07/06/2010 - 15h54

Soweto explora a memória de Mandela

Mauricio Stycer
Em Johanesburgo
  • Instalação da Casa de Mandela, antiga residência do líder político que virou ponto turístico em Soweto

    Instalação da Casa de Mandela, antiga residência do líder político que virou ponto turístico em Soweto

Herói da luta contra o apartheid, Nelson Mandela é uma figura onipresente e incontestável na África do Sul. Em tempos de Copa do Mundo, o culto ao ex-presidente está ganhando novas proporções e significados, entre os quais o uso de seu nome como fonte de inspiração para a seleção do país e a exploração comercial da memória de seus tempos de militância contra o regime racista.

Em Soweto, a zona residencial onde viviam os negros segregados, conserva-se a pequena casa de dois quartos que abrigou a família Mandela a partir de 1949. No local, Mandela viveu com a sua primeira mulher, Evelyn, com quem teve quatro filhos, e depois com Winnie, a sua segunda mulher.

Em 1961, Mandela entrou para a clandestinidade, mas sua família continuou morando no local. Preso pouco tempo depois, passou 27 anos na cadeia. Ao ser libertado em 1990, voltou por alguns dias para a residência, reforçando a simbologia do local, antes de se mudar para uma casa mais confortável.

A residência estava em péssimo estado até que um órgão mantido pelo governo municipal de Johanesburgo promoveu a sua restauração. Reaberta em grande estilo em 2009, virou a Casa de Mandela, um dos pontos turísticos da cidade. Neste período pré-Copa, vive lotada, como constatou a reportagem do UOL Esporte nesta segunda-feira.

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Os ingressos custam 60 rands (cerca de US$ 8) para turistas (“adult international”) – o valor para moradores locais não é exibido. Emissoras de televisão estrangeiras, que utilizam imagens da casa para ambientar reportagens sobre a África do Sul, pagam 1.000 rands (cerca de US$ 135) – nesta segunda, uma equipe da Rede Globo entrou ao vivo no “Bom Dia Brasil” a partir da varanda da casa.

Dentro da “caixa de fósforos”, como disse a guia que conduzia um grupo de turistas americanos, conservam-se alguns móveis do tempo em que Mandela viveu no local e objetos que manteve ali, como livros e fotos. Um dos objetos em destaque é o cinturão que o ex-campeão mundial de boxe Sugar Ray Leonard mandou para Mandela depois da sua libertação. Também há botas usadas por Winnie Mandela e uma tigela com notas de dinheiro de diferentes países, todas com mensagens anotadas para Mandela.

Em 10 minutos, visita-se o local e, à saída, camelôs oferecem todos os tipos de bugigangas, de cachecóis da seleção brasileira a peças de artesanato. Em frente à casa, um restaurante simples tenta atrair clientes com um nome vistoso, Mandela´s Family Restaurant, mas uma decoração e cardápio muito pouco atraentes.

Mandela e a seleção

A história do envolvimento e do apoio de Mandela à seleção de rugbi, campeã mundial em 1995, no torneio disputado na própria África do Sul, ficou célebre graças ao filme “Invictus”, de Clint Eastwood, exibido no Brasil no início deste ano.

Às vésperas da Copa do Mundo de futebol na África do Sul, o ritual se repete. Na última quinta-feira, a Bafana Bafana, como é chamada a seleção, visiou Mandela. Dois dias depois a equipe enfrentou a Dinamarca e, para surpresa geral, venceu por 1 a 0.

No domingo, o técnico Carlos Alberto Parreira veio a público falar do “papel fundamental” que Mandela teve na vitória sul-africana. O brasileiro observou que o ex-presidente não fez nenhum discurso, nem falou nada especial à equipe, mas a simples presença dele foi o suficiente para “inspirar” os jogadores.

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