Colômbia e Brasil empatam quando a tabela é entre futebol e letras
Mauricio Stycer
Do UOL, no Rio de Janeiro
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EFE
Gabriel García Marquez, ícone da literatura colombiana, morto no último mês de abril
O duelo entre Brasil e Colômbia, nesta sexta-feira, no Castelão, vai opor seleções com números e conquistas muito diferentes ao longo da história do futebol. A paixão pelo esporte, porém, é praticamente a mesma entre brasileiros e colombianos. E, curiosamente, os dois países também empatam em outro quesito: a pouca tradição de boa literatura sobre o mundo da bola.
É verdade que tanto a Colômbia quanto o Brasil tem troféus a exibir nesta área. O prêmio Nobel Gabriel García Márquez (1927-2014), no início de sua carreira como jornalista, escreveu vários textos sobre o assunto. Em 1950, descreveu as façanhas do brasileiro Heleno de Freitas, então atuando pelo Junior Barranquilla.
"O esporte mais popular do país, que desperta tantas paixões, ainda não produziu um grande romance", diz ao UOL Esporte o escritor Rafael Gutierrez, autor do romance "Como se tornar um escritor cult de forma rápida e simples". "Há várias tentativas, mas poucos alcançaram um grande nível".
No Brasil, grandes escritores, como Graciliano Ramos e Lima Barreto, desprezaram o futebol, mas outros até se aventuraram, como Jose Lins do Rego, por exemplo. O gênero que mais rendeu bons textos sempre foi a crônica. E foi neste terreno que dois irmãos se destacaram – Mário Filho e Nelson Rodrigues.
"Acho que uma coisa que sempre intimidou os escritores foi o fato de nossa crônica esportiva ser tão boa", diz o jornalista e escritor Sergio Rodrigues, autor de "O Drible", elogiado romance, recém-publicado também na Espanha e, em breve, na França.
Gutierrez cita alguns autores colombianos mais recentes que se aventuram pelo tema. Caso de Ricardo Silva Romero, autor de "Autogol" (gol contra), um romance que recria a história de Andrés Escobar, zagueiro da seleção colombiana, autor do gol contra que eliminou sua equipe na Copa de 94, assassinado pouco depois em Medellín.
Além de García Márquez, o craque Heleno de Freitas inspirou outro escritor colombiano, Andrés Salcedo, a escrever o romance "El día en que el fútbol murió". Outro jovem autor, Juan Esteban Costain, se aventurou pelo romance histórico com "Calcio".
São alguns poucos exemplos apenas, diz Gutierrez, reconhecendo que por ser "algo tão presente e tão importante na vida da Colômbia", o futebol deveria estar mais bem representado pela literatura.
Sergio Rodrigues tem outra explicação para a produção relativamente modesta de livros sobre o assunto. "Qualquer esporte é difícil de ser tratado pela literatura. O esporte é uma narrativa pronta, com vitórias, derrotas e dramas. Os personagens reais já tem estatura de mito. Isso torna difícil o trabalho do escritor", diz.
Ainda assim, a pedido do UOL Esporte, Rodrigues elaborou uma lista de cinco livros essenciais sobre futebol. Anote:
1."O negro no futebol brasileiro", de Mário Filho.
2."Anatomia de uma derrota", de Paulo Perdigão, sobre a final da Copa de 1950.
3.À sombra das chuteiras imortais", uma reunião de crônicas de Nelson Rodrigues selecionadas por Ruy Castro.
4."Febre de Bola", de Nick Hornby.
5."Futebol ao sol e à sombra", de Eduardo Galeano.
E boa leitura.