"Sultão brasileiro" vai deixar suas 3 mulheres na mão no dia dos namorados

José Ricardo Leite

Do UOL, em Fortaleza (CE)

  • José Ricardo Leite/UOL

    Seu Franciné tem três esposas e 51 filhos e mora no interior do Ceará

    Seu Franciné tem três esposas e 51 filhos e mora no interior do Ceará

Ele tem três mulheres e escolhe qual quer e a hora que quiser. Não ouve uma palavra dura sequer de nenhuma delas e coitada de alguma que reclamar. Dá a palavra final e bota ordem em uma família que mora junta e nem ele sabe em quantos são. Pela autoridade e domínio sobre as três casas em que mora e pela poligamia que vive, seu Franciné, 80 anos, é considerado o sultão brasileiro.

Mas, ao contrário dos históricos sultões que governaram diversos reinos, o cearense não mora em luxuoso palácio, não. Suas três moradias são em um mesmo espaço, uma ao lado da outra. Mas são construídas com madeira, paus, terra, areia e muito ferro velho. Até uma antiga placa de trânsito, toda enferrujada, ajuda a tapar os buracos dos telhados. Em vez de ouro e diamantes, ao redor o que se vê são pneus jogados, galinhas, cachorros, vacas e alguns jegues. As galinhas trafegam dentro das casas como se fossem um dos filhos.

As botas de tecidos raros dos tradicionais sultões também não são comuns nessa versão nordestina. Elas dão lugar a um pé descalço, sujo e machucado. "Tem uma pulga aqui, vô", ouviu de uma das netas, que tirava um bicho do pé do velhinho.

O que ele tem de sultão é, na verdade, a poligamia. Franciné teve, ao longo de sua vida, 51 filhos. Alguns já até morreram. Não sabe dizer quantos. Parou de ter filhos aos 57. Com as três mulheres que vive (sem ser casado no papel), que são irmãs, são 36. Destes, 16 filhos moram em um espaço de três casas na beira de uma rodovia, no município de Pacajus, a cerca de 50 km de Fortaleza. 

"Ontem uma menina veio me beijar e falou ´benção, vô´. E eu falei 'nossa, você é minha neta? Você é filha de quem?", falou Franciné, ao UOL Esporte. "Ele nem sabe reconhecer mais quem é neto, a gente tem que avisar", disse Joel, 18 anos, um dos netos.

Quando pergunto a uma de suas mulheres quantos moram no local, ela diz. "Umas 30 pessoas. Já não sei mais…tem três do Manoel, um do Rafael, um da Rafaela, deixa eu ver", falou, pensativa. "Entre 30 e 40, acho. Só na minha casa são 15. Mas temos ainda 14 cachorros", cravou, orgulhosa.

Mas, mesmo com três mulheres, ele adianta que não vai dar presente pra nenhuma delas neste dia dos namorados. Quer saber mesmo é de outra coisa. "Tem jogo do Brasil. É o único jogo que eu gosto de ver. Vai ser ruim me tirar da TV. Isso aí não tem toda hora, né? Vou ver com pipoca e pé duro", falou. O "pé duro" é como chama seu cigarro feito de palha.

Mas as mulheres não vão reclamar? "Claro que não. Ai delas se reclamarem. Aqui faço o que quero. E olha que tenho direito a sete mulheres. Mas agora sou só delas. Já dei muita escapada por aí. Todo homem tem que dar. Você não dá não?", perguntou. "Não é sempre que tem esses jogos aí, né? A cada um bocado de anos. Eu não gosto de ver muito quando passa na TV porque esses novos nem conhecem a gente. Mas quando é Brasil tem que ver. Elas vão ver também e fazer café e pipoca pra todo mundo."

O sultão brasileiro vive entre as três casas e uma capela de barro cheio de santos. Ele faz rezas para várias pessoas que aparecem por lá. E diz que não tem hora pra decidir com qual das mulheres fica. "Decido na hora. E elas nunca brigaram, não", falou. E as irmãs aceitam bem a partilha do velhão pegador.

"Ele nunca fala onde vai", falou a mulher Leonilde. "Tem dia que ele vem, tem dia que não, mas aí sabemos que ele está com alguma das outras. Mas não ficamos com raiva, não, nunca brigamos entre nós", falou Maria Félix.

E presentes, será que elas ligam de ficar sem e ter que ver o marido de folga na TV? " Ele já nos dá todos os dias a presença dele aqui. É esse o presente", falou Leonilde. "Faço muita reza pra elas. Esse negócio de presente não tem, não. Nem sabemos dessas coisas de data", falou Franciné.

Sobre seleção em Copa do Mundo, já viu todas. E conta as lembranças que tem. "Garrincha era melhor do que Pelé. Ele só tocava pro Pelé fazer todos os gols", disse. Quando perguntado sobre Neymar, respondeu: "Não conheço ele pessoalmente, ele nunca veio aqui. Mas na TV eu já vi, sim."

A última dúvida era qual das três televisões possíveis ele escolheria para ver o jogo entre Brasil x Croácia, nesta quinta-feira, na abertura da Copa do Mundo. E a escolhida foi a casa de Leonilne. "Gosto dessa daqui. É mais perto da rede", disse ao apontar uma porta por onde saía uma galinha.

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