Fase ruim de Paulinho explica as dificuldades do Brasil na Copa do Mundo
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Teresópolis
Depois de dois jogos, poucos jogadores da seleção brasileira receberam tantas críticas quanto Paulinho. O volante que está jogando a Copa do Mundo não parece o mesmo jogador que foi o motor do time na conquista da Copa das Confederações em 2013, decisivo na defesa e no ataque. E essa fase ruim do jogador explica, e muito, os problemas de Luiz Felipe Scolari nas duas partidas que disputou no Mundial até agora.
O lado mais evidente das dificuldades do ex-corintiano são os passes. Ele é o terceiro jogador com pior aproveitamento no fundamento da seleção brasileira. Ele tentou 61 passes nos 153 minutos que jogou contra Croácia e México e acertou apenas 42. São 68,9%. Entre os meias da seleção, só não vai pior que Oscar, que só teve sucesso em 67% das suas tentativas. Entre aqueles que foram titulares nos dois jogos, só Fred bate a dupla, com 52% de acerto.
O índice diz muito: os volantes atuam em uma área do campo em que se passa mais vezes a bola para o lado, em toques curtos. Não por acaso, zagueiros e laterais são os jogadores que costumam ter o maior número de acertos no fundamento. Compare com o rendimento de 2013, quando foi fundamental na conquista do título da Copa das Confederações: ao longo do torneio, ele acertou 80,4% dos passes que tentou, e seu pior desempenho foi de 72%, na estreia contra o Japão.
Mais do que isso, porém, é o uso que o time faz de Paulinho. No ano passado, o jogador se envolvia em quase todas as jogadas do time. Dava, em média, 43,5 passes por jogo. Um ano (e uma temporada irregular no Tottenham, da Inglaterra) depois, esse número caiu para 30,5. Parece uma variação pequena, mas olhe para a porcentagem: 30% a menos. Mais ou menos como dizer que, a cada três passes que iriam para Paulinho em 2013, um está indo para outro jogador em 2014.
Isso também afeta a movimentação de todo o time. Paulinho é o que convencionou-se chamar de jogador box-to-box. Em tradução livre, significa que ele atua de área a área, alternando papéis ofensivos e defensivos com habilidade, correndo por todo o campo e furando as linhas adversárias. Na Copa do Mundo, ele tem se movimentado menos.
O mapa de calor de Paulinho, que indica por quais lugares do campo ele mais passou ao longo do jogo, mostram que ele permanece por mais tempo próximo ao círculo central, embora avance e recue ocasionalmente. O impacto disso? Seus companheiros acabam sobrecarregados.
Defensivamente, Luiz Gustavo é obrigado a se desdobrar na marcação. É ele que precisa cobrir o seu setor, o meio-campo, além dos avanços dos laterais - outra grande crítica ao time de Luiz Felipe Scolari. Foi depois de um bote errado de Paulinho, por exemplo, que a Croácia conseguiu abrir o jogo na esquerda para dar início ao que seria o gol contra de Marcelo, na abertura da Copa.
Da mesma forma, no ataque ele tem deixado toda a criação a cargo de outros jogadores. Oscar acaba sobrecarregado, mais marcado pelos rivais e obrigado a arriscar passes mais complicados - daí seu índice mais baixo no aproveitamento do toque de bola. Neymar também precisa se envolver com mais intensidade na criação de jogo e não na conclusão dessas movimentações.
Mesmo quando avança como elemento-surpresa, sua característica mais marcante, Paulinho tem falhado. Contra o México, aos 25 do primeiro tempo, Neymar arrancou pela esquerda e cruzou rasteiro. O volante, que aparecia livre no meio para finalizar, passou da bola e perdeu a chance.
O problema é que Paulinho não é um jogador facilmente substituível. No elenco que possui, Scolari tem Hernanes, Ramires, Willian e até Fernandinho como opções para a vaga do camisa 8. O único que apresenta características semelhantes ao ex-corintiano é Fernandinho, que também é rápido, com boa chegada ao ataque e poder de marcação.
Sem nenhum reserva que se destaque, Felipão tem demonstrado preocupação com Paulinho. O volante chegou à Granja Comary depois de uma temporada de estreia turbulenta no Tottenham. Teve problemas com o treinador e amargou o banco de reservas na reta final do Campeonato Inglês, além de ter tido uma lesão no tornozelo direito.
O técnico chegou a poupar o jogador do penúltimo amistoso antes da Copa, contra o Panamá, mas agora parece mais preocupado em fazê-lo jogar. No fim de semana passado, quando o time se preparava para o jogo contra o México, Felipão escalou Paulinho para treinar entre os reservas contra o sub-20 do Fluminense, para dar mais tempo em campo para o volante. Resta saber se a prática pode fazer o jogador voltar a render como há um ano.