Tias de Fred defendem atacante nas ruas de cobranças por gol na Copa

Bruno Freitas

Do UOL, em Teófilo Otoni (MG)

Fred tem em Teófilo Otoni uma turma pronta para defendê-lo de qualquer crítica. É uma espécie de torcida organizada, com camisa personalizada e tudo, formada por tios e primos, na resistência para rebater as cobranças pelos gols na Copa. O camisa 9 da seleção vai terminando o Mundial marcado pelo fiasco brasileiro na semifinal e debaixo de críticas severas a respeito de seu desempenho individual. Mas, nas ruas de sua cidade natal no norte de Minas Gerais, o atacante conta com a defesa na ponta da língua de um trio de super tias.

Na verdade, Guinera, Ivone e Alice valem mais do que tias. Irmãs do pai de Fred, seo Juarez, as três integrantes da família Guedes ajudaram a criar o futuro jogador na infância, após a morte precoce da mãe dele, Giselda, quando o menino tinha apenas 8 anos.

O garoto acabou criado na casa de duas delas, primeiro debaixo do teto de Guinera e do esposo José Geraldo, depois com o afeto de Ivone e do marido Jenésio. Foram tempos de muitas peladas no campinho do bairro, o Carecão, e aulas matadas para correr atrás de bola, com alguma reclamação da diretora da escola.

"A mãe dele era uma grande companheira também. Inclusive, nós fomos colegas de classse. Era uma pessoa fantástica. Toda vez que o Fred fala dela a gente se emociona. Morreu com 38 anos, muito jovem ainda", recorda a tia Ivone.

"Acompanhei o sufoco que eles passaram. Foi uma fase que, graças a Deus, eles passaram, foram para frente. E não deixou marcas na vida dele. Apesar da dificuldades que passou, soube passar", acrescenta Alice sobre a experiência infeliz do sobrinho.

E são tias corujas, que defendem o sobrinho famoso em tempos de Copa do Mundo. Fred foi eleito por Luiz Felipe Scolari como o homem gol da seleção, mas em seis partidas no torneio só conseguiu balançar as redes uma vez, contra Camarões, ainda na primeira fase. Em Teófilo Otoni, a família do jogador lida com o assédio nas ruas de gente que cobra e apoia o filho ilustre da cidade.

"Incomoda, e a gente defende ele, porque a gente sabe a qualidade dele como jogador", diz a tia Ivone.

"Hoje mesmo eu saí, e gente que eu nunca vi na vida veio falar: eu te vi na televisão, hoje vai sair o gol do Fred, vai ser o dia dele", relata Guinera.

Depois de ganhar o mundo com as camisas de Cruzeiro, Lyon e Fluminense, Fred mantém os laços com Teófilo Otoni. Pelo menos uma vez por ano visita a cidade para descansar. Recentemente, o jogador comprou uma fazenda para o pai na região.

"NINGUÉM É CULPADO"

Em toda a Copa deste ano, a família de Fred manteve o ritual de acompanhar os jogos do Brasil na sala de dona Guinera, em Teófilo Otoni. Todos a postos com camisas personalizadas, com a imagem do atacante e a inscrição: Força, Raça, Energia, Dom de Deus - com as primeiras letras formando o nome parente.

A exceção do ritual aconteceu na terceira rodada da primeira fase, quando alguns familiares estiveram em Brasília e testemunharam o único gol de Fred na Copa, na vitória sobre Camarões.

Durante a derrota para a Alemanha, os familiares de Fred se agitavam no sofá a cada vez que uma jogada sugeria a possibilidade de o atacante participar. Se vinha um passe a um companheiro, algum parente deixava escapar o desejo de que o menino de Teófilo Otoni fosse um pouco mais fominha: "chuta!".

Mas a cada gol no massacre alemão, o desânimo aumentava exponencialmente. No segundo tempo, com a transmissão da TV chamando atenção para as vaias a Fred no Mineirão, a família do atacante externava indignação.

"Eu não vejo ninguém culpado, individualmente. Eles podem até querer culpar o Fred. Entao eles estavam esperando muio do Fred. Pra culpar o Fred agora, sendo o responsável pela derrota, eles estavam esperando muito do Fred", opina Jenésio Souza, tio que ajudou a criar Fred como filho dentro de casa.

Agora, sem a chance de brilhar no Maracanã, como fez há um ano na decisão da Copa das Confederações, Fred terá mais uma oportunidade de reencontrar os gols no Mundial. No sábado, o Brasil se despede do torneio na decisão de terceiro e quarto lugares, diante da Holanda.

Enquanto isso, a família do jogador evita o clima de depressão. Pelo contrário, esse não é o espírito da família Guedes. Como uma boa casa mineira, tudo acabou em comida após a derrota para a Alemanha. Dona Guinera caprichou no camarão para os visitantes: "a gente morre de nervosismo, mas não morre de fome". 

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