Faltava pouco mais de uma hora para o início da partida entre França e Suíça, na Arena Fonte Nova, quando a adolescente Laiara Costa Luz ouviu a pergunta. "Quer ver o jogo na Fonte Nova?" Desconfiada do rapaz que falava português misturado com espanhol e sotaque alemão, ela pareceu não acreditar. O rapaz tirou de um envelope dois ingressos e ofereceu de novo. "É para levar o seu irmão também". O garotinho abriu logo o sorriso. Em seguida, ela foi chamar a tia, Ana Paula Luz, que também ganhou um bilhete para a partida.

Os alemães cumpriam em Salvador uma espécie de missão do personagem inglês Robin Hood, que roubava a nobreza para dar aos pobres. Isso porque eles ainda tinham mais uns dez ingressos em mãos, que seriam vendidos para os torcedores suíços, que segundo ele, "têm muito dinheiro".

"Eu tenho aqui alguns ingressos e resolvi dar para a população de Salvador. Parece que as pessoas daqui acabaram ficando fora da Copa do Mundo, justamente por não ter dinheiro para comprar os ingressos", disse o alemão Moritz Wohlrab. Cada um dos ingressos tinha o preço de face de US$ 90, pouco mais de R$ 200.

O grupo de alemães pretendia assistir a partida e negociar os demais ingressos por um bom preço para os suíços. No entorno do estádio, bilhetes eram vendidos abertamente por cerca de R$ 400 no câmbio paralelo, mesmo com a proibição da Fifa.

"Nosso objetivo é fazer as pessoas felizes. É uma pena que em uma Copa no Brasil a maioria da população fique sem acesso aos jogos", disse ele. Ana Paula disse que ainda precisava dar um jeito para ir ao jogo, já que cuida de uma pessoa idosa.

"Ainda falta um tempinho e vamos tentar ver a partida", disse, deixando as crianças ansiosas. Apesar de não haver mais ingressos para venda, o estádio da Fonte Nova não deve ficar lotado nessa tarde. O movimento de torcedores durante toda a manhã foi apenas razoável, com presença maior dos suíços.