Com boato sobre surto de H1N1, Cuiabá pode ter greve de enfermeiros na Copa
Guilherme Costa
Do UOL, em Cuiabá (MT)
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Tchélo Figueiredo/Divulgação PSB
Prefeito Mauro Mendes visita o Pronto-Socorro de Cuiabá; em 2012, ele prometeu construir um novo aparato na cidade
Cuiabá vai receber a partir da próxima sexta-feira o maior evento esportivo do planeta. Dias antes de Chile e Austrália duelarem na capital mato-grossense pela Copa de 2014, porém, o esporte está longe de ser o assunto mais comentado nas ruas da cidade. Com um boato sobre um surto de H1N1 e a chance de uma greve de enfermeiros nos próximos dias, a pauta da vez é a saúde.
Neste ano, segundo dados da SES-MT (Secretaria Estadual de Saúde do Mato Grosso), foram registrados 24 casos de H1N1 no Estado. O problema é que 12 pessoas desse grupo morreram em decorrência da doença.
Em Cuiabá, os dados oficiais apontam sete mortes por causa da H1N1, também conhecida como influenza A. Em postos de saúde da cidade e no Pronto-Socorro Municipal, porém, funcionários asseguram que o número de vítimas é bem maior.
Todos os voluntários que vão trabalhar na Copa do Mundo em Cuiabá tiveram de tomar vacina. Oficiais (policiais e militares) também. Entretanto, a SES-MT emitiu nota nesta semana para dizer que não há surto de H1N1 na cidade.
"Não há nenhum surto de influenza do tipo H1N1 em Cuiabá, bem como não há nenhum bairro da cidade em quarentena", escreveu a SES-MT. "Para Cuiabá foram disponibilizadas 119.483 doses da vacina, e a meta é atingir 80% desse total. Até o momento, já foram vacinadas quase 80 mil pessoas", continuou a nota.
O UOL Esporte esteve em três postos de saúde de Cuiabá nesta segunda-feira. Um deles oferece vacinas apenas nas terças e quartas porque não tem como armazenar os produtos – a geladeira não consegue manter a temperatura necessária. Em outro, uma funcionária disse que tem medo de as doses disponibilizadas pela SES-MT não serem suficientes.
A vacina atualmente está disponível apenas para grupos prioritários (crianças de seis meses a cinco anos, pessoas com 60 anos ou mais, funcionários da saúde, povos indígenas, gestantes, população privada da liberdade, funcionários do sistema prisional e pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis ou condições clínicas especiais). A restrição deveria ter sido encerrada nesta semana, mas foi prorrogada até 15 de junho porque os postos não atingiram o número de doses previsto para esse contingente de pessoas.
Os boatos sobre um surto de H1N1, agravados por conteúdos compartilhados no aplicativo Whatsapp, são apenas mais um capítulo na crise da saúde do Mato Grosso. O Estado também tem enfrentado muitos casos de dengue (foram 6.805 confirmados neste ano, com três mortes em Cuiabá) e pode ter greves de enfermeiros durante a Copa.
O caso mais grave é o de Várzea Grande, cidade que fica na região metropolitana de Cuiabá. Enfermeiros de lá chegaram a cruzar os braços na segunda-feira da semana passada, mas retomaram o trabalho porque receberam promessa de que receberiam reajuste e reposição de perdas salariais até 10 de junho. Horas antes de o prazo terminar, o Sinpen, sindicato que representa a categoria, alega que o pagamento não foi feito.
"Se não houver nada até amanhã, vamos ver com a categoria. Já houve greve na segunda-feira passada, mas os trabalhadores resolveram dar um crédito ao prefeito", disse Arlindo Cesar Ferreira dos Santos, diretor do Sinpen.
Há uma possibilidade concreta de greve em Várzea Grande a partir de terça-feira. Em Cuiabá, o Sinpen e a prefeitura terão um encontro ainda nesta semana (entre terça e quarta-feira). Será a terceira e última reunião de negociação. Se as duas partes não atingirem um acordo, a categoria também vai parar.
"Há muito tempo estamos tentando negociar. Se os profissionais pararem, a Copa vai ser prejudicada, principalmente no atendimento de emergência. O impacto vai ser grande", avaliou Ferreira dos Santos. A categoria pede 10% de reajuste salarial.
O impacto pode ser ainda maior por causa da situação da saúde de Cuiabá. No Pronto-Socorro Municipal, faltam médicos na UTI. O problema foi mostrado neste ano por uma reportagem do dominical "Fantástico", exibido pela "TV Globo". "Eles falaram que não temos médicos de plantão na UTI, mas esse é um problema antigo. Nós ganhamos só R$ 724, mas precisamos segurar a onda aqui", contou uma enfermeira.