Brasil de Felipão nunca ficou sem Neymar, mas já venceu sem o 10 decidir

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Fortaleza

A seleção brasileira, sob o comando de Luiz Felipe Scolari, não sabe o que é jogar sem Neymar, e terá de aprender na marra em uma semifinal de Copa. O consolo para o técnico e seus comandados é o próprio Mundial. No caminho até a partida decisiva contra a Alemanha, nem sempre o time verde-amarelo dependeu do seu camisa 10 para decidir.

Sem seu principal jogador, o Brasil teve de se virar. A principal arma foi a bola parada. Todos os três gols marcados até agora saíram assim, seja com as jogadas pelo alto ou na cobrança de falta de David Luiz. Contra a Colômbia, especificamente, fez diferença o novo posicionamento de Oscar, que atuou praticamente como um volante, como mostra o mapa de calor da Fifa.

O problema é que a Alemanha apresenta-se como um adversário mais forte que Chile e Colômbia. Para superar a potência europeia, o Brasil precisaria, em tese, ir melhor do que foi até agora. Sem Neymar, a seleção terá de se reinventar. 

A relação entre a seleção é Neymar é complexa. Aos 22 anos, o atacante é a grande estrela da companhia, o responsável por definir o futuro do time. É assim desde 2010, quando ele passou a liderar uma geração que tinha como missão renovar a seleção brasileira.

Desde então, o Brasil fez 59 jogos. Neymar esteve em 54 e marcou 35 gols. Já é, em só quatro anos de seleção, o sexto maior artilheiro da história, atrás de Pelé (77),  Ronaldo (62), Romário (55), Zico (48) e Bebeto (39). É, também, onipresente na gestão de Felipão.

Sob o comando do treinador, o camisa 10 sempre foi titular e só sai se o jogo está fácil ou ganho. Neymar e a seleção são ligados de forma tão intrínseca que nem em treinos se separam. Desde que começou a preparação para a Copa do Mundo se cogitou trocar Oscar, Hulk e Fred, mas em nenhum momento Felipão testou um time sem a presença do craque do Barcelona.

Neymar é quem mais chuta, o que mais corre com a bola e o que atinge a maior velocidade. É o responsável por 80% das jogadas em que um atleta recebeu de fora da área e, sozinho, chegou, à área do time rival.

Os números e o contexto mostram que substituir Neymar é um dilema. Qual é o melhor esquema para enfrentar a Alemanha? Felipão escolherá o ímpeto de Bernard, a classe de Willian ou o voluntarioso Ramires? Seja lá quais forem as respostas, nenhuma deve fechar a porta da seleção. O mata-mata da Copa do Mundo mostra que o Brasil pode, sim, viver sem o atacante.

Neymar foi o grande craque da primeira fase, o que lhe garantiu boa parte dos números descritos acima. Foram quatro gols em três jogos, mesma marca de Jairzinho e Ronaldo, que em suas épocas não chegaram a concentrar tantos gols da seleção. O atual camisa 10, ao contrário dos antecessores, viu seus companheiros irem às redes só duas vezes.

Quando o mata-mata começou, tudo mudou. Contra Chile e Colômbia, foram os zagueiros que marcaram e decidiram. David Luiz é o grande retrato disso. Nas oitavas, fez o dele meio sem jeito, quase roubando um gol contra do seu marcador. Na última sexta, esperou Neymar errar duas cobranças diferentes para só na terceira vez, de longe, tentar a sua e fazer um golaço.

Neymar errou só um chute e terminou a primeira fase como um dos mais precisos da Copa. Em dois jogos, falhou em quatro tentativas e sofreu bem mais com a marcação. Contra Chile e Colômbia, perdeu mais duelos individuais e foi menos decisivo em outros fundamentos como o domínio e o passe. Seu único momento de protagonismo foi quando bateu, e fez, o último pênalti da decisão das oitavas.

 

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