Holanda "liberal" tem praia e curtição na folga sem ninguém pegar no pé

José Ricardo Leite e Vinicius Konchinski

Do UOL, em Fortaleza e no Rio de Janeiro

Copa do Mundo é pressão, tensão, concentração e todos têm que ficar focados só no objetivo final. Evite distrações, amigos, família e conviva só com aquele grupo de pessoas que faz parte da meta final que precisa ser alcançada. Por isso, feche-se para torcida e para o mundo exterior.

Essas regras, porém, não funcionam para o futebol holandês. A estratégia do time laranja para ganhar uma copa passa longe dos clichês estabelecidos pelas velhas cartilhas do futebol e seus ensinamentos ortodoxos. Na Holanda prevalece uma espécie de regime liberal baseado na autonomia dos atletas. A regra é simples: dentro de campo, siga as regras; fora dele, faça aquilo que sua consciência permitir.

Tradicionalmente o que sempre se viu em Copas foi uma delegação holandesa aberta, com atletas próximos de suas famílias e com total liberdade para se fazer o que quiser nos momentos de folga. Essa filosofia voltou a ser implementada na Copa de 2014 depois que o último técnico da seleção, Bert Van Marwijk, decidiu fechar a equipe na Eurocopa de 2012, realizada na Polônia e Ucrânia. Resultado: três derrotas em três jogos e demissão do treinador.

"Isso é uma coisa do jeito holandês. Eles têm que se divertir, não podem ficar confinados e fechados. Eles estão curtindo o Rio de Janeiro e os fãs, e isso é muito importante numa Copa do Mundo. E eles sabem ser focados. Na Euro de 2012, isso foi tirado deles, ficaram tensos, nervosos e desgostosos. Agora Van Gaal voltou a deixá-los assim", falou o jornalista Leon Tem Voorde, do jornal "De Persidenst".

A diferença da Holanda começa já na escolha do local de treinamento e concentração do time. Enquanto outros times da Copa decidiram se isolar em centros de treinamento afastados, a seleção holandesa resolveu se hospedar num hotel em uma das áreas mais movimentadas do Rio de Janeiro e treinar em um dos clubes mais populares da cidade. Para as práticas do dia a dia, o time usa a sede do Flamengo, na Gávea; para descansar, a seleção aproveita o hotel Cesar Park, na frente da praia de Ipanema.

O hotel da Holanda, aliás, é um convite à integração de atletas com o Rio. Não existe área de isolamento entre torcedores e entrada do hotel. Qualquer jogador da seleção pode misturar-se rapidamente com milhares de turistas e cariocas que transitam por Ipanema. Depois dos treinos, sempre fortes, os jogadores têm tempo livre para ficar com sua família e ir onde quiserem. Não existem obrigações coletivas para a delegação. Qualquer um faz o que quiser.

E os holandeses têm feito isso. Em suas folgas, eles saem sozinhos ou em grupos para passear pelo Rio. Alguns vão a pé mesmo. Outros tomam táxis, como qualquer outro turista hospedado no Cesar Park.

Vários atletas já foram flagrados na praia. Na quarta-feira, por exemplo, o astro Robin Van Persie postou em seu perfil em uma rede social um vídeo dele jogando frescobol na areia com o auxiliar técnico da seleção holandesa, o ex-jogador Patrick Kluivert.

"Isso é muito bom pra nós durante a Copa. Nos sentimos muito melhor desse jeito, podendo estar livres e sentindo as coisas, as pessoas, as famílias. E no jogo e nos treinamentos existe a responsabilidade", falou o defensor Bruno Martins.

Segundo o volante De Jong, que foi cortado por lesão, o comportamento mais relaxado da seleção mesmo é típico na Holanda. Segundo ele, todos os holandeses gostam de mergulhar em outras culturas quando viajam e entender um pouco da "vibração" local. No Brasil, eles têm tido espaço para isso. Contudo, esse espaço vai até onde começa a responsabilidade. "Cada time tem sua maneira de se comportar, e não podemos esquecer o que viemos fazer aqui."

O esquema feito pelos holandeses é algo bem diferente do Brasil e impossível de se imaginar que em uma Copa do Mundo nomes como Neymar ou Felipão saiam normalmente da porta do hotel rumo a algum restaurante ou ponto turístico da cidade. Mas, ao contrário daqui, a imprensa holandesa não procura notícia nas folgas dos atletas ou recrimina que eles desfrutem dos momentos como queiram. Confiam na responsabilidade.

"Foi bom isso ter voltado com Van Gaal, pois na Euro eles não saiam do hotel, não falavam com a imprensa, eram mais tensos. Nesse ponto Van Gaal deixa os jogadores mais relaxados. Dá manhãs pra eles livres quando treinam à tarde, e as mulheres dos jogadores estão no Brasil. Eles podem passar esse tempo com a família", falou Edwin Cornelissen, NOS Dutch National Radio.

A Holanda está no Rio de Janeiro e no sábado encara a Costa Rica, em Salvador, pelas quartas de final da Copa. Se passar, encara nas semifinais quem vencer do duelo entre Argentina e Bélgica.

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos