Depois da derrota por 7 a 1, a maior da história da seleção, era de se imaginar a comissão técnica sendo duramente criticada e perdendo seu apoio popular. Dona Lúcia não deixou. Em uma mensagem escolhida a dedo pela comunicação da CBF, a senhora - cuja identidade completa não foi divulgada - contrariou o senso comum e mandou uma mensagem de apoio quase incondicional a Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira.

"Fique com Deus e lembre-se que o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer. Quero dizer com essa citação que vai passar e tudo ficará bem. Saiba que, como eu, há várias pessoas que estão apoiando a nossa Seleção, que tem o privilégio de ser comandada pelo senhor", dizia o texto de dona Lúcia para Felipão, que foi lido por Parreira na entrevista coletiva da última quarta-feira.

Dona Lúcia, que admite não entender muito de futebol, teria entrado em contato por email. Quem informa é a própria entidade, que diz que uma senhora indignada enviou uma mensagem por correio virtual para a comunicação da CBF, que então repassou à comissão técnica.

Mas quem é Lúcia? A CBF diz que sabe, mas não pode informar. Na última quinta, após a entrevista de Neymar, Rodrigo Paiva, assessor da entidade, mostrou um email da senhora pelo celular em que ela pedia para não ser localizada pelos jornalistas, contra quem também disparou em sua carta.

Segundo a CBF, ela foi taxativa. A entidade também não divulgou nome completo ou qualquer detalhes da pessoa em questão.

Dona Lúcia serviu como um para-raio. No momento em que a seleção mais seria criticada, Parreira surge com uma mensagem cega de amores por Felipão. Seja quem for, a senhora indignada com o tratamento dado ao técnico quebrou a rotina de respostas difíceis, que exigem conteúdo e jogo de cintura.

Só que mantê-la sob sigilo não faz com que ela desapareça. No mesmo dia em que a CBF divulgou o conteúdo da carta de dona Lúcia ela já tinha um fake no Twitter, que falava de Scolari como um marido e brincava com os rivais com otimismo de quem segue vivo na competição. Em menos de dois dias, o perfil já tem mais de 5 mil seguidores no microblog e a expressão foi das mais usadas na internet brasileira.

Eu e minha família estamos apoiando também José Maria Marin, homem íntegro que merece respeito. pic.twitter.com/fo6H7DvyLB

— Dona Lucia (@DonaLuciaCBF) July 10, 2014

É muito para um personagem que até dois dias atrás não existia, mas faz lembrar um ícone do futebol brasileiro. No começo dos anos 1980, a Gillette lançou mão do Pacheco, torcedor fictício e fanático pela seleção, que ignorava qualquer adversidade para manifestar seu amor canarinho. Depois de um 7 a 1 na semifinal da Copa disputada em casa, não é difícil relacionar o velho ícone a Dona Lúcia, que ao menos em sua identidade virtual e fake, cumpre o mesmo papel.