Nem a Copa agita rotina da menor cidade do Brasil e de seus 825 habitantes

Bruno Freitas

Do UOL, em Serra da Saudade (MG)

Nem uma Copa é capaz de abalar a tranquilidade reinante de Serra da Saudade, a menor cidade do Brasil. Com 825 habitantes, o município na região centro-oeste de Minas Gerais celebra a vida sem sobressaltos como o grande tesouro local. Um lugar em que o último homicídio foi registrado há mais de 50 anos. Enquanto boa parte do resto do país ferve com o Mundial da Fifa, o pequeno paraíso de calmaria toca a vida sem impacto de rotina.   

De acordo com o último balanço do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2013, Serra da Saudade retomou o título de menor cidade do Brasil que pertencia a Borá, município no interior de São Paulo. As duas localidades vêm se invertendo na 'liderança' nos últimos anos. "Parece que agora eles têm uns três ou quatro habitantes a mais", diz Adilson Silva, um dos nove vereadores locais, em tom moderado de celebração.  

Os habitantes de Serra da Saudade também vivem a Copa a seu estilo. Um telão em HD foi instalado na praça principal da cidade para a transmissão dos jogos do Brasil. Bandeirinhas em verde e amarelo enfeitam o mesmo local. Mas o agito é proporcional aos padrões da cidade.

"No último jogo (contra o Chile), eu organizei uma carreata de três carros. Descemos a rua aqui e fizemos um buzinaço", conta o cruzeirense Luiz Rodrigues, funcionário de almoxarifado, que mora em Betim, mas visita a casa da mãe na cidade frequentemente.

Outro cidadão de Serra da Saudade que vê a Copa com calma é Aloísio Alves, o único padeiro da cidade. Com ajuda da esposa e de dois filhos, o pequeno comerciante diz que prepara 800 pãezinhos por dia, quase um per capita. Mesmo assim, à tarde, consegue acompanhar as emoções do Mundial do sofá da sala, anexa ao estabelecimento.

A 259 km da capital Belo Horizonte, Serra da Saudade tem apenas dois bairros, um armazém, uma casa lotérica e duas escolas, que recebem cerca de 250 alunos. Um mini hospital atende casos sem gravidade – incidentes mais sérios acabam encaminhados à vizinha Dores do Indaiá.

Uma rua central concentra boa parte do agito local. No começo dela, a praça ao lado da prefeitura oferece internet wi-fi de graça - e com bom sinal. Apesar das proporcões diminutas, Serra da Saudade se gaba de uma qualidade de vida acima da média brasileira.

"O pessoal pensa que vai encontrar só capiau aqui, gente que fala errado. Mas todo mundo tem internet em casa, tem Sky (TV por satélite), carro na garagem", diz Luiz Rodrigues.

Um dos indícios desta qualidade declarada aparece na porta fechada da única delegacia local. Na visita da reportagem do UOL, em pleno dia de semana, ela permanece fechada o dia inteiro. Não há necessidade de expediente em um lugar cujo último homicídio aconteceu há 52 anos. Os policiais trabalham em regime de plantão. Ou seja, se acontecer alguma coisa, são acionados por celular. Mas os incidentes ficam na esfera da trivialidade.

"Às vezes tem uma discussão de bar, mas coisa de amigo com amigo, acaba resolvido antes de a polícia chegar. A cidade é bem pacata", afirma Adilson Silva, vereador e radialista.

"É a melhor cidade do mundo, não tem violência", endossa o prestador de serviços Renato Antônio de Faria, estabelecido há sete anos em Serra da Saudade.

Por sua vez, a Câmara Municipal conta com nove vereadores e trabalha com apenas duas sessões mensais obrigatórias. A prefeita Neusa Ribeiro foi eleita em uma eleição de chapa única há dois anos. E a prefeitura é o principal empregador da cidade.

CIDADE SE ACOSTUMA EM RECEBER A MÍDIA NACIONAL

A única hospedagem disponível em Serra da Saudade é a pousada de dona Lia Maria José Ricardo, no alto da rua principal. Apesar das instalações simples, a mineira de 84 anos oferece em sua casa quartos confortáveis e comida caseira da melhor qualidade. Quem quiser ver televisão, basta se acomodar na sala junto a seu filho Ivamar.

Nos últimos tempos, desde que Serra da Saudade disputa o "título"  de menor cidade do país com Borá, o município vem se acostumando com a visita da grande imprensa. Duas equipes de emissoras de TV nacionais e uma revista de larga circulação passaram recentemente pela rotina tranquila do local.

Em 2012, a repórter Paula Akemi visitou Serra da Saudade por alguns dias para produção de material para o Profissão Repórter, programa da TV Globo. E até hoje a jornalista goza do carinho da população. "Você conhece a Paulinha?" é uma pergunta comum na cidade.

"Desde que passou a ser o menor município do Brasil, a cidade atraiu mais visitantes, teve uma melhora no comércio", comenta Adilson Silva. "Aqui todo mundo se conhece. O povo sabe quando é de fora, porque não conhece o carro", acrescenta o vereador e radialista.

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