, contribuir com o ataque. Neste jogo, porém, ele teve que manter-se sob controle. Thiago Silva, o organizador da defesa, desfalcava o time. David Luiz assumiu o papel de capitão e, em teoria, o de pivô defensivo.

Infelizmente, porém, ele não quis fazê-lo. Minha suspeita é que essas tarefas eram muito pequenas para o auto-nomeado herói da nação. Ele deve preferir fazer coisas que lhe dão mais fama e atenção.

O Brasil sofreu um gol aos 10 minutos contra a Alemanha. O erro parece ser atribuível a David Luiz. Tais erros são perdoáveis. Mas é mais difícil desculpar o que veio depois. Faltavam 80 minutos. Tempo mais do que suficiente para o Brasil reorganizar seu time e voltar à partida. Eles precisavam de uma liderança calma e disciplina defensiva de seu capitão. Exatamente o que não tiveram.

David Luiz passou grande parte do resto do jogo fazendo cobranças. Exatamente o oposto do que era preciso. Ele não estava jogando para seus companheiros. Estava jogando para as câmeras.

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