Arrogante confesso, Kroos simboliza estreia de Alemanha unificada na Copa

Do UOL, em São Paulo

A Copa de 2014 foi extremamente significativa para a identidade nacional da Alemanha. Pela primeira vez na história, o time germânico convocou para um Mundial jogadores nascidos depois da queda do Muro de Berlim - e conseguiu levar a taça. O maior representante desse processo, porém, tem um perfil que é praticamente a antítese de qualquer união. Arrogante confesso, Toni Kroos foi o único representante da porção oriental do país no Mundial.

Kroos nasceu no dia 4 de janeiro de 1990, quando o Muro já havia sido derrubado e a unificação ainda não havia sido consolidada. Natural de Greifswald, ele jogou em equipes da cidade até 2002, quando migrou para as categorias de base do Hansa Rostock. Foi negociado em 2006 com o Bayern de Munique, time que defendeu até a última temporada - deve ir para o Real Madrid após a Copa.

Ainda nas categorias de base, Kroos já era extremamente badalado. O meio-campista frequentou seleções alemãs nas categorias menores e foi eleito melhor jogador do Mundial sub-17 de 2007.

No entanto, o desempenho de Kroos não teve evolução célere. Promovido ao time profissional do Bayern de Munique em 2007, o meio-campista foi emprestado ao Bayer Leverkusen em 2009 e passou 18 meses longe do time que o formou.

Antes de sair, Kroos chegou a reclamar da falta de oportunidades entre os titulares do Bayern de Munique. Em 2012, o meio-campista foi questionado em uma entrevista sobre ser arrogante. "Por natureza, eu sou uma pessoa muito confiante, sim", respondeu.

Foi essa mesma confiança que Kroos mostrou no início de 2014. No dia 19 de fevereiro, o meio-campista marcou um dos gols do Bayern de Munique na vitória por 2 a 0 sobre o Arsenal, em Londres, válida pelas oitavas de final da Liga dos Campeões da Uefa. Nesse jogo, o alemão completou mais passes do que todo o meio-campo da equipe inglesa.

"Há uma semana eu era substituível, e hoje eu sou um herói. Nada disso me interessa. Só estou tentando ajudar meu time", disse Kroos ao ser questionado sobre o desempenho contra o Arsenal.

O contrato de Kroos com o Bayern de Munique vai até 2015, e a negociação tem sido conturbada – principalmente porque o jogador pede um valor muito alto para renovar. Segundo o jornal espanhol "Marca", isso atiçou o Real Madrid, que teria aceitado desembolsar 25 milhões de euros (R$ 76 milhões) para contar com o atleta.

Kroos foi o segundo jogador que mais completou passes na Copa de 2014 (537, com 85% de acerto). Nessa estatística, o alemão perdeuapenas para o compatriota Philipp Lahm (651), que atuou quase sempre como volante e prioriza toques curtos. Aliás, Kroos foi o único que atua no setor ofensivo entre os dez melhores passadores do Mundial.

Em sete jogos da Copa, Kroos ainda acumulou 16 chutes a gol e 20 bolas recuperadas. Assim, o meia do Bayern de Munique foi um dos principais destaques da Alemanha campeão do mundo. Tetracampeã.

A importância de Kroos na Alemanha, contudo, vai muito além do que acontece em campo. Com um futebol agregador, o meio-campista compensa o perfil pouco humilde e simboliza a união do país.

A despeito da queda do muro, a porção oriental da Alemanha ainda sofre para encontrar espaço no futebol do país. Nenhum clube dessa área disputa o Campeonato Alemão, e apenas três aparecem atualmente entre os integrantes da segunda divisão (Erzgebirge Aue, Union Berlin e RB Leipzig).

O histórico dos clubes corrobora o que acontecia com as duas seleções. A Alemanha Ocidental venceu as Copas de 1954, 1990 e 1974, ano em que a Alemanha Oriental fez sua única participação no torneio e foi eliminada na segunda fase.

O investimento da Alemanha Oriental sempre foi mais voltado aos Jogos Olímpicos. Os comunistas disputaram cinco edições da competição, e em todas obtiveram colocações melhores do que a porção ocidental do país.

A queda do muro, portanto, uniu porções nacionais cujas visões dicotômicas não se limitavam à condução da economia. Eram duas Alemanhas com formações culturais absolutamente distintas, e o país ainda convive com essa herança.

Todo esse contexto faz com que seja histórica a presença de jogadores nascidos após a queda do Muro. Os primeiros com esse perfil que entraram em campo com a camisa da Alemanha foram os meias Mario Götze (03/06/1992) e Andre Schürrle (06/11/1990), que estrearam na equipe nacional em 2010, em amistoso contra a Suécia.

Götze e Schürrle seguiram no time e conseguiram vagas entre os 23 convocados para a Copa de 2014. O grupo ainda tem Erik Durm (12/05/1992), Julian Draxler (20/11/1993), Matthias Ginter (19/11/1994), Christoph Kramer (19/02/1991) e Shkodran Mustafi (17/04/1992) como representantes do grupo que nasceu após a unificação nacional.

Motivos que chamam atenção nas semifinais da Copa
  • Folha Imagem
    Títulos
    Nunca na história da Copa do Mundo, a fase semifinal da competição reuniu tantas taças de Mundial. Apenas a Holanda, entre os quatro, nunca se sagrou campeão. O Brasil possui cinco títulos, Alemanha três e Argentina dois. Foto: Folha Imagem
  • Ivan Sekretarev/AP
    Finais
    Holanda, Alemanha, Argentina e Brasil têm uma grande experiência em decisões de Copa do Mundo e não apenas em títulos. Alemães e brasileiros são recordistas com sete finais. Os argentinos já disputaram quatro vezes enquanto os holandeses têm três. Foto: Ivan Sekretarev/AP
  • Jamie Squire/Getty Images
    Invencibilidade
    Campanha praticamente perfeita de todas as seleções, principalmente da Argentina que venceu todas suas partidas até aqui. A Holanda ostentava 100% de aproveitamento até empatar com a Costa Rica nas quartas de final. Já Alemanha e Brasil tropeçaram ainda na fase de grupos, porém todos chegam sem derrotas à semifinal. Foto: Jamie Squire/Getty Images
  • Xinhua/Yang Lei
    Líderes
    A boa campanha na fase de grupos também colocou todos os times na liderança de suas chaves. Brasil deixou México, Camarões e Croácia para trás. Alemanha superou Portugal, Gana e Estados Unidos. Já a Holanda passou pela atual campeã Espanha, Chile e Austrália. A missão mais fácil foi da Argentina que bateu Bósnia, Nigéria e Irã. Foto: Xinhua/Yang Lei
  • REUTERS/Mike Blake
    Poder de fogo
    As quatro seleções aparecem entre as equipes que mais finalizaram nesta Copa do Mundo, atrás apenas da Bélgica e França. Os argentinos foram os que mais tentaram o gol com 87 finalizações. O Brasil vem na sequência com 82. Holanda e Alemanha completam a lista com 75 e 74, respectivamente. Foto: REUTERS/Mike Blake
  • Stefano Rellandini/Reuters
    Gols
    Se depender do retrospecto das seleções, o torcedor pode esperar muitos gritos de gols. A Holanda tem o melhor ataque da competição com 12 gols, ao lado da Colômbia. Alemanha e Brasil aparecem em terceiro empatados com a França, 10 gols para cada. Quem vive a pior situação é a Argentina, que fez 8 gols, metade deles dos pés de Messi. Foto: Stefano Rellandini/Reuters

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