Psicóloga vê desequilíbrio emocional na seleção e cita pressão de Felipão

Do UOL, em São Paulo

Responsável por acompanhar os jogadores da seleção brasileira em alguns momentos da Copa do Mundo, a psicóloga Regina Brandão admitiu que a equipe sofria com um desequilíbrio emocional. Em participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira (14), ela falou sobre o problema enfrentado pelo grupo e citou um momento em que Luiz Felipe Scolari, ex-técnico do Brasil, teve sua parcela de culpa.

"Impressão que eu tive era que os jogadores tinham qualidades muito importantes, mas tinham pouca experiência de enfrentar essas situações de muita cobrança", disse Regina. "Equipe não conseguiu acertar o jogo em si e isso foi gerando uma redução na autoconfiança apesar de ter toda experiência", complementou.

De acordo com a psicóloga, quando as coisas não saíam do jeito que eles previam, a confiança ficava abalada. "O que acho é que foi acontecendo alguma coisa que foi minando, minar mesmo a confiança que os jogadores tinham na capacidade de ir lá e atingir o objetivo. O que foi minando? Somatória de coisas, alguma parte psicológica, outras coisas não", falou.

Apesar de admitir o problema psicológico do grupo, Regina diz não saber explicar se esse desequilíbrio motivou a campanha ruim da seleção ou foi justamente provocado por ela. "Causa ou consequência? Ainda difícil fazer um diagnóstico, cada jogo era um bilhão de emoções. Alguns lidam bem ou mal", observou a psicóloga que admitiu que o grupo entrou em estado de pânico contra a Alemanha.

"Foi coisa do momento e vou ter que falar todo mundo entrou em pânico, e quando entra em pânico, você não pensa. A sensação do David nesse jogo, como no próximo, foi tentar resolver por conta própria, e perdeu o coletivo. Cada um tenta resolver por conta própria", explicou Regina ao falar sobre a vontade de David Luiz em ir ao ataque e acabar participando negativamente de pelo menos três gols germânicos.

Uma das partidas citadas por Regina foi o duelo das oitavas de final contra o Chile. Segundo a psicóloga, Felipão teve uma parcela de culpa na pressão que foi colocada para aquela partida, quando vários atletas choraram ao final.

"Felipão tinha preocupação há mais de um ano com o Chile, talvez isso tenha sido um pouco demais, no sentido que ele colocou muita pressão  nos jogadores. E ele reconhece isso, reconheceu para mim. Foi muito interessante o trabalho pós-jogo do Chile, talvez tenha sido o trabalho mais importante ali que eu tenha participado", afirmou.

Regina ainda citou o fato de Felipão e Parreira terem ficados tão abalados com a goleada sobre a Alemanha que usaram números para tentar provar o valor do trabalho.

"Felipão e Parreira têm carreiras vitoriosas, são dois campeões mundiais que temos em atividade. Aquele resultado vai marcar o resto da vida, de todo mundo, e para um treinador que veio de um sucesso enfrentar uma situação como essa, que pode determinar fim da carreira profissional, é doloroso. Minha impressão é que ele tentou mostrar que não foi essa porcaria toda, que todo mundo está detonando", disse.

Outro ponto levantando por Regina foi o pouco tempo de trabalho que teve com o grupo. Segundo a psicóloga, seu trabalho acabou sendo limitado por acontecer apenas durante a competição. Ela ressaltou também que não foi remunerada pela CBF, atuando apenas como convidada de Felipão.

"O trabalho foi limitado, sem dúvida, limitadíssimo. Tentei otimizar dentro daquele pouco tempo que tinha para trabalhar", disse. "Nós poderíamos desenvolver várias coisas, mas não durante a competição, são coisas para fazer antes. Não ia fazer treinamento mental durante a Copa, teria de fazer antes. Durante, o que fazemos é resolução de conflito", completou.

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