Em casa, Brasil tenta fazer namoro com torcida virar casório à moda antiga

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

"Pra Frente, Brasil" é só a trilha sonora de vídeos antigos, as ruas não param pelo amistoso disputado em Londres e ninguém conhece aquele novo convocado que está escondido há três anos na Ucrânia. A seleção está divorciada do povo? Talvez, mas a Copa das Confederações argumenta que não. Se repetirem o que fizeram em 2013, quem sabe, Neymar e companhia podem interromper de vez a separação que já dura pelo menos 12 anos entre a arquibancada e aqueles que vestem a camisa amarela.

"Ganharam até no hino", disse Vicente del Bosque, técnico da Espanha, sobre a final perdida no Maracanã. "Nesses cem anos [de seleção], poucas vezes vimos uma equipe tão entrosada com a torcida como a de vocês", pegou carona Dilma Rousseff, em carta enviada aos jogadores.

O diagnóstico da presidente é mais preciso do que se poderia esperar de alguém que não tem lá o futebol como uma de suas paixões. A última vez que a seleção conseguiu arrancar manifestações públicas de carinho tantas vezes seguidas foi em 2002, e mesmo assim só depois do título na Coreia do Sul e no Japão.

Depois da festa sobre o trio elétrico em Brasília, com direito a cambalhotas de Vampeta, a seleção nunca mais foi a mesma. Em 2006, o time estrelado que naufragou na Copa foi forjado à base de títulos mundiais e troféus de melhor do mundo.

No caminho até a Alemanha, a CBF vendeu seus amistosos para uma empresa estrangeira e explorou ao máximo a reunião de talentos que tinha. A impressão deixada foi de um time sem compromisso com a seleção brasileira, enfastiado com as taças já conquistadas.

Em 2010, o Brasil era completamente diferente. A magia deu lugar à abnegação, à devoção à seleção sob a figura centralizadora de Dunga. A população igualmente torceu o nariz, rejeição que não melhorou em nada após a derrota traumática para a Holanda.

As explicações para esse distanciamento são muitas. A principal delas é a distância física. Hoje, só 4 dos 23 convocados por Felipão atuam no país. Muitos deles sequer construíram suas histórias no Brasil.

"Eu construí minha carreira profissional na Europa, mas o sonho maior era jogar na seleção, ter meu reconhecimento profissional e como pessoa. Tive carinho em Portugal, fui muito amado no Benfica, mas sempre sentia falta de tocar no coração dos brasileiros", explica David Luiz, que jogou pouco como profissional no Vitória e logo foi para o Velho Continente.

Com Felipão, o cenário é diferente. Pesquisa do Instituto Datafolha, publicada no domingo passado, mostra que 68% dos torcedores acham ótimo ou bom o trabalho do treinador. A aprovação é a maior desde 2002, quando a pesquisa começou a ser feita antes das Copas.

"Encontro forças no trabalho desse pessoal, olhando esses jogadores que se dedicam todo dia. Isso faz com que a gente, mesmo numa situação de tristeza, deixe de lado essa situação e olhe a beleza do que está acontecendo. Essa saída da Granja, a chegada nos aeroportos, na Arena Corinthians... Isso faz com que a gente deixe de lado algumas tristezas", disse Felipão, explicando como tem conseguido superar seus dramas pessoais às vésperas da Copa. 

O namoro tem suas crises, é verdade. Nos dois amistoso preparatórios para a Copa do Mundo, contra Panamá e Sérvia, em Goiânia e São Paulo respectivamente, a seleção ouviu vaias. Os protestos, porém, não superaram o apoio encontrado nos dois estádios, e os jogadores não esperam mais protestos. 

"Não vai acontecer. Vai ser um clima diferente até dentro do estádio. Acho quase impossível acontecer porque nós já sentimos essa experiência na Copa das Confederações. Começando no hino, nas ruas quando o ônibus passava, um monte de gente na porta da Granja", relatou Fred. 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos