Espanhóis criam camisa anti-monarquia para torcer na Copa e protestar

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona (Espanha)

  • João Henrique Marques/UOL

    Jovem espanhol exibe camisa anti-monarquia feita para torcedores usarem durante a Copa

    Jovem espanhol exibe camisa anti-monarquia feita para torcedores usarem durante a Copa

Uma camisa alternativa da seleção espanhola virou febre no país para o período da Copa do Mundo. O tradicional vermelho dá lugar ao roxo e o distintivo do uniforme também tem mudanças. A explicação para tal é política e muitos espanhóis assim encontram uma razão para apoiar a atual campeã do mundo e expressar a revolta contra o atual regime no país.

A ideia partiu de um grupo de jovens madrilenos contrários à monarquia e defensores da terceira República. O uniforme foi criado logo após a conquista da Copa da África em 2010, mas foi neste mês de junho que as vendas explodiram devido à renúncia do Rei Juan Carlos e a proximidade da Copa no Brasil.

"Começamos vendendo pela internet e percebemos que a aceitação era grande. Os números eram bons, vendemos mais de 25 mil nesses quatro anos, só que essa semana tivemos um aumento de mais de 2.000% nas vendas. É uma maneira de torcer pela Espanha sem apoiar  Federação de Futebol", disse  ao UOL Esporte, Andreu LLabina, o fundador da franquia da loja em Barcelona, 

A Federação espanhola de futebol é a Real Federação, caracterizada pelo apoio ao regime monárquico. O uniforme número um da Espanha é o vermelho com detalhes em amarelo, as cores escolhidas pela monarquia para bandeira do país.

A inclusão, e a predominância do roxo, na camisa alternativa representam a cor incluída na bandeira republicana e que foi escolhida para simbolizar a mudança no sistema.

O escudo espanhol no uniforme também sofre alteração. As três coroas imperiais presentes deixam de existir e o distintivo passa a ser o mesmo da bandeira republicana. 

"Nós queremos democracia, queremos a República de volta, não queremos imposições cruéis. Só que a seleção da Espanha não pode representar esse massacre sobre o povo. Se você dá o direito dessa escolha aos próprios jogadores, te garanto que muitos estão do nosso lado", comentou o catalão Eduard Roger, que andava nas ruas de Barcelona com o uniforme alternativo da seleção.

"Te digo que esse regime corrupto pelo qual estamos passando me desanima a torcer pela seleção. Mas nós temos a oferecer uma visão de que o futebol não pode ser vítima disso", destacou Andreu.

O preço da camisa também ajuda a popularizar a marca e se aproximar do povo patriota empolgado com a Copa do Mundo. Enquanto a original é vendida por cerca de 80 euros (aproximadamente R$ 240), a alternativa é comercializada por 29,95 euros (cerca de R$ 90) 

A hipotética seleção republicana da Espanha é hoje o principal produto da loja 198, que leva esse nome por representar uma geração nascida ao redor de 1980, e que jamais teve o poder de escolha do regime político do país.

A monarquia vive o momento de menor aceitação na Espanha atingida por uma crise econômica e institucional. O Rei Juan Carlos abdicou do trono em favor do filho Felipe. Muitos espanhóis acreditam que a surpreendente atitude foi tomada justamente pouco antes da Copa do Mundo para que a possível nova conquista da Espanha minimize a pressão sobre a família real.

"Aqui muitos enxergam isso como uma estratégia. Só que o povo republicano não é alienado. É um povo que não escolheu Felipe e quer um referendo para a escolha do regime político. Simples. Essa nossa busca não vai mudar com ou sem título da Espanha", destacou a comerciante espanhola Anna Martinez.

O apoio ao regime Monárquico na Espanha ainda é majoritário. A República tem sido até o momento uma aspiração de grupos menores, sobretudo de partidos de esquerda. No entanto, o novo sistema de governo vem ganhando incrível força às vésperas da Copa do Mundo.   

"É pretensão demais da realeza imaginar que o povo espanhol possa se iludir com o título da Espanha. Eu te cito que  o Brasil foi campeão em 2002 e meses depois o Lula, que simbolizava uma mudança política no país, foi eleito. Essa é a nossa esperança", destacou Andreu LLabina.

De acordo com sondagens publicadas nos jornais espanhóis, a maioria dos cidadãos defende um referendo na Espanha para a escolha do regime político.  A Casa Real espanhola trabalha com a hipótese que a proclamação de Felipe, atual Príncipe de Astúrias, deva ocorrer no próximo dia 19.

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