Copa 2014 pode deixar melhora da autoestima como legado para o Brasil
Felipe Pereira e Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo
-
Silvia Izquierdo/AP
Os estrangeiros vieram e gostaram de tudo que viram, mas de algo em especial: o povo brasileiro
Quem mora nas cidades-sede da Copa, quem encontrou gringos que vieram ao Brasil para assistir ao Mundial ou quem acompanhou as notícias sobre pesquisas de opinião ou focadas na experiência de turistas estrangeiros no país nas últimas semanas dificilmente terá dúvidas sobre um fato: os gringos adoraram o Brasil e a Copa do Mundo do Brasil.
Cada uma das 12 cidades-sede da Copa agradou também por motivos específicos, suas belas praias, suas noitadas com pimenta, sua culinária de dar água na boca ou sua natureza exuberante. E não houve problemas, os turistas não tiveram do que reclamar? Claro que houve, impossível realizar um evento deste porte sem problemas, mas a verdade é que ficaram pequenos, os problemas, diante da satisfação.
E, acima de tudo, em destaque em qualquer levantamento de opinião, informal ou científico, qual foi a melhor parte da Copa, o que de melhor você, turista estrangeiro, viu no Brasil? Ah, é o povo brasileiro, respondem. Foi ele, o brasileiro, quem fez sorrir os visitantes. Os fatos e números apurados podem ser vistos no quadro ao fim desta reportagem.
Um levantamento realizado pelo UOL Esporte, chamado de Pesquisão UOL, dá o tom do que acharam os gringos da Copa, do Brasil e de seu povo. Uma das perguntas foi: "O que mais te encantou no Brasil além dos jogos de futebol?". Algumas respostas:
"As pessoas, o povo brasileiro. As mulheres são lindas e as pessoas são muito simpáticas, elas recebem muito bem os estrangeiros".
Nathan Tulkens, belga, 24 anos
"As pessoas. Já tinha ouvido falar da alegria dos brasileiros, mas nada tinha me preparado para isso."
Florent Delamanj, francês, 25 anos
"As pessoas são muito legais e festivas, há vibração e energia em todos os lugares. Eu pensei que elas não gostavam dos ingleses, mas elas gostam!"
Fred Cooler, inglês, 22 anos
Será este um legado intangível que o Brasil poderá tirar do Mundial de 2014, o aumento da autoestima do povo. Para a professora de Sociologia da PUC-SP Mônica Carvalho, participante da pesquisa "Metropolização e Megaeventos: o impacto da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016", durante este Mundial as pessoas mostraram que sabem separar o que acontece nos gramados da realidade do país. "Com este descolamento do nacionalismo exacerbado, nem uma derrota acachapante faz a população pensar que tudo vai mal no país. Assim como um título não traria a ilusão de que tudo está perfeito."
O passo seguinte seria a população perceber os avanços conquistados. "A mentalidade está em descompasso com o que o Brasil é. Há um imaginário de 30 anos atrás com instituições frágeis, golpes, insegurança econômica e falta de profissionais capazes". Ela conta que não reconhecer a evolução ocorrida a partir da década de 1980 levou ao sentimento de pouca confiança e dúvidas se o país seria capaz de organizar o Mundial.
Esta preocupação se dissipou e virou orgulho pelo sucesso da Copa e os elogios estampados em jornais internacionais. A socióloga ressalta que este sentimento pode ser temporário, existe ainda uma idealização da realidade dos Estados Unidos e Europa. Mas, o contato com moradores desses locais durante a Copa revelou que há problemas semelhantes, como filas para pegar táxi no aeroporto.
A Copa mostrou que o Brasil não é tão pior assim, não é tão incapaz assim nem tem tanta coisa assim do que se envergonhar. Agora, resta esperar que o tempo responda se tais constatações irão reverter em ganho de autoestima do povo brasileiro, gerando um legado intangível deixado pelo Mundial de futebol.
A satisfação estrangeira em fatos e números
Pesquisão UOL
Pesquisa BBC Rio de Janeiro São Paulo Salvador Natal Manaus