Emotivo e menos participativo, Thiago Silva foge do perfil Dunga de capitão

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Fortaleza (CE)

Thiago Silva
Thiago Silva
Thiago Silva capitaneia a seleção brasileira, mas não segue o padrão de nenhum de seus antecessores recentes na função, especialmente de Dunga, o mais marcante deles. Mais emotivo e menos participativo, o líder da atual geração se distancia do capitão do tetra e seus sucessores. Ele tem um jeito diferente de vestir a braçadeira de capitão da equipe.
 
O zagueiro assumiu a função de capitão em 2012, quando veteranos como Júlio César, Lúcio e Robinho já não tinham mais espaço na seleção de Mano Menezes. Eloquente, dedicado e dono de uma grande ascendência no grupo, soube usar o posto a seu favor e se tornou o maior líder da atual geração, com interlocução direta dos mais velhos aos mais novos, passando pela estrela Neymar.
 
No último sábado, porém, Thiago Silva tomou uma atitude impensável por vários de seus antecessores. Quando a prorrogação contra o Chile acabou, o capitão sentou sobre uma bola, afastado dos colegas, com as mãos nos rosto. Visivelmente emocionado, ele não falou quando os jogadores se reuniram em roda para ouvir as instruções de Luiz Felipe Scolari e mal assistiu às penalidades, ajoelhado com as mãos no rosto.
 
Neste domingo, a conta de Instagram do zagueiro publicou a seguinte mensagem: "As pessoas julgam sem saber o que está acontecendo !! Pra quem falou que eu estava derrotado nesta foto aí sentado na bola !! Estava muito enganado , sou brasileiro e não desisto nunca .. apenas queria um momento meu pra fazer minha oração !! Ok".
 
Após o jogo, no entanto, o capitão já havia admitido que não estava pleno equilíbrio naquele momento. "Eu pedi para ser o último [a bater o pênalti], depois até do Júlio César. Quando você não tá com confiança não tem de pedir para bater", disse o zagueiro, explicando a postura que adotou na hora decisiva.
 
"O capitão do time falou para o Felipão que não queria bater. Isso é um problema, porque ele é um jogador importante. Isso mostra a falta de confiança dele", disse Suzy Fleury, psicóloga esportiva.
 
A favor de Thiago pesa do fato de que a braçadeira da seleção não costuma ser usada por jogadores comuns. Desde Dunga, em 1994, o Brasil teve poucos capitães por acaso. Depois do volante que levantou a taça nos Estados Unidos, ocuparam o posto com alguma frequência o também cabeça de área Émerson, o lateral Cafu e o zagueiro Lúcio. Todos, sem exceção, assumiram o posto com mais idade que Thiago Silva.
 
Mais marcante deles, Dunga recriou a maneira de se capitanear a seleção. Nos anos em que vestiu a braçadeira, sempre esbravejou diante de rivais, árbitros, jornalistas e até dos companheiros. Em 1998, teve uma discussão áspera com o atacante Bebeto no meio do jogo contra a Noruega, na primeira fase.
 
Émerson e Cafu mudariam esse perfil, mais discretos e equilibrados. O estilo Dunga só voltou quando Lúcio assumiu o posto. Como o volante que o antecedeu, o zagueiro já brigou com colega em campo e disparou até contra a geração atual. Em 2011, na Copa América, disse que "o símbolo na frente é mais importante que o nome nas costas", uma alfinetada nos mais jovens que tomavam conta do time naquela oportunidade.
 
Thiago Silva evita confrontos do típicos de Dunga e Lúcio. Em entrevista ao UOL Esporte antes da Copa, explicou que sabe a forma de se comunicar com cada um dos colegas, o que já o diferencia de Dunga e Lúcio.

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