Assistir ou sabotar? Estreia do Brasil na Copa divide manifestantes
Vinicius Konchinski*
Do UOL, no Rio de Janeiro
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AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA
Manifestante vestido de "pink block" faz protesto bem humorado contra Copa no Rio
O início da Copa do Mundo de 2014 mostrou uma divisão entre os manifestantes contra Mundial da Fifa. Todos que saíram às ruas no Rio de Janeiro, por exemplo, tinham sua razão para discordar do torneio. Boa parte deles, porém, não abriu mão de acompanhar. Principalmente quando a seleção brasileira está em campo. Outra parte, porém, mais radical, faz questão de ignorá-lo. Mais até: faz de tudo para sabotá-lo.
Essa divisão ficou clara na quinta-feira, dia em que a seleção brasileira abriu o Mundial vencendo a Croácia por 3 a 1, em São Paulo. Manifestantes da ala mais tolerante organizaram um ato no centro do Rio pela manhã. O motivo? Estar livre para assistir ao jogo do Brasil à tarde. Em São Paulo, os cerca de 200 black blocs que entraram em confronto com a polícia na Radial Leste se dispersaram faltando 15 minutos para o início da partida no Itaquerão.
O ato no Rio reuniu mais de mil pessoas: grevistas, integrantes de movimentos sociais e até políticos. O deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ) esteve na manifestação. Afirmou a jornalistas que mantinha suas posições contrárias à organização do Mundial da Fifa no Brasil. Ressaltou, porém, que assistiria à estreia da seleção horas mais tarde.
Outros manifestantes disseram o mesmo, sem remorso. Alguns informaram, inclusive, que sairiam do protesto direto para uma reunião com amigos para curtir com tranquilidade o primeiro jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo.
"Não é contra a Copa que estamos protestando, mas contra a forma com que as coisas aconteceram", disse o historiador Arthur Gibson, um dos que pretendiam assistir ao jogo do Brasil após a manifestação. "Queremos mais verba para questões sociais e para a educação."
'Não somos de ferro'
Thiago Ávila, de 27 anos, manifestante do Comitê Popular da Copa do Distrito Federal e um dos organizadores do protesto que reuniu cerca de 100 pessoas, assumiu que para os "ativistas", é um "grande dilema" protestar na hora do jogo. "Afinal, adoramos futebol e a seleção brasileira. Mas não podemos compactuar com o que está acontecendo em nome da Copa. Está descartado apenas a gente sentar e assistir a partida passivamente, alguma forma de posicionamento temos que ter."
Ávila, que tentou chegar à Fan Fest na quinta-feira (12), em Taguatinga, cidade-satélite do DF, disse que o objetivo do grupo era assistir ao jogo pacificamente no espaço organizado pela Fifa, mas entregando panfletos denunciando governo e também a entidade máxima do futebol.
Sem conseguir chegar ao local onde acontecia a exibição pública da partida, o grupo deu meia volta até a praça do relógio, no centro da cidade, onde se dispersou ainda a tempo de ver o segundo tempo. Para os outros jogos do Brasil, tirando o que acontece no Mané Garrincha contra Camarões, no dia 23, o grupo não convocou protestos. A previsão é de que o grupo se manifeste na final do Mundial e em todos os jogos que acontecem em Brasília. "Aí não somos de ferro né? Devemos assistir em paz".
Bem na hora em que a seleção se preparava para entrar em campo, no entanto, outro protesto contra a Copa começou no Rio de Janeiro. Esse reuniu cerca de 300 pessoas. Todas fizeram questão de manifestar-se justamente durante o jogo do Brasil para demonstrar sua contrariedade com a Copa. Mais que isso: esforçaram-se para sabotar o evento.
Por isso, escolheram a Praia de Copacabana, local em que foi montado a Fan Fest da Copa. Manifestantes chegaram a tentar caminhar em direção ao espaço para protestar durante a festa. Sem sucesso, acabaram rumando na direção de estúdios de TV instalados na orla e até discutindo com pessoas que estavam em bares do bairro assistindo ao jogo do Brasil.
Ambos os protestos, o mais e o menos radical, foram contidos pela Polícia Militar. No centro do Rio, apesar da manifestação ter sido pacífica, três pessoas acabaram detidas após um tumulto entre manifestantes e policiais. Já o protesto durante o jogo do Brasil resultou na detenção de seis pessoas. Um ainda ficou ferido: Betinho Casas Novas, repórter cinematográfico do jornal A Voz da Comunidade. Novas foi atingido por uma pedra na cabeça.
*Com agências de notícias