Van Gaal mostra coragem e lado "bonzinho" na Copa e deixa recado ao Brasil

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

  • AFP PHOTO / ANP / ROBIN VAN LONKHUIJSEN

    Técnico da Holanda, Louis van Gaal, tira "selfie" com funcionário do aeroporto

    Técnico da Holanda, Louis van Gaal, tira "selfie" com funcionário do aeroporto

"Sempre falei que ele é o Hitler dos brasileiros.  Em dois anos com ele, nunca o vi dar um sorriso." A frase é do ex-zagueiro Marcio Santos sobre seu ex-chefe dos tempos de Ajax, Louis Van Gaal. O técnico chegou ao país para a disputa da Copa com pecha de não gostar de atletas do país e em pouco tempo se indispôs com o técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari. Mas, de maneira surpreendente, o holandês mostrou outras faces e se tornou um dos principais personagens do Mundial com sua ousadia e jeito falastrão.

O sempre frio e centralizador treinador já nos primeiros 45 minutos oficias da Copa surpreendeu. Sua felicidade no famoso gol de peixinho de Van Persie contra a Espanha o fez abaixar as pernas e dar um tapa na mão do centroavante em uma cena que lembra adolescentes se cumprimentando.

Nem por isso deixou seu lado ácido e reclamão de lado. Talvez até isso em uma medida certa tenha o feito ganhar carisma. Criticou o fato de o Brasil jogar depois da Holanda na definição dos grupos e poder assim escolher adversário. Foi o que bastou para começar uma guerra com Scolari. Ouviu do brasileiro que era "burro ou mal intencionado" por insinuar favorecimento ao Brasil.

Durante todos os jogos da Copa Van Gaal foi espinafrado pela imprensa de seu país por seu time jogar de forma retrancada e com três zagueiros de ofício, na chamada linha de cinco no país (contam os laterais na linha de defesa). Só perdeu a linha uma vez, após o jogo contra o Chile, quando chamou o jornalista para assumir o seu lugar e discutir futebol. Fora esse caso, respondia sempre com classe às inúmeras críticas que recebia em coletivas.

"A imprensa holandesa dizia que nem passaríamos da primeira fase, vamos lembrar disso", falou, antes da semifinal contra a Argentina. "Não vejo o time tão retrancado assim como você fala. Seu companheiro brasileiro acaba de elogiar nossa equipe", afirmou, retrucando a pergunta de mais um jornalista holandês que o criticava.

Foi sincero em muitos momentos. Como quando disse que não queria disputar o terceiro lugar por não querer estar naquele jogo, e sim na final. E mostrou seu rancor ao cair numa disputa de pênaltis para a Argentina. "Perder nos pênaltis é a mesma coisa que perder de 7 a 1."

Disputa de pênaltis, por sinal, mostrou sua coragem em um dos momentos mais inusitados da Copa. Em duelo contra a Costa Rica, fez algo que quase ninguém nunca viu no futebol: gastou uma substituição para colocar um goleiro pegador de pênaltis, Krul, e tirou o titular, Cillessen. Viu o arqueiro que começava as partidas sair irritado por não entender nada e se sentir sem confiança. Van Gaal bancou sua decisão e risco. E entendeu a decepção do goleiro que não quis nem cumprimenta-lo ao sair.

"Cillessen continua como titular e começa o primeiro jogo. Achei que Krul era melhor para a disputa de pênaltis. Mas não dissemos nada a Cillessen para não tirar sua concentração no jogo.

E foi na disputa de terceiro e quarto, que não queria estar, que Van Gaal mostrou seu lado humilde. Antes do duelo com o Brasil, mais espinafradas de Scolari e expectativa sobre como seria o encontro dos dois no gramado. Eis que o vaidoso Van Gaal toma a atitude de ir até o banco brasileiro dar um abraço no rival e em Carlos Alberto Parreira.

E em sua última coletiva, foi perguntado sobre sua suposta antipatia ao Brasil por ter tido problemas com jogadores brasileiros em sua carreira (como Rivaldo, Sonny Anderson e Márcio Santos). Aproveitou para dizer que queria deixar um recado. Disse que adorou sua passagem aqui e que se sentiu encantado com o povo que o fez sorrir e desfrutar do Mundial.

"Fico feliz por ter feito essa pergunta. Estive no Brasil em 1996 em um jogo do Ajax e voltei ano passado na Copa das Confederações. Fiquei impressionado com o povo. É muito amigável, é impressionante como são gentis", falou o carrancudo Van Gaal.

"Ao longo das Confederações, vi manifestações, mas não as vi dessa vez. Sempre que os jogadores foram às ruas ou à praia, o povo foi incrível conosco. E isso é algo que eu gostaria de ressaltar", finalizou.

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