Fan Fest em SP tem torcedores persistentes da Argentina contra secadores
Luis Augusto Simon
Do UOL, em São Paulo
Fim de jogo. O argentino busca conforto nos braços da namorada. O casal se abraça e ele chora muito.
A tentativa de foto é interrompida por outro argentino, que fazia parte de um grupo de amigos, a cinco metros. "Não se tira foto nessa hora, é preciso respeito", ele grita, alucinado.
Os amigos pedem calma, o casal se une a eles e todos começam a pular e a cantar uma música de auto louvação. Falam em Argentina e não citam o Brasil.
Um outro casal, bem mais novo, se aproxima, vindo não sei de onde. "Por favor, quem ganhou a Copa?", pergunta a moça. A Alemanha, eu respondo. "E por que esses argentinos estão comemorando?", rebate. "Eles são assim mesmo, amor", diz o garoto, sem entender o motivo de tanta festa.
Eles são assim. Foram a diferença na Fan Fest do Anhangabaú, que reuniu em torno de 20 mil pessoas. A divisão era nítida. Argentinos torciam e sofriam. Os outros vibravam com a Alemanha, mas, principalmente, sem muita emoção, secavam os argentinos.
Lívia Bastos, 34 anos, é um exemplo. Foi dela o grito de "boludo", quando o telão mostrou Messi, ainda antes de entrar em campo. Depois, durante os hinos, era implacável. "Olha lá, é tudo um bando de nanicos contra uns loiros bonitões".
A raiva contra os argentinos, ela explica, vem de umas férias em Santa Catarina. "Eles são farofeiros, usam tênis na praia e fazem muito barulho. Gente sem educação", relatava.
A irmã de Lívia, Denuzia, revela um outro motivo para tanta raiva. "Ela namorou um argentino e não deu certo. Por isso é que reclama". Lívia não perde o rebolado. "Foi uma noite só, não é por isso não. Não gosto faz tempo", desconversa.
Yara, que conheceu o argentino José - nascido em Córdoba - há um ano em Fortaleza, era Argentina desde criança. "Eu amo esse homem e estou com ele para tudo," diz enquanto ele olha apaixonado, como se Yara fosse a mistura de Messi e Maradona.
A partida também contou com seu clima tenso a quem estava na Fan Fest. Toda a alegria que Tiago Abravanel trouxe, com músicas de Ivete Sangalo e Tim Maia, era passado. Durante o jogo, era um grito aqui e outro ali. No gol anulado de Higuain, nas defesas de Romero e nas raras arrancadas de Messi.
Gritos, mesmo, quando Gotze garantiu o quarto título alemão. E, crueldade, quando o telão mostrou o choro de um garoto argentino.
Depois, foi a retirada. Sem confusão, todos saíram. E o grito de "mil gols, mil gols só Pelé..." tomou conta do Anhagabaú.