Crise de Camarões tem desleixo até na preparação do time no Brasil

Felipe Pereira

Do UOL, em Vitória

Se a recusa em embarcar para uma Copa é a face mais visível, as entranhas da preparação de Camarões para a Copa do Mundo mostram a crise institucional que a seleção vive. Foi o que apurou a reportagem do UOL Esporte. As relações entre Governo e comissão técnica são deterioradas e criam situações absurdas. Meses antes da estreia do time no Mundial a Embaixada do país em Brasília não sabia sequer o dia em que a delegação chegava ao Brasil e os locais de hospedagem e treinamento.

Foi preciso que o governo camaronês enviasse funcionários de Brasília ao Espírito Santo, onde a equipe se prepara para o torneio, para obter estas informações. Foi como se um representante da Embaixada entrevistasse os organizadores para descobrir o básico.
 
A federação de futebol do país também não se fez presente. Desde que Vitória foi escolhida como cidade da preparação de Camarões houve uma única visita. Ela ocorreu no começo do ano e depois disso a comunicação cessou.
 
A falta de preparo é tamanha que a delegação não conta nem com um chefe de cozinha. Os jogadores não terão refeições preparadas para a exigência física de um atleta profissional e vão comer o que tiver no cardápio do dia. A única recomendação feita ao hotel foi diminuir a quantidade de sal nas refeições aos jogadores.
 
A água, preocupação comum de equipes de futebol, também não é alvo de atenções especiais. O número reduzido de pedidos não chega a 10% das exigências feitas pelo Fluminense revelou a gerência hotel ao jornal Gazeta, de Vitória.
 
O desleixo com a preparação se refletiu também no centro de treinamento. Como não responderam aos questionamentos, comissão técnica e federação não puderam adequar a estrutura às necessidades da equipe. Eles poderiam ter opinado sobre o gramado, configuração dos vestiários, sala de imprensa.
 
As últimas vítimas foram os familiares. Sem intercâmbio de informações fica difícil escolher um lugar adequado. Os organizadores de Vitória informam que muitos parentes de atletas vão se hospedar em pousadas de terceira categoria.
 
A sorte de Camarões foi ficar na mesma cidade que a Austrália, uma seleção que tomou todos os cuidados para ter a melhor estrutura. Um trabalho conjunto foi iniciado há quatro meses e uma empresa contratada somente para cuidar dos interesses da federação. Houve visitas ao centro de treinamento e negociação sobre o estado do gramado, posição do centro de imprensa e estrutura a ser oferecida aos jogadores.
 
A organização no Espírito Santo também foi consultada sobre a rede de hotéis da cidade e estabelecimentos foram visitados. Os australianos providenciaram linhas telefônicas com números brasileiros para os familiares e feito um trabalho para garantir fornecimento de táxis. Também foi elaborado um guia sobre os pontos turísticos da Grande Vitória e os melhores locais para comer.
 
Sem saber sobre as preferências do camaroneses, o trabalho desenvolvido junto aos australianos foi repetido para o país africano.

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