Mexicanos querem ver jogo com R$ 6 no bolso, biscoitos e dias sem banho

José Ricardo Leite

Do UOL, em Fortaleza (CE)

  • José Ricardo Leite/UOL

    15.06.14 - Mexicano quer ver jogo da Copa com só R$ 6 no bolso

    15.06.14 - Mexicano quer ver jogo da Copa com só R$ 6 no bolso

Eles querem participar da Copa e mostram que dá para curtir sem quase nada no bolso. O que eles têm? Duas bicicletas, duas redes, uma mochila com poucas trocas de roupas, sandálias no pé e sementes, linhas e madeiras para fazer artesanato e vender. Ainda assim sonham em entrar em uma das milionárias arenas brasileiras para prestigiar sua seleção.

Dos mais de dez mil mexicanos que invadiram Fortaleza para o jogo contra o Brasil, na terça-feira, dois chamavam muito atenção: Hector Maldini e Edgar Gari, dois trabalhadores da cidade de Monterrey que estão praticamente virando hippies ao realizarem o sonho de seguir seu time em um Mundial. O primeiro, engenheiro agrônomo, e o segundo, soldador de ferro.

Pedalaram em bicicletas velhas e que aparentam pouca confiança por cerca de 6.000 km desde janeiro até agora para estar em um país sede de Copa. Se der pra ver o jogo, melhor. "Não temos ingresso, mas quem sabe não podemos conseguir? Viemos para apoiar o México. É um sonho que temos desde criança", falou Maldini.

Respondem naturalmente às perguntas como se para tudo houvesse uma solução fácil. Como, por exemplo, onde dormem. Falam naturalmente das redes que trouxeram como uma grande ideia."Algumas vezes dormimos em banheiros em postos de gasolina, que têm banheiro. Colocamos as redes lá. Não precisamos de hotel ou casa, só de um banheiro", disse Maldini.


"Dormimos nas estradas, não temos onde dormir. Dormimos em rodovias ou praças. Às vezes na rede, às vezes no chão ou onde conseguimos colocar as redes, em um galpão. Tem lugares onde nos deixam pendurar as redes, como próximo a taxistas", complementou Gari.

E o banho? Tomam quando dá. Na trajetória toda, chegaram a ficar sete dias seguidos sem água e sabonete. "Na Colômbia ficamos sete dias sem banho. Não tinha chuveiro nos postos", falou Gari. "Mas tomamos banho no mar, ou algumas vezes com água e caneca."

Se a rede é a grande sacada para dormir, pulseirinhas e brincos são o apoio para conseguir dinheiro. A dupla saiu com apenas US$ 200 no bolso do México e não tem mais nada. Mas ainda assim os dois amigos acham possível conseguir alguns dos salgados ingressos para ver um jogo do Mundial.

"Vendendo artesanato. Saímos do México com US$ 200, mas acabou. Agora, neste exato momento, olha só quanto eu tenho. Apenas R$ 6. Vou fazer malabarismo e vender pulseirinhas e brincos", explicou Gari mostrando três notas de R$ 2 que tinha em seu bolso.

Matar a fome não é problema. É só pegar o saquinho de papel que carregam na cintura e mostrar o que lhes abastece. "Biscoito e manteiga."

Se não der para angariar dinheiro para ver o jogo em Fortaleza, ainda há esperança. Partirão para o Recife na tentativa de ver o jogo contra a Croácia, no dia 23. Mais pé na estrada.

Ataques de ladrões não os temem. Afinal, o máximo que podem levar são R$ 6 e as bicicletas. Mas e se elas forem roubadas? "Não tem problema. Pedimos carona", finalizou Gari.

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