Tudo saiu errado no plano de poder do futebol brasileiro
Ricardo Perrone
Do UOL em Belo Horizonte (MG)
Por trás do fracasso da seleção brasileira na sonhada Copa do Mundo em casa está uma série de atropelos motivados por questões políticas e que viraram de cabeça para baixo a preparação do time nacional nos últimos quatro anos. Os acontecimentos em efeito cascata alteraram planos e transformaram em improviso o que foi desenhado como um planejamento ideal.
A história começa em 2010, após a eliminação nas quartas de final da Copa da África, na derrota para a Holanda. Na ocasião, Ricardo Teixeira anunciou que a seleção passaria por uma profunda reformulação. Jogadores da categoria Sub-20 atuariam no time de cima para chegarem rodados ao Mundial de 2014. As categorias de base passaram a ter atenção especial com Ney Franco. No time de cima, Mano Menezes tinha autonomia para apostar nos jovens e deixar os jogadores do antecessor Dunga pelo caminho.
Porém, o trem começou a sair dos trilhos com Teixeira obrigado a se defender de denúncias e preocupado com a guerra política na Fifa, da qual queria ser presidente. À essa altura, Mano Menezes, pressionado a apresentar bons resultados, já não levava tão a sério a renovação, trazendo veteranos de volta para a seleção.
Em março de 2012, Teixeira, acusado de receber propina da empresa ISL como membro do Comitê Executivo da Fifa, renunciou. José Maria Marin assumiu, com Marco Polo Del Nero, de olho na presidência como vice.
Mano, então, ficou na berlinda, pois era ligado a Andrés Sanchez, diretor de seleções e também postulante à presidência da CBF. Em novembro de 2012, o plano traçado inicialmente por Teixeira sofreu seu golpe mais potente com a demissão de Mano à revelia de Sanchez, que depois, revoltado, pediu para sair.
A aposta em dois ex-campeões feita por Marin e Del Nero deixou a seleção ainda mais distante da renovação prometida para 2014. De cara, Felipão trouxe Júlio César, remanescente de 2010 e deu chance a veteranos como Ronaldinho e Robinho. Era um desejo de Marin ver os medalhões de volta.
E Felipão teve que aceitar mais desejos do presidente. Como treinar em Goiânia para a Copa das Confederações, honrando compromissos políticos da CBF. E fazer o último amistoso antes do Mundial no Morumbi, contra a Sérvia, mesmo preferindo um público menos hostil do que o paulistano. Marin precisava agradar o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio. O jogo foi acertado quando Del Nero estava em campanha para ser eleito presidente da CBF a partir de abril do ano que vem.
Nesse cenário, a seleção entrou na Copa do Mundo, com a política interferindo no planejamento. E vai sair dela como em 2010. Vislumbrando uma reformulação que a faça dar a volta por cima. Só que desta vez, após o maior vexame de sua história, o humilhante 7 a 1 imposto pela Alemanha nas semifinais.