Veja como o vexame em BH fechou um tumultuado ciclo de 10 dias na seleção
Gustavo Franceschini, Paulo Passos, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone
Do UOL, em Belo Horizonte
A derrota histórica e acachapante da seleção por 7 a 1 para a Alemanha na semifinal da última terça-feira, no Mineirão, não chegou a ser um fato isolado na trajetória do time brasileiro nessa Copa do Mundo. A tragédia de Belo Horizonte soma-se a outras turbulências recentes e fecha um ciclo para lá de tumultuado da equipe de Felipão nos últimos dez dias.
A caminhada, iniciada em 26 de maio na Granja Comary, se mostrava tranquila, apesar de algumas dificuldades na primeira fase, principalmente contra México – empate por 0 a 0 – e Croácia – início atrás do placar na estreia. No entanto, tudo mudou a partir de 30 de junho.
A data do jogo contra o Chile, pelas oitavas de final, iniciou uma queda que terminaria na última terça. O choro do capitão Thiago Silva e de outros atletas antes da disputa por pênaltis contra os chilenos mostrava que o nervosismo já atrapalhava a seleção, ainda que comissão técnica e alguns atletas insistissem no discurso de que aquilo era algo comum diante da pressão de jogar uma Copa em casa.
Nos dias seguintes, o assunto não foi esquecido. A psicóloga da delegação, Regina Brandão, foi até a Granja Comary para conversar com os atletas e recuperar o emocional do time.
Mas não era apenas a equipe que se mostrava descontrolada. No mesmo jogo contra o Chile, o diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, se envolveu em uma briga no túnel que vai do campo ao vestiário, agrediu o atacante chileno Pinilla e terminou suspenso por quatro jogos pela Fifa, perdendo assim o resto da Copa.
Com problemas, Felipão resolveu chamar alguns jornalistas mais próximos para uma conversa. E o papo que deveria ser apenas "mais um", como o próprio técnico definiu, se transformou em nova polêmica.
Ao comentar a preocupação com o lado emocional da equipe e o arrependimento em convocar um dos 23 jogadores, Scolari gerou uma crise interna. Parte do elenco e alta cúpula da CBF não aprovaram a decisão do treinador de expor tais assuntos na conversa.
O Brasil seguia no Mundial, mas o clima não era bom. Nem mesmo na vitória sobre a Colômbia por 2 a 1, que garantiu ao time a chance de jogar a semifinal após 12 anos, a seleção teve motivos para sorrir e respirar aliviada.
Se choro e problemas fora do campo pareciam chutados para longe, dentro dele veio o maior dos golpes: a lesão de Neymar – na terceira vértebra após uma joelhada de Zuñiga – que deixou o atacante e grande destaque do time fora do torneio.
Nada parecia dar certo. Até Thiago Silva, que marcou um gol e parecia recuperar a confiança após tanto choro, se deu bem. Ele recebeu o segundo cartão amarelo e foi suspenso.
Novo capítulo, nova confusão. A CBF não queria aceitar a punição a Thiago Silva. Nos bastidores fingia lutar por algo que sabia ser impossível: derrubar a suspensão do zagueiro. Nunca na história da Copa do Mundo isso ocorreu. A Fifa nem mesmo analisou o caso e negou o recurso da entidade.
Pronto, era o que a CBF precisava para apontar uma conspiração contra a seleção. "O hexa incomoda muita gente", afirmava Carlos Eugênio Lopes, repetindo uma frase de Felipão dita a um grupo de jornalistas. Quem se incomodaria com a vitória dos donos da casa, nenhum dos dois ousou apontar. O Brasil já apelava antes mesmo de perder.
Diante de derrotas fora do campo e mais problemas, a seleção entrou em campo na terça com o objetivo de reverter todo o cenário e chegar inteira para uma sonhada final no Maracanã. Nada feito. Os sete gols sofridos, sendo quatro em menos de 20 minutos, fecharam um período que representa fielmente a campanha ruim do Brasil na Copa do Mundo disputada em casa.