Capital da cerveja fatura com Copa sem peitar monopólio das marcas Fifa

Bruno Freitas

Do UOL, em Blumenau (SC)

Futebol e cerveja é uma tabelinha histórica nas Copas, e o status de marca oficial da Fifa custa muito dinheiro, mas rende cifras proporcionais. E quem está fora da festa das massas faz o que pode para também aproveitar o mês sagrado de negócios, pelo menos uma fatia do bolo. No Brasil, Blumenau está distante do Mundial, mas com a fama de terra das melhores "geladas" do país, procura prosperar nas brechas de atuação.

Enquanto que os estádios da Copa oferecem Budweiser e Brahma (com prioridade de venda para a americana), Blumenau lança ofensiva em direção a uma faixa menor, composta de consumidores interessados em artesanais de qualidade teoricamente superior. Pelas beiradas, a capital da cerveja também aproveita o evento.  

Um exemplo é a Bierland, uma força local, maior cervejaria da região, que produz cerca de 100 mil litros por mês. Por ocasião da Copa, a empresa preparou um modelo especial em colaboração com a marca argentina Antares, usando um lúpulo da Patagônia e o guaraná amazônico. E tudo evitando nomenclaturas e alusões ao torneio da Fifa, para não correr riscos jurídicos. Mas mais do que a série especial para o Mundial, a fábrica celebra o que chama de "segundo verão" de produção e vendas.

"A gente costuma dizer que a Copa é um segundo verão. Uma época em que normalmente você tem uma baixa no consumo de cerveja, pela própria época, por ser inverno, ser mais frio. A gente está vendo um bom consumo. A gente está vendo um consumo diferente dos outros anos", diz Rubens Deeke, sommelier de cervejas da Bierland. "A gente consegue produzir mais, porque está vendendo mais. Por todo esse volume de turistas", acrescenta.

Por sua vez, a prefeitura de Blumenau tem no papel tudo pronto para organizar uma Oktoberfest fora de época, bem pontual, caso Brasil e Alemanha se cruzem na semifinal da Copa. A administração da cidade tem reservado o pavilhão principal da Vila Germânica, espaço que tradicionalmente recebe a festa popular da cerveja, em outubro. A expectativa, se o jogo entre campeões virar realidade, é que pelo menos 40 mil pessoas desfrutem e cosumam na festa.

"A expectativa é muito grande. Dia 8 de julho (terça-feira) é a única data de cruzamento possível para Brasil e Alemanha. Nós já temos um pavilhão da Oktoberfest reservado para isso, atrações musicais e culturais contratadas para isso. Então a gente espera uma grande torcida, tanto pelo Brasil quanto pela Alemanha", manifesta Ricardo Stodieck, secretário municipal de Turismo.

Antes da Copa, a prefeitura ainda negociou para organizar uma mini Oktoberfest em Cabrália, cidade na Bahia que abriga a delegação da Alemanha. No entanto, o evento acabou não vingando.

Santa Catarina não tem sede da Copa e nem recebeu a preparação de nenhuma seleção visitante. Mesmo assim, virou um destino alternativo para quem cruza o Brasil por terra para ver o torneio da Fifa. No último sábado, por exemplo, a Vila Germânica, uma espécie de parque temático da cerveja, foi invadida por um pelotão considerável de australianos, que pararam para tomar algumas e ver uma partida da Alemanha pela televisão. A turma da Oceania vinha de Porto Alegre, onde a seleção do país havia jogado dias antes.

Já no bar de fábrica da Eisenbahn, outra força cervejeira local, cadeiras lotadas em mais um jogo da primeira fase da Copa. Na mesa de amigos o comentário compara os modelos artesanais disponíveis na cidade catarinense com a oferta nos estádios do Mundial. "Os estrangeiros, com certeza, já experimentam as nossas aqui", afirma o vendedor Luciano Rocha.

Em 2006, na Copa da Alemanha, a exclusividade da Budweiser provocou certa contrariedade do povo local, orgulhoso e devotado às cervejas domésticas. Neste ano, a Brahma ocupa uma cota nacional, vendida em espaços oficiais dos perímetros dos estádios. As marcas são negociadas nas arenas brasileiras por até R$ 13. 

Para a Copa no Brasil, os patrocinadores oficiais desembolsaram entre US$ 120 e 160 milhões para fazerem parte da festa da Fifa. A Budweiser (Anheuser-Busch) ainda prevê que gastará entre US$ 600 milhões e 1 bilhão em marketing até o desfecho do Mundial, com a finalidade de aproveitar ao máximo as possibilidades durante o torneio. Para as artesanais, restam as brechas, que também podem ser valiosas. 

BLUMENAU INAUGURA UNIVERSIDADE DA CERVEJA

Um dos indícios de que a cultura da bebida confere à cidade um caráter de segmento estabelecido foi a inauguração da Escola Superior de Cerveja e Malte, em março passado. A instituição oferece mais de cem cursos, de final de semana a uma pós de 18 meses, incluindo disciplinas voltadas a questões tributárias, rótulos e envase. Pessoas de todo o Brasil já procuram a escola por uma espécie de "selo Blumenau" em seu aprendizado.

O nascimento da escola, somado a uma rota turística consolidada, com dois museus pelo caminho e o licor de cerveja de seo Mario Manzke, atende ao 'boom' de interesse brasileiro pelas cervejas artesanais. Os modelos de mais qualidade atualmente contam com participação de apenas 0,5% do mercado nacional, mas o segmento de menos de duas décadas de vida acredita em uma oportunidade de crescimento vigorosa, surfando no aumento de poder aquisitivo do consumidor.

"A cerveja artesanal, as cervejas especiais, têm crescido muito nos últimos anos. Se você pegar a Eisenbahn, uma das grandes forças do segmento, é uma empresa que completou apenas 11 anos. É um mercado muito novo, está em crescimento, está muito ascendente. Tem a ver com o momento de poder aquisitivo da população. E tem a ver com a possibilidade de experimentação. Até 10 ou 15 anos atrás a gente não tinha opções de cerveja no Brasil", opina Carlo Bressiani, proprietário da Escola Superior de Cerveja e Malte.

Além de organizar a Oktorberfest brasileira há 30 anos, Blumenau ainda tem mais dois eventos ligados à bebida em seu calendário anual, como o concurso de cervejas artesanais e o Festival Brasileiro da Cerveja, em março, com participação de produtores de todo o país. 

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