A festa que os brasileiros não puderam fazer, os argentinos fizeram. Na linha 'se não pode vencê-los, junte-se a eles', os donos da casa uniram forças aos seguidores de Messi que comemoravam a vaga na final da Copa no centro de São Paulo. E não falamos de vira-casacas. Mesmo as pessoas que foram à Fan Fest de laranja pularam no show de Claudia Leitte, que começou depois do apito final.

Chovia e a atitude impressionou os argentinos, que não economizaram nos elogios à desportividade e ao clima de paz que reinava. "Espetacular", "encantador" e "incrível" foram os adjetivos mais usados. Alfredo Flores, 57 anos, morador de Misiones, admitiu que os conterrâneos jamais repetiriam este comportamento. "Somos um povo fanático, emocional e estaríamos todos chorando até agora".

O torcedor ressaltou que dançar é uma maneira muito melhor de reagir. Ele também contou que os argentinos não seriam tão amistosos e acredita que se fosse em Buenos Aires os brasileiros não teriam a mesma liberdade para cantar e festejar. "Na nossa casa haveria brigas, sem dúvidas".

A participação dos brasileiros também ocorreu na comemoração em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, local em que os argentinos se concentraram depois que a Fan Fest acabou. Uma imensa bandeira era carregada por um grupo que fazia "trenzinho". E quem puxava a fila era um brasileiro.

Monique Prada, 27 anos, assistia a tudo e justificava que a derrota do Brasil é outro assunto, nada a ver com a festa que acontece no quintal de casa, da qual não tem por que ficar de fora. "Nunca mais vou ver uma Copa no Brasil e foi o último jogo em São Paulo". Ela confessou que não entendia a letra inteira das músicas, mas que gostava da sonoridade.

A filosofia 'levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima' era praticada por Edi Ferreira, 29 anos. Vestida de laranja, ela criticava a seleção brasileira e contava que a torcida desta quarta-feira também não deu certo. Mesmo assim não podia perder uma oportunidade única na vida, até porque os argentinos foram mais educados do que esperava.

Marcelo da Silva Santos, 27 anos, também preferia a Holanda na final e discursava que a humilhação diante da Alemanha era coisa do passado. O torcedor, que dançou Lepo Lepo na Fan Fest, defendia que é hora de tocar a vida adiante e afirmava sentir remorso zero por estar numa festa com argentinos.

A última noite da Copa em São Paulo transcorreu com visitantes surpresos pelo tratamento e cantando músicas que os brasileiros não entendiam. A população da cidade não fez cerimônia e participou dessa festa estranha e com gente esquisita.