Sorveteiros sondam Arena Pantanal e tentam furar bloqueio Fifa na Copa

Guilherme Costa

Do UOL, em Cuiabá (MT)

  • EFE/EPA/Marcelo Sayao

    Arena Pantanal terá restrição de ambulantes na Copa, mas sorveteiros tentam driblar

    Arena Pantanal terá restrição de ambulantes na Copa, mas sorveteiros tentam driblar

Aprovada em 2012, a Lei Geral da Copa instituiu no Brasil uma série de regras especiais para o Mundial de futebol deste ano. Uma das mudanças provocadas pela norma é a criação de um perímetro de exclusividade no entorno dos 12 estádios. Nessa área, a Fifa pode privilegiar parceiros comerciais e vetar práticas que considerar ofensivas a essas marcas. Patrocinadores já se movimentaram para reforçar a restrição. E mesmo diante de todo esse aparato, um grupo de sorveteiros já começou a buscar brechas na Arena Pantanal, em Cuiabá.

As ações têm sido feitas de forma individual, em sondagens e até negociações com funcionários que trabalharão no entorno. "Eu vou ficar fora da zona protegida, mas vou tentar passar. Sabe como é Brasil, né? Você vai conversando com um e com outro até estar do lado de dentro", relatou o sorveteiro Aurélio de Jesus Rodrigues.

Os picolés de Rodrigues têm preço entre R$ 1 e R$ 1,50. Ele tem vendido até 300 unidades por dia no período que antecede a Copa do Mundo – o sorveteiro não trabalha apenas no entorno da Arena Pantanal. Durante a competição, a projeção do ambulante é chegar a até 450 itens comercializados a cada 24 horas.

"Se eu conseguir chegar mais perto, vai ser ainda melhor. Aqui faz muito calor. Se não der, o jeito vai ser ficar do lado de fora", explicou o sorveteiro.

Outro vendedor, que não quis se identificar, admitiu ter iniciado conversas com funcionários da Secopa-MT e da Fifa para tentar furar o bloqueio de perímetro criado pela entidade: "A gente precisa tentar. Já falei com algumas pessoas, sim, e estou vendo se alguém abre um espacinho pra mim nos dias dos jogos".

Cuiabá receberá quatro jogos da Copa do Mundo. O primeiro será Chile x Austrália, marcado para 13 de junho. A aposta do sorveteiro é que o bloqueio de perímetro será mais incisivo nessa data.

"Essas coisas valem para os primeiros dias. Depois, o cerco fica mais frouxo. A segurança não vai ser a mesma em todos os jogos", previu o sorveteiro.

O mexicano Gonzalo Santos, que vive no Brasil há sete meses, é mais resignado: "Não vou vender, não. Não pode". Ele vende cerca de 150 picolés por dia, e a Arena Pantanal também é um dos principais pontos para isso.

O comércio ambulante é uma das práticas regulamentadas pela Lei Geral da Copa. Apenas vendedores cadastrados pela Fifa podem circular no perímetro dos estádios, com preços tabelados e venda apenas de produtos dos patrocinadores da entidade.

No segundo evento-teste do Itaquerão, por exemplo, houve problemas com essa prática. O jogo Corinthians x Botafogo, válido pela nona rodada do Campeonato Brasileiro, foi o primeiro em que houve restrição de perímetro no entorno do estádio. Prefeitura, Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana tiveram de agir para retirar os vendedores, e houve pelo menos 20 apreensões de produtos.

Em Cuiabá, patrocinadores da Fifa já se mexeram para limitar a exposição de marcas rivais no entorno da Arena Pantanal. Ambev e Coca-Cola entraram em contato com os donos de estabelecimentos comerciais nas imediações do estádio e ofereceram condições especiais para quem vender apenas produtos dessas companhias. A proposta feita a bares, lanchonetes, restaurantes e até um lava-rápido incluiu preços especiais e restauração de fachada.

"Meu bar não tinha nada na porta ou na parede. A Coca-Cola me deu um toldo e essas placas. Assinei um contrato para vender apenas produtos deles por um ano", disse Maria Oliveira, proprietária do Dick Lanches, que fica na rua de uma das laterais do estádio.

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