Moradores de Itaquera elogiam segurança, mas se frustram com a Copa

Paulo Anshowinhas

Do UOL, em São Paulo

Para descobrir o impacto da Copa e das obras na região do Itaquerão sobre a vida das famílias em seu entorno,  a reportagem do UOL Esporte foi para Arthur Alvim, AE Carvalho e Itaquera para saber o que mudou no cotidiano dessas pessoas com a realização do evento neste local.

O policiamento reforçado foi a única opinião unânime entre todos os entrevistados. Na estação Arthur Alvim do Metrô, por exemplo, a quantidade de policiais militares em circulação era fácil de se notar.

Ao chegarmos na Avenida Campanella, em Cidade A.E. Carvalho, destino final da estação Itaquera em frente ao novo estádio, ruas decoradas eram sinal de festa, e logo presenciamos uma batida policial em frente a um estacionamento.

"Agora está bom, mas queria que fosse sempre assim", disse desanimado o gerente do estacionamento Adilson Paulino, de 56 anos, e 30 como morador da região. Com uma vista privilegiada para o Itaquerão, para ele "nada mudou". "Apenas que temos de fechar o estacionamento em dias de jogo, porque interditam a avenida", reclama.

Na mesma quadra, um grupo de turistas chilenos sai de uma pequena hospedaria que tem como chamariz um promoção de R$ 26 a diária.  "Esse valor é apenas para curta permanência de até duas horas, a média é R$ 126", explica o gerente Paulo Cesar Rapetti, de 32 anos, que cuida do Hotel Adrenalina.

"Para dizer a verdade quando abrimos o hotel (em 2008) nem tínhamos notícia de que haveria estádio ou eventos da Copa por aqui", prossegue. "Quando soubemos disso, esperávamos uma ocupação de mais de 80%. Mas nos frustramos quando vimos que essa taxa não aumentou sequer 15% ", lamenta ao contar que o estabelecimento possui 60 suítes e tem vagas disponíveis.

Para aliviar o orçamento, Paulo espera passar rápido os jogos da Copa, para que o estádio possa trazer grandes eventos corporativos, e com eles novos hóspedes. "Essa é a nossa expectativa", diz ele.

"Se mudou foi para pior", afirma a dona da imobiliária Tradição, Nice Telles, de 58 anos. Moradora da região há mais de 37 anos, Nice considera que "os preços do imóveis aumentaram demais e o poder aquisitivo das pessoas não".

Ela dá um exemplo. Um sobrado de três quartos nessas imediações custava há dois anos cerca de R$ 250 mil. Hoje o mesmo imóvel é colocado a venda por no mínimo R$ 450 mil. "Tá tudo parado. É festa demais e venda de menos. Vamos aguardar passar a Copa para as pessoas voltarem a realidade", argumenta.

Mas nem tudo são lágrimas. Um dos exemplos de melhoria para ela, está nas passarelas que passam pela Avenida Ticoatira (atual Calil Eid) ao redor do estádio. Segundo Nice, antes dessa obra havia um grande matagal, hoje tem vias de acesso de qualidade e iluminação adequadas.

Carteiros, vendedores e taxistas também se queixam da situação

"Em dia de jogo aqui é um sufoco", desabafa o carteiro Carlos Andrade, de 35 anos, que encontramos dentro de um ônibus em direção ao centro de Itaquera, cerca de 15 minutos do estádio, ao lado de um viaduto em construção na avenida Jacu Pêssego.

"Hoje para nós que trabalhamos na rua está mais seguro pois tem muitos policiais nas ruas, mas quero ver se a Copa vai deixar algum legado", questiona.

Dias de jogos tem sido um martírio para alguns comerciantes. É o caso de Rogério Silva, de 39, da Banca Alvim, ao lado da estação de Metrô. "Em dia de jogo vem bastante gringo, mas para beber, para nós o faturamento caiu mais de 30%", reclama.

Ruim para uns, bom para outros. Em frente a banca, e com dois restaurantes na mesma rua, a Casa do Pastel apresenta números positivos. "Eu acho que aumentou ao menos uns 6% na venda em geral", afirma Ailton da Silva, de 44 anos, e 11 na profissão no mesmo endereço.

"Os gringos vem aqui mais para beber do que para comer. É muita muvuca e pouco dinheiro, mas não posso reclamar", comenta rapidamente Ailton em um frenesi de entrega de pastéis e lanches.

O taxista Waldy Pereira, de 46 anos, que o diga. A maioria dos passageiros estrangeiros que ele transporta quer ir para balada. "Vila Madalena, Itaim Bibi e Brooklin são os destinos. Eles já vem com um papel na mão, e nem preciso me preocupar com o que eles estão falando", conta.

Mas o que poderia significar lucro, acaba se transformando em empate nesse ramo. Isso porque ao mesmo tempo em que mais visitantes precisam de taxi, mais taxistas também se dirigem essa região. "Aumenta a demanda mas também aumenta o número de taxistas, ai dá na mesma", analisa.

Já o presidente da Comissão dos Ambulantes do Centro de Itaquera, Martinho Arruda de 61 anos, tem uma opinião muito mais crítica de tudo que está ocorrendo com a Copa em São Paulo.

"Mudou foi para pior", dispara. "Ninguém tá vendendo nada. Está tudo parado, o movimento caiu pela metade", avalia.

"Quando fizeram uma reunião dois anos atrás na subprefeitura, pediram para gente aprender inglês. Eu acho que eles (os estrangeiros) é que tem de aprender a falar português para falar com a gente", comenta irritado.

Para fechar, Martinho joga um balde de água fria nos foliões das ruas.

"Agora é festa, é jogo, é churrasco. Quando passar a Copa e começar a chegar as faturas aí eu quero ver a festa", finaliza.

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