A dois dias da Copa, veja quais são as maiores ameaças ao sucesso do evento

Rodrigo Mattos e Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

Na medida em que se aproxima a próxima quinta-feira, dia do início da Copa do Mundo do Brasil, uma das maiores preocupações em relação à preparação do país para o evento - a construção dos estádios que receberão os jogos - vai deixando de ser o principal fator de risco para o sucesso do Mundial. As arenas nas 12 cidades-sede estão aptas a receber os jogos, ainda que mais caras do que o previsto e com problemas de acabamento.

A poucos dias do evento, o que mais preocupa as autoridades brasileiras e da Fifa são questões ligadas a mobilidade urbana, acesso aos locais do evento, pleno funcionamento dos serviços de transporte nos municípios e toda a operação envolvida na realização de um jogo de Copa do Mundo.

Na última segunda-feira, os metroviários da maior cidade do país e palco da abertura da Copa, São Paulo, decidiram suspender uma greve que tinha tido início no último dia 5 e colocado o trânsito na cidade sob o império do caos. Mas nada garante que a paralisação não será retomada. O sindicato da categoria irá tentar reverter na Justiça uma decisão contrária à greve, proferida no último dia 8. Na próxima quarta, dependendo do resultado do recurso, os metroviários irão decidir se retomam ou não a greve, a um dia da abertura da Copa.

Assim como São Paulo, outras cidades-sede estão convivendo com paralisações, ameaças de greve em serviços essenciais e problemas operacionais às vésperas do Mundial. Veja quais são os principais focos de problema que poderão influenciar negativamente a realização da Copa no Brasil.


Greves em serviços essenciais

Não é só em São Paulo que movimentos por melhores salários desafiam as autoridades públicas na véspera da Copa. No Rio de Janeiro, segunda maior cidade do país e palco da final do torneio, também convive com a ameaça de paralisação de seu sistema metroviário.

Na última segunda-feira, os metroviários cariocas decidiram, em assembleia, entrar em estado de greve. Isso significa que uma paralisação pode ser deflagrada a qualquer momento. De acordo com o sindicato da categoria, há uma negociação infrutífera com a empresa que se arrasta desde março. Agora, na semana da Copa, as duas partes têm se reunido quase diariamente. Na tarde desta terça-feira, haverá mais uma assembleia dos metroviários, onde uma paralisação imediata será posta em votação.

Em Recife, o sindicato dos enfermeiros anunciou na última segunda-feira que os profissionais irão cruzar os braços por 48 horas em plena Copa do Mundo, nos próximos dias 18 e 19 de junho, caso as autoridades não sentem para negociar a pauta de reivindicações da categoria.

A pauta contém 36 itens, que vão desde a reposição da inflação nos salários até a compra de remédios e equipamentos que estariam faltando em hospitais públicos. Até agora, a proposta patronal é de um reajuste de 2,8%. O sindicato anuncia que haverá nova assembleia no dia 19, desta vez para colocar em votação uma greve geral por tempo indeterminado.

Já no Rio Grande do Sul, a Prefeitura de Porto Alegre convive com uma greve dos servidores municipais que já dura mais de uma semana. Na área da educação, mais de 70% das escolas estão fechadas ou funcionando parcialmente.Na saúde, o atendimento é parcial em unidades básicas, mas nenhum hospital zerou os atendimentos. Já o Departamento Municipal de Água e Esgotos está operando apenas na manutenção de serviços essenciais.

A prefeitura já anunciou que o ponto dos grevistas está cortado e que, apesar de ainda admitir negociar com os servidores para encerrar o movimento, não está aberta à ampliação do reajuste salarial oferecido, da ordem de 6,3%.


Segurança pública

Paralisações de categorias ligadas à segurança preocupam algumas cidades-sede. Em Cuiabá, o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, participou na última segunda-feira de uma reunião de mais de sete horas com representantes de policiais militares do Estado, que ameaçam entrar em greve durante a Copa, ainda que a lei proíba tal ação.

Os militares querem reajuste salarial e equiparação da carreira à da Polícia Civil de Mato Grosso, que teria vantagens sobre à da PM. Governo e policiais saíram do encontro de sete horas dizendo que não houve acordo, mas que sim avanço nas negociações. A categoria vota se entra ou não em greve em assembleia geral que acontece na tarde desta terça-feira.

Já em Manaus, são os policiais civis que estão insatisfeitos e ameaçando parar durante a Copa. Na última segunda-feira, Moacir Maia, presidente do Sindicato dos Funcionários da Polícia Civil do Estado do Amazonas, afirmou que a categoria irá cruzar os braços na próxima sexta-feira, mantendo apenas 30% do efetivo trabalhando, por questões legais.

Além disso, os policiais civis prometem realizar um ato de protesto contra o governo na próxima sexta, dia 13, em frente à Arena Amazônia, estádio que receberá quatro jogos da Copa, sendo o primeiro entre Inglaterra e Itália, no dia 14.

A principal reivindicação dos policiais é a equiparação de salários dos cargos de investigador e escrivão com o cargo de perito. As negociações com o governo se arrastam desde março, sem evolução considerável. 

Por fim, uma preocupação que não abandona as autoridades de segurança pública são as manifestações e protestos nas cidades-sede. As cenas que foram vistas durante a Copa das Confederações, em junho de 2013, ainda estão frescas nas mentes dos organizadores da Copa. Não por acaso, a maioria das cidades-sede aceitou a presença preventiva de tropas do Exército Brasileiro em seus territórios durante a Copa do Mundo.


Jogos e problemas operacionais

No que se refere à realização das partidas em si, a Fifa enxerga alguns pontos que poderão gerar transtornos. O principal deles é relacionado à estrutura de telecomunicações montada nos estádios. Cabos de internet, e pontos de wi-fi foram instalados de última hora, principalmente nas arenas que mais atrasaram, como Itaquerão, Arena da Baixada e Arena das Dunas.

No último dia 27, No último dia 27, o governo federal admitiu que o serviço de internet e telefonia móvel em geral para os torcedores "vai ficar lento" em seis dos 12 estádios da Copa.

De acordo com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, haverá problema e congestionamento no tráfego de dados nas arenas que não contarão com redes wi-fi internas, mesmo com a instalação de antenas de reforço para sinal de 2G, 3G e 4G.

"Mesmo com as antenas, vai ficar lento, são milhares de pessoas usando o serviço, enviando fotos ao mesmo tempo", avisou o ministro. "Vai ficar lento. Queríamos wi-fi em todos os estádios, mas em seis deles não houve acordo entre as operadores e as administradoras das arenas".

Outro ponto que preocupa os organizadores da Copa são as instalações de tribuna de imprensa. Assim como os equipamentos de tecnologia de informação, as áreas preparadas para os jornalistas foram feitas na última hora por conta da entrega atrasada dos estádios. O temor da Fifa é que os lugares e os serviços não funcionem corretamente para a mídia mundial.

Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, já chegou a dizer que, caso a estrutura dos estádios voltada para a transmissão dos jogos e o trabalho da imprensa não funcione corretamente, a Copa do Brasil poderá vir a ser conhecida como a "pior de todos os tempos"..

Outro fator de preocupação são as operações de acesso aos estádios. Em algumas arenas, não houve eventos-teste suficientes para atestar o sistema de acesso aos estádios e garantir que não haverá filas muito longas. Em São Paulo, por exemplo, os detectores de metais só foram instalados no último dia 1º, e passaram por apenas um teste, no jogo entre Corinthians e Botafogo.

Filas e falhas no atendimento aos torcedores também são previstas nos bares das arenas. Os prestadores de serviços de lanches entraram tarde nos estádios, ou sequer entraram ainda em todos os setores. Por isso, há o temor de que ocorram falhas no atendimento, o que já ocorreu durante a Copa das Confederações, no ano passado.

Completam a lista de preocupações operacionais dos organizadores da Copa o perfeito funcionamento da marcação de lugares nos estádios e os camarotes para o público VIP. A Fifa entregou ingressos, mas teve que trocar mais de mil deles por conta de modificações no perfil do estádio, incluindo tribuna de imprensa. O objetivo é tentar repetir o que ocorreu na Copa das Confederações, quando pessoas chegaram no estádio e não havia assento com o número marcado no ingresso. Já Instalações como estacionamento e escadas de acesso para os Vips foram feitas de última hora. Há o temor na Fifa de que não tenham o acabamento apropriado para atender torcedores que pagaram caro pelo serviço.

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