Amistoso em São Paulo testa seleção e também paciência para aguentar vaias

Julio Gomes, Renata Mendonça e Paulo Silva Junior

Da BBC Brasil, em São Paulo

A seleção brasileira sai dos dois amistosos de preparação para a Copa do Mundo com duas vitórias, cinco gols marcados e nenhum sofrido. Física e tecnicamente, o elenco saiu satisfeito pelo fato de ter goleado a equipe do Panamá no primeiro teste e por ter superado um adversário forte, que se defendeu muito, como a Sérvia. Mas, além de usar os dois jogos para ajustes que dizem respeito ao modelo de jogo do time, a relação com a torcida nesses 180 minutos - ou a falta de paciência dela - também serviu como termômetro para o Mundial.

Em Goiânia, diante dos panamenhos, um princípio de vaia ainda no primeiro tempo foi logo interrompido pelo golaço de falta de Neymar, que animou a torcida e calou qualquer sinal de insatisfação. Em São Paulo, frente aos sérvios, a má atuação no primeiro tempo fez com que o time fosse para o intervalo pressionado, desta vez com uma vaia de verdade, em alto e bom som.

"É normal, (as vaias) apareceram em Goiânia também. Não foi problema nenhum para os jogadores, porque eles sabem que, quando não se joga bem, vai ter. Mas acho que no final do jogo, dos 67 mil, 65 mil saíram satisfeitos. Tivemos um cartão de visitas legal para jogar aqui (em São Paulo) contra a Croácia", disse o técnico Luiz Felipe Scolari, minimizando o fato e ressaltando que o Brasil não sentiu a pressão das arquibancadas.

"É uma coisa normal quando não se está apresentando um bom futebol. Nós, dentro de campo, também estávamos chateados pelo primeiro tempo, mas tínhamos de manter a tranquilidade. No segundo tempo mantivemos a posse de bola e achamos o gol", acrescentou o zagueiro e capitão Thiago Silva à BBC Brasil.

A expectativa pela impaciência dos paulistanos foi inclusive assunto na entrevista do técnico Luiz Felipe Scolari, na véspera do jogo, em razão do histórico na cidade. Um dos mais famosos protestos aconteceu em 2000, quando o Brasil venceu a Colômbia com um gol no final, mas a torcida atirou bandeirinhas do país em direção ao gramado; outra manifestação, mais recente, foi em direção ao time de Mano Menezes, que atuou no Morumbi em 2012 e venceu a África do Sul também por 1 a 0.

Na sexta-feira, depois das vaias no intervalo, a voz da torcida, em coro, chegou até os jogadores no começo do segundo tempo. Mas dessa vez foi gritando o nome de Luís Fabiano, atacante do São Paulo que acabou preterido por Luiz Felipe Scolari. "Isso é cultural do torcedor brasileiro, esse tipo de inquietação. Até gritar o nome de um jogador que é de sua região.

Isso faz parte, não mexe com o emocional. Claro que a gente quer apoio, mas deu tudo certo", minimizou Fred, que instantes depois dos gritos em questão recebeu lançamento de Thiago Silva, ganhou a disputa com os zagueiros e garantiu o gol da vitória.

Mas e na Copa? A estreia, na quinta que vem, será na mesma cidade de São Paulo, só que em outro estádio, o Itaquerão. Se os jogadores não podem prever o que vai acontecer durante o Mundial - na Copa das Confederações, com boas atuações e gols no início das partidas, a seleção não teve esse problema -, ao menos já foi possível ter a experiência de jogar com essa adversidade: a busca do resultado debaixo de vaias da própria torcida.

"Não sei como vai ser na Copa, mas é normal a torcida cobrar. A gente entende a torcida e estamos tranquilos", colocou Hulk. "Se vai ter ou não, não sabemos, mas se ocorrer vai ser bom a gente ter paciência e jogar da mesma maneira. Não é por causa de vaia que temos de mudar o jeito de jogar", finalizou Fernandinho.

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