Pai do penta vira a cara do maior vexame da seleção brasileira

Paulo Passos

Do UOL, em Belo Horizonte (MG)

Sentado no banco de reservas do Mineirão, Luiz Felipe Scolari vê um erro do seu time em campo. Levanta, leva as duas mãos à boca, como quem vai gritar e quer que o som seja propagado. Antes de dizer um ai, porém, desiste e desfaz o seu altofalante improvisado. Parece que o técnico, então, se dá conta do que o placar lhe mostrava: 7 a 0 para a Alemanha. Nada que falasse iria adiantar. E Felipão, o técnico brasileiro com mais vitórias em Copas, o pai do pentacampeonato, o salvador da pátria para o Mundial no Brasil, volta para o banco e aceita a sua condição de derrotado.

Numa seleção sem nenhum jogador campeão do mundo era ele quem tinha mais a perder em caso de fracasso. E desde o início era sabido – e defendido pela comissão técnica e diretoria da CBF - que tudo que não fosse título seria visto como tal. O que ninguém ousou prever é que havia a possibilidade de algo pior que isso, que uma queda, uma derrota em casa, uma eliminação. Era o vexame.

O tempo dirá qual a imagem que fica para a história do segundo técnico que teve a chance de comandar o Brasil numa Copa disputada no país. Se a dele com os braços aberto e os punhos cerrados correndo como uma criança em Yokohama em 2002, após a vitória sobre os alemães, ou a do grito contido, da vergonha, do vexame pela derrota histórica em Belo Horizonte, a maior já sofrida por uma seleção brasileira em 100 anos de história.

"Não tenho nem dívida nem crédito. Fui em 2002 e ganhamos. Agora todos nós perdemos. Mas a escolha foi minha", resumiu um Felipão arrasado, minutos após a partida.

Ao assumir a seleção como salvador em 2012, ele esbanjou confiança, mostrou ser detentor de um crédito com a torcida e opinião pública que nenhum outro nome teria no seu cargo. A vitória na Copa das Confederações só ampliou a sensação de que o técnico estava acima do bem e do mal. Foi assim, com popularidade inédita para um técnico de seleção e sem contestações em relação a suas escolhas que começou a Copa do Mundo.

A bola rolou e a fantasia da Copa das Confederações virou uma realidade bem diferente. O time tinha mais erros que acertos, sofria para vencer rivais fracos e dava pinta de que se apavorava com isso. Primeiro era a tensão da estreia, contra a Croácia, depois a teoria de que a "natureza não dava saltos", contra o México e Camarões. O sufoco contra o Chile veio por desequilíbrio emocional dos jogadores, como fez questão de vazar o técnico para um grupo de seis jornalistas convidados para uma conversa na Granja Comary, em Teresópolis.

Tudo tinha explicação. E a solução foi apontada por ele mesmo. Simples, o velho Felipão voltaria à cena.

"Estamos sendo muito educados, cavalheiros. Está na hora de eu voltar um pouco ao meu estilo: ser agressivo. Não estou conseguindo aguentar mais", avisou.

O técnico que aposta no tudo ou nada para vencer, no "nós contra todos", na emoção e na comunicação com os jogadores iria comandar a seleção. O que se viu foi um Felipão reclamando de tudo e todos, achando inimigos e defendendo que havia um complô contra a seleção brasileira. Nunca, porém, conseguiu explicar por que Fifa e organização da Copa não queriam o seu sucesso.

Desconfiar de tudo e de todos parecia ser o seu lema. E foi assim até o final. Antes do jogo contra a Alemanha, Felipão teve apenas um treinamento os jogadores titulares. Foi na segunda-feira, em Teresópolis. A formação de time que entrou em campo no Mineirão, com Maicon na lateral e Bernard na frente, foi testada por último, durante poucos minutos, menos do que outras duas alternativas ventiladas pelo técnico.

"Fiz isso porque vocês (jornalistas) estavam lá", admitiu Scolari após a goleada. "Vocês cobrem o treino, escrevem. O adversário escuta e vê. A gente quer confundir", completou.

Parecia que Felipão queria cada vez mais aumentar a sua lista de rivais. Agora, ele terá que conviver com o que até ontem era o seu maior aliado. A história virou seu inimigo. Pois ela conta que o dia 8 de julho de 2014 marca a maior derrota do Brasil no futebol e Luiz Felipe Scolari foi a cara desse fracasso.

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