Má atuação muda o tom na seleção: Sai a curiosidade, entra a pressão

Gustavo Franceschini, Paulo Passos e Ricardo Perrone

Do UOL, em Teresópolis

O empate contra o México mudou o tom das entrevistas da seleção brasileira. Acostumada a só vencer desde o começo da Copa das Confederações, em 2013, a equipe, em três momentos diferentes, viu o tom que dominou as primeiras semanas mudar. Depois de vários dias respondendo sobre curiosidades diversas e a expectativa de glória, jogadores e técnico agora precisam explicar porque o time não vai bem.

"Por que a seleção não repete o futebol do ano passado?", "Você acha que o time está treinando pouco?" e "Por que os jogadores da sua posição estão sendo questionados?" foram só algumas das perguntas mais duras direcionadas a David Luiz e Marcelo, escolhidos para a entrevista coletiva desta sexta. O mesmo já tinha acontecido na quinta-feira, quando foi o goleiro Julio Cesar o escolhido para falar com os repórteres.

O tom das questões reflete uma insatisfação com a seleção brasileira. Pela primeira vez desde 1978 o Brasil não consegue a classificação antecipada para a segunda fase. Desde 1982, o centroavante da seleção não passa os dois primeiros jogos sem marcar. A última vez em que a equipe verde-amarela tropeçou na primeira fase foi em 1998.

As estatísticas e efemérides só ajudam a mostrar o que ficou claro em campo. Contra a Croácia, o Brasil contou com um pênalti duvidoso, no momento em que estava pior no jogo, para virar o placar. Diante do México o time parou no goleiro Ochoa, é verdade, mas em 90 minutos a seleção mostrou grande dificuldade para criar e viu alguns de seus titulares atuarem abaixo da média.

Tudo isso ajudou a mudar o clima na seleção. Até então, a expectativa de um novo rol de boas atuações, como na Copa das Confederações de 2013, transformou a concentração da Granja Comary em um ambiente leve para os atletas. No contato com a imprensa, os jogadores responderam sobre suas relações pessoais, seus gostos, as brincadeiras internas e outras curiosidades. Agora, tudo mudou.

Nesta sexta, só Marcelo teve de responder três perguntas praticamente idênticas que relacionavam o desempenho atual àquele apresentado na Copa das Confederações. "Acho que várias seleções estudaram a gente, fica um pouco mais difícil. A gente sabe o que tem de fazer. Copa é assim, cada jogo é mais difícil que o outro, a gente tenta fazer o que o professor pede para sair com as vitórias", disse o lateral.

"Quem disse que treino é só dentro de campo, correndo atrás de uma bola? Tem inúmeras formas de treinamento fora de campo, com treino psicológico e mental. A gente consegue aprender olhando outros profissionais também", disse David Luiz, sobre a suposta falta de treinos da seleção. Até mesmo o hino nacional cantado a capela, considerado arma antes do Mundial, já virou um problema, com muita gente questionando a importância dada ao gesto e a reação dos jogadores ao ouvir a manifestação da torcida.

O roteiro já havia sido o mesmo nos três últimos dias. Ainda em Fortaleza, os jogadores e o próprio Felipão tiveram de responder sobre o mau futebol logo após o 0 a 0. O técnico chegou a se irritar durante a entrevista coletiva, dando perguntas curtas e bradando contra os repórteres.

"Se ainda confio? Já disse dez vezes, vocês que fazem ilações de vocês, pensam a, b, c ou d. Só penso o que tenho de pensar no meu time e ponho equipe que acho que tem que por. Se classificar ou não é assunto meu. Podem fazer 300 equipes, quem querem ou não, mas não podem fazer diferença no meu pensamento", disse Felipão, em um tom que deixa clara a mudança no clima. 

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