Ciclo de críticas e depois elogios à Copa segue padrão, mostra pesquisa
Mauricio Stycer
Do UOL, no Rio
A onda de críticas, avaliações negativas e, mesmo, a projeção de cenários catastróficos antes da Copa do Mundo de 2014 não é um fenômeno incomum. Igualmente, a mudança de percepção, durante e possivelmente depois do evento, com a predominância de elogios, também já ocorreu antes e segue um padrão internacional.
Diferentes pesquisadores que estudam mega-eventos, como Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, já perceberam esses dois ciclos. "Isso está acontecendo aqui no Brasil neste momento", observa Lamartine da Costa, pesquisador de mega-eventos da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da Univesity East London.
Um estudo de 2010, feito pela pesquisadora Jiajun Yao, na Iowa State University, nos EUA, detalhou como isso ocorre. Ela analisou o conteúdo de três dos principais jornais americanos, "New York Times", "Los Angeles Times" e "Washington Post", durante um ano antes e até um ano depois dos Jogos Olímpicos de Pequim (2008), Barcelona (1992), Seul (1988) e Moscou (1980).
"Os resultados oferecem evidência empírica que sustentam a observação que, depois dos Jogos, a cobertura dos jornais sobre o país-sede melhorou em termos de visibilidade e valor", escreve ela na conclusão.
"Este é um tema que interessa muito a todos os estudiosos de mega-evento. Gostaria de entender, também, como funciona esta mudança de humor da mídia", diz Costa. Ele mencionou esta tendência durante painel realizado no Centro Aberto de Mídia aberto pelo governo do Brasil no Rio para dar apoio a jornalistas estrangeiros.
Com exceção da Espanha, que antes mesmo dos Jogos de Barcelona já contava com uma cobertura um pouco mais equilibrada entre críticas e elogios, o estudo de Jiajun Yao mostra que a Coréia do Sul, a então União Soviética e a China viram o vento virar a favor na imprensa americana depois que suas cidades hospedaram os Jogos.
"Os resultados da pesquisa mostram claramente que o número de reportagens com tom negativo sobre o país-sede declinaram significativamente depois de cada Olimpíada", escreve Jiajun Yao.
Outra conclusão interessante: "Os resultados sugerem que os Jogos Olímpicos podem, de fato, servir como uma ferramenta para reparar a imagem do país-sede diante da comunidade mundial".
E por fim, ela escreve: "Além disso, os resultados sugerem que eventos esportivos grandiosos como os Jogos Olímpicos são difíceis de separar da política, como fica claro pelo ângulo político da cobertura dos jornais aos quatro Jogos Olímpicos."
Lamartine da Costa nota um fenômeno interessante no Brasil, neste momento. "A própria mídia está percebendo que o seu humor mudou."