Até disputa de pênaltis muda operação de energia. É a Copa em Itaipu

Bruno Freitas

Do UOL, em Foz do Iguaçu

No mesmo instante em que Julio Cesar brilhava na disputa de pênaltis contra o Chile nas oitavas, o sistema de energético do Brasil assistia a uma baixa histórica de demanda. O país praticamente parou por alguns minutos e logo depois voltou a consumir com intensidade, numa oscilação brusca de gasto. Toda a complexidade que a Copa impôs foi estudada com um ano de antecedência e exigiu uma operação especial de Itaipu, usina hidrelétrica com papel chave no funcionamento da nação.

Todos os jogos do Brasil na Copa até agora têm apresentado fenômenos de comportamento semelhantes, com redução drástica de consumo durante o primeiro e o segundo tempos, com a população "estática" diante de televisores e gastando energia insignificante. No intervalo, por sua vez, o torcedor vai à geladeira e se agita de outras formas, fazendo a curva disparar. Depois da partida os indíces também vão lá em cima em questão de minutos.

Essas nuâncias de curvas exigem uma concentração especial de todos os atores deste sistema. E, obviamente, muito planejamento. Afinal, são oscilações de consumo que não aparecem habitualmente no dia a dia do brasileiro, bastante radicais, que precisam de monitoramento para que o sistema funcione sem sustos.

Até aqui, o jogo contra o Chile talvez tenha sido o que apresentou mais oscilações atípicas. Antes da partida o sistema do país viu uma redução de 7 mil MW em duas horas. No intervalo, uma elevação súbita de 2300 MW em apenas 9 minutos, seguida de queda de 2400 MW no segundo tempo, em 15 minutos. Finalmente, após os pênaltis, a curva disparou 7 mil MW em meia hora.

Durante o momento de glória de Julio César na Copa, o consumo de energia brasileiro despencou, abaixo dos padrões de madrugadas, por exemplo. A curva negativa espantou os especialistas envolvidos, que haviam planejado a retomada após os 90 minutos.

É desta forma que as emoções da Copa também arrebatam as cabeças que trabalham para o sistema energético do país. Em uma das salas de operações de Itaipu, por exemplo, a engenheira eletricista Renata Tufaile recebe demandas específicas da ONS (Operador Nacional de Sistema Elétrico) para dias da seleção em campo. A usina de Foz também é municiada de boletins de comportamento do país ao final de cada partida do Mundial. 

"Temos que estar preparados para que esta retomada do parque hidráulico seja a mais tranquila possível", afirma Renata, em menção à recuperação do consumo habitual logo depois que o juiz apita o fim do jogo.

Segundo os especialistas, os fenômenos de comportamento observados em partidas da seleção no Mundial repetem padrões típicos de capítulos finais de novelas das 9h da Rede Globo. No último ano, a Copa das Confederações já serviu como um treino para o sistema de energia do país.

E dentro deste mês especial para a história brasileira, Itaipu aperece como protagonista do sistema energético. Anualmente, a usina produz entre 90 milhões e 95 milhões de MWh (megawatts-hora), quantidade suficiente para abastecer a cidade de São Paulo por três anos. A energia do complexo abastece principalmente a região Sudeste, além de parte significativa do território paraguaio (75% do consumo por lá).

Mesmo num final de semana de Copa, Itaipu atrai turistas para a visita de suas imensas dimensões, incluindo estrangeiros eliminados do Mundial, como alguns americanos com câmeras no pescoço. Geralmente o visitante se espanta com a barragem, um impressionante paredão com 7,9 km de extensão e 196 metros de altura máxima que represa o Rio Paraná.

Apesar de Itaipu possuir 20 unidades geradoras de energia, apenas 18 delas ficam ativas. As duas restantes só são acionadas caso uma das turbinas apresente problemas ou tenha de passar pelo programa de manutenção periódica. Em 2013 a usina que serve a Brasil e Paraguai registrou seu recorde histórico de produção, com 98,6 milhões de MWh.

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