É hora de separar os homens dos meninos. Em que time Neymar jogará?

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Michael Jordan dizia que os playoffs da NBA separam os homens dos meninos. No futebol, é a Copa do Mundo que diferencia os bons jogadores dos craques, os ídolos das lendas. Sete jogos, 32 dias e 630 minutos (pelo menos) em campo distanciam os jogadores comuns dos Ronaldos e Romários. De Pelé. A partir desta quinta, Neymar, o camisa 10 mais jovem da seleção brasileira desde o Rei do Futebol, pode decidir qual será seu time na história do esporte.

"O futebol de clubes é provavelmente melhor que o de seleções hoje em dia, mas o futebol de clubes se tornou previsível – na maioria das vezes, os times com dinheiro vão vencer. Nenhuma das seleções da Copa parece invencível", argumentou Nick Hornby, escritor inglês autor de "Febre de Bola" e "Alta Fidelidade", em um artigo para a ESPN americana em que defende a importância do Mundial.

A Croácia é só o primeiro adversário de um longo caminho que começou em 2010, quando Neymar cabeceou firme no canto direito do goleiro dos Estados Unidos, ajoelhou e agradeceu aos céus pelo primeiro gol com a camisa amarela. Depois de encantar o país e ser ignorado por Dunga, o prodígio santista era a grande aposta de Mano Menezes, que assumia a seleção brasileira prometendo renovação.

O timing permitiu que Neymar chegasse um jovem veterano à sua primeira Copa. São quatro anos defendendo o Brasil, 49 jogos, 31 gols e nenhuma partida no banco de reservas. Aos 22, ele é a maior estrela de uma seleção que jogará como favorita diante de sua torcida, ávida por um título que não vem há 12 anos. Mais que isso, que lhe escapou das mãos em 1950, quando a festa dentro do próprio terreiro era dada como certa.

Neymar tem mais bagagem que qualquer outro prodígio que já tenha dado um título ao Brasil. Pelé, campeão aos 17, tinha seis jogos e cinco gols pela seleção quando pisou na Suécia para ser protagonista do primeiro título verde-amarelo. Sua estreia havia sido no ano anterior, e sua galeria de troféus ainda estava vazia, sem uma taça sequer como profissional.

Ronaldo e Romário, os precoces que deram os outros dois dos cinco títulos ao Brasil, também não equiparam a Neymar em termos de vivência antes da primeira Copa. Para começar, sequer eram titulares. Romário jogou uma única vez em 1990, quando tinha 24. Ronaldo, aos 17, viu o tetra do banco quatro anos depois.

Neymar não tem só mais rodagem que seus antecessores. Em cinco anos de profissional, ele já é campeão paulista, da Copa do Brasil, da Libertadores e da Copa das Confederações. É, em um sinal dos tempos, estrela de mais de uma dezena de anunciantes, que o colocam como protagonista da Copa. Ele tenta se esquivar.

"Não quero ser o melhor jogador da Copa, não quero esse título [de melhor]. O que mais quero é o título da Copa do Mundo. O que tiver que acontecer individualmente, vai acontecer. Mas o que mais quero é ser campeão da Copa do Mundo com minha equipe", disse ele na última quarta, na primeira vez em que falou à imprensa desde que começou a preparação brasileira.

Neymar, sob o comando de Felipão, é mais discreto. Fala menos, aparece menos e tem jogado mais. "Eu espero que o Neymar seja mais um. Ele está passando essa mensagem de coração. Ele sendo mais um, sempre vai despontar, sempre vai fazer a diferença. Sendo mais um continuará fazendo a diferença", disse o treinador, endossando o pupilo.

Só que a Copa pode mudar de vez o discurso humilde e discreto. Ronaldo que o diga. O Fenômeno, espécie de mentor comercial para Neymar, viu sua carreira ser revolucionada ao vencer o Mundial como protagonista, em 2002.

Infalível e temido dali em diante, Ronaldo chegou à decisão marcado pela convulsão que tivera quatro anos antes, na França, e pelas lesões que ameaçaram abreviar sua carreira. Antes de decidir o penta com dois gols, o camisa 9 andava cercado de ressalvas. No dia da final, ele contaria, anos depois, que passou a tarde ao lado do goleiro Dida com medo de um novo mal estar antes da decisão.

"Não era dívida, era um peso na consciência", disse Ronaldo logo após o 2 a 0 sobre a Alemanha. "Houve muitos momentos de dúvida", diria o Fenômeno seis meses depois, ao ser consagrado com o terceiro troféu de Melhor Jogador do Mundo na carreira. Será que Neymar conseguirá repeti-lo em 2014?

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