Chico Xavier vai à Sapucaí e segue 'craque' em Uberaba até no mês da Copa
Bruno Freitas
Do UOL, em Uberaba (MG)
Chico Xavier morreu no mesmo dia em que a seleção brasileira conquistou o penta, em 30 de junho de 2002. Naquele momento, o mineiro já estava consagrado como o líder religioso mais popular do país. Hoje, passados 12 anos de seu falecimento, o médium continua a atrair legião de seguidores e simpatizantes do espiritismo até Uberaba. Mesmo em tempos de Copa do Mundo, com a estrutura do turismo nacional mobilizada, a cidade mantém os níveis habituais de visitação.
Assim como em outros municípios brasileiros, a Copa está no ar em Uberaba, com o verde e amarelo decorando as ruas aqui e ali. No entanto, só uma imagem de Neymar é vista, na vitrine de uma loja esportiva. Enquanto isso, a figura de Chico Xavier parece onipresente, em vários tipos de menções. Não importa se o Mundial está em andamento, o "craque" da cidade continua sendo o médium, que vai ter seu potencial pop novamente explorado em 2015, como enredo de escola de samba no Carnaval carioca.
Depois de virar filme de grande bilheteria, Chico Xavier vai integrar a tríade do enredo da Grande Rio sobre Uberaba, que também discorrerá a respeito do sítio paleontológico de Peirópolis e do mercado local de criação de gado zebu. Mas a expectativa é de que o médium e toda sua popularidade sejam o "abre alas" do desfile.
Antes disso, no entanto, Uberaba ainda precisa correr para levantar cerca de R$ 10 milhões nas próximas duas semanas, através de leis de incentivo culturais, para confirmar a parceria com a Grande Rio. Divulgadas na semana passada, as cifras impressionaram a população, e o prefeito Paulo Piau teve que encarar um debate quente na rádio Sete Colinas na última quarta-feira para explicar que não iria tirar verba da saúde e de outras prioridades.
"Temos 15 dias, apenas duas semanas. Queríamos tanto essa oportunidade, agora temos que aproveitar ela", afirmou o prefeito sobre "uma mídia que não tem preço", em uma breve conversa com a reportagem em seu gabinete.
Segundo números da Prefeitura de Uberaba, cerca de 40 mil pessoas visitam a cidade mensalmente para entrar em contato com o legado de Chico Xavier. A estimativa é que esse número apresente um leve aumento no período da Copa, em razão da folga adaptada no calendário de instituições de ensino, por exemplo.
Esta visitação tem como pico os finais de semana, quando Uberaba recebe alguns ônibus lotados de visitantes de outras regiões de Minas e do Brasil. Entre os destinos obrigatórios, o cemitério João Batista, que ainda abriga o corpo do ex-lateral da seleção Djalma Santos. A última morada do religioso, conhecida como Casa de Memórias e Lembranças Chico Xavier, também vale a visita, oferecendo uma coleção de artigos de uso pessoal do médium, como boinas e óculos, além de fotos ao lado de celebridades de todos os naipes imagináveis, de Xuxa a Maguila.
A expectativa é que o turismo local voltado ao espiritismo ganhe um incremento de peso quando o Memorial Chico Xavier for inaugurado. No país de uma Copa de organização atrapalhada, a obra que começou em 2007 também sofreu com atrasos de calendário. Hoje, após a resolução de imbróglios jurídicos, a estimativa realista é de que o moderno espaço esteja disponível para os fãs do médium no começo de 2015. O orçamento é de R$ 4,5 milhões, com recursos provenientes principalmente do Ministério do Turismo, administrados pela Prefeitura.
O legado presente de Chico Xavier aparece no número de centros espíritas de Uberaba, estimados em cerca de 120 – quase o triplo do número de igrejas católicas. E como pode ser óbvio de se imaginar, para entrar em contato com o venerado universo do médium vale mais a peregrinação humana pela cidade. Ou seja, sair por aí atrás de um papo com gente que experimentou sua companhia, como os antigos colaboradores do ídolo, José da Silva Madeira e Euripedes Tahan Vieira, ambos médicos.
"Fora da caridade não há salvação", diz Euripedes, antigo médico particular de Chico Xavier, sobre a principal lição que o ícone espírita deixou, em sua opinião.
Neste mês de junho, na lembrança do aniversário de morte, a memória do amigo está firme no ar, associada de alguma forma com a Copa em andamento. Assim, sobre o dia do penta em 2002, o antigo médico de Chico Xavier manifesta: "ele disse que queria morrer em um dia que o povo brasileiro estivesse muito feliz, para que aquele dia não fosse lembrado com tristeza".