Tradição brasileira em oitavas é feita de massacres e algum sofrimento

Fernando Duarte

Do UOL, em Belo Horizonte

Instituídas em 1986 como forma de reduzir o número de jogos resultantes do aumento de 16 para 24 times participantes da Copa do Mundo e acabar com o complicado sistema de grupos que tinha vigorado entre os Mundiais de 1974 e 1982, as oitavas de final têm sido marcadas por uma tradição brasileira de massacres e pouco sofrimento. De sete ocasiões, a seleção tem seis vitórias e apenas uma derrota – para a Argentina, em 1990. Mas não leva gol nesta fase há três mundiais.

A equipe também se destacou pelo número de gols marcados: foram 17, sete deles contra o Chile, que tombou por 4 a 1 em 1998 e 3 a 0 há quatro anos. Os chilenos, ao lado da Argentina, foram o único país que conseguiu vazar a defesa da seleção neste estágio do mata-mata. Foi também nas oitavas de final que o Brasil enfrentou pela única vez uma equipe africana numa etapa eliminatória – Gana, vencida por 3 a 0 em 2006.

No primeiro Mundial sob o novo sistema, no México, quando a solução para equacionar 24 equipes foi premiar os quatro melhores terceiros colocados entre os seis grupos com uma vaga na segunda fase, a seleção goleou a Polônia por 4 a 0, apesar de um começo nervoso em que levou duas bolas na trave. Quatro anos mais tarde, na Itália, depois de "carimbar" quatro vezes os postes argentinos, a seleção tombou com um gol de Cannigia, aos 35 minutos do segundo tempo.

A campanha do tetra sobreviveu a uma estranhíssima partida da seleção contra os anfitriões EUA em 1994. Num 4 de julho, o Dia da Independência americana, o time perdeu Leonardo, expulso por acertar um adversário com uma cotovelada, e penou para "achar" um gol com Bebeto aos 27 minutos do segundo tempo, em que o então jogador do La Coruña, eufórico com o gol, gritou um "eu te amo" para Romário ao agradecer uma assistência.

Na França, em 1998, o aumento de participantes para 32 times acabou com a "moleza" para terceiros colocados – em oito grupos, dois times passavam para a fase seguinte. Depois de sofrer sua primeira derrota na fase de grupos em 32 anos, a seleção despachou os chilenos, cujo entusiasmo foi esfriado com dois gols de Cesar Sampaio e um de Ronaldo nos primeiro tempo.

A controvérsia marcou o duelo entre Brasil e Bélgica nas oitavas em 2002, quando os Diabos Vermelhos acreditaram ter aberto o placar com uma cabeçada de Marc Wilmots, mas o gol foi anulado pelo árbitro jamaicano Peter Prendergaast. Os gols brasileiros só saíram no segundo, com Rivaldo e Ronaldo – este aos 43 do segundo tempo.

Gana foi a vítima brasileira na Alemanha, em 2006, numa partida em que a seleção brasileira deu a falsa impressão de que deslanchara num Mundial em que o sobrepeso de Ronaldo, não seus gols, chamavam mais atenção. Já na África do Sul, os chilenos mais uma vez tentaram atravessar o caminho brasileiro, mas foram derrotados confortavelmente.

Um dado preocupante para quem curte fatalismos, porém, é que, desde a criação das oitavas, o Brasil caiu nas quartas na maioria absoluta das ocasiões em que venceu o primeiro desafio do mata-mata com facilidade: tanto em 1986, como 2006 e 2010, a seleção falhou em chegar às semifinais.

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