A França vive uma euforia com "duas" seleções na Copa da Mundo. E as duas jogam nesta segunda-feira.

Às 13h (horário de Brasília), a França enfrenta a Nigéria para chegar às quartas de final e tenta se redimir após o vexame de 2010, quando saiu na primeira fase.

Já às 17h, a Argélia entra em campo, em um jogo que será acompanhado de perto na França, já que os argelinos formam a maior comunidade imigrante do país e estão vibrando com a qualificação inédita para as oitavas de final.

Muitos acreditam que o time tem, sim, condições de surpreender e vencer a tricampeã mundial Alemanha.

A "febre argelina" nesta Copa do Mundo tomou conta das ruas em várias cidades da França. Em Paris, milhares de argelinos levaram bandeiras para celebrar na avenida Champs-Elysées. Em outras partes do país, houve festas e buzinaços.

Os argelinos têm celebrado o desempenho de sua seleção bem mais do que os franceses festejaram os resultados do time nacional. Tão intensamente que em muitas ocasiões a celebração ficou marcada por atos de violência.

Na periferia de Paris e também em Lyon, em Marselha e no norte da França, carros foram queimados, houve confrontos com a polícia e saques a lojas após as partidas da equipe. A polícia francesa prendeu 74 pessoas só na noite de quinta-feira, depois do jogo da Argélia contra a Rússia, que garantiu a classificação para as oitavas.

Ramadã durante a Copa

As oitavas de final da Copa coincidiram com o Ramadã, que começou neste domingo. Ao longo do mês, considerado sagrado, os muçulmanos jejuam desde a alvorada até o pôr do sol.

Para quem pratica esportes, no entanto, há uma flexibilidade em relação à ingestão de alimentos e líquidos durante o dia, justamente por conta do esforço físico.

A comissão técnica do time argelino, por exemplo, conta com um médico especializado no jejum de jogadores.

"O mais duro é a hidratação. Alguns jogadores podem adiar o jejum. Vou ver em função do meu estado físico, mas penso que farei jejum", disse o capitão do time, Madjid Bougherra ao jornal Le Parisien.

O técnico da seleção da Argélia, Vahid Halilhodzic, confirmou ao repórter da BBC Sports David Orsntein que a decisão de jejuar ou não fica a cargo de cada jogador.

"Essa não é a primeira vez que tenho jogadores muçulmanos no meu time, eu mesmo sou muçulmano. Sempre os deixei totalmente livres [para decidir sobre o jejum]. Essa é uma questão pessoal. Os jogadores vão fazer o que quiserem."

Para o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, os incidentes são "atos de vândalos isolados que aproveitam os eventos esportivos para estragar momentos de festa".

Mistura

A Argélia já está bem presente no futebol francês: o astro Zinedine Zidane, nascido em Marselha, e Karim Benzema, de Lyon, que disputa sua primeira Copa do Mundo e é artilheiro da França na competição, têm origem argelina.

"Se a Argélia enfrentar a França, vou torcer para a Argélia", diz a estudante Alissa, nascida na França e de origem argelina, que prefere não indicar o sobrenome.

Ela também acredita que a Argélia "tem todas as chances" de vencer a Alemanha.

Argelinos ouvidos pela BBC Brasil acham que será difícil vencer a Alemanha e dizem já estar felizes com o desempenho inédito do time árabe uma Copa do Mundo.

"É muito pouco provável que a Argélia ganhe. Mas no futebol tudo pode acontecer", diz, com ar já conformado com a possível derrota, o argelino Kader Cheblal, garçom de bar em Paris.

Cheblal acrescenta que com a eventual saída da Argélia da Copa, ele irá torcer pela França.

Comentaristas esportivos franceses também acham muito difícil que a Alemanha perca a partida.

Mas alguns argelinos ouvidos pela BBC Brasil acreditam na vitória de seu time. O otimismo é vem do fato de que a Argélia já venceu a Alemanha duas vezes: em um amistoso em 1976 e na Copa do Mundo em 1982.

"Os jogadores de hoje não têm mais o complexo de inferioridade das antigas seleções", diz Samir Smail, gerente de um bar em Paris. "São jogadores jovens, com muita garra e vontade de ganhar."

Se vencer a Alemanha, a Argélia poderá enfrentar justamente a França, que também joga nesta segunda-feira contra a Nigéria.