Bola é só um detalhe nos testes de Felipão
Gustavo Franceschini e Paulo Passos
Do UOL, em Goiânia
Os dois amistosos, contra Panamá, na última terça-feira, e Sérvia, na sexta, não são os únicos testes de Luiz Felipe Scolari com os jogadores da seleção brasileira. Desde que iniciou o trabalho em Teresópolis, na Granja Comary, o técnico tem colocado seus convocados para a Copa do Mundo à prova. E não necessariamente em situações relacionadas ao campo.
Durante os oito dias de convivência até agora, Felipão testou o grupo, seus comportamentos, reações e até cumplicidade entre os atletas e a comissão técnica. Não são conceitos novos na carreira do técnico, acostumado a montar times a partir do seu comando de vestiário.
Bico calado
Desconfiado confesso, Felipão comemorou o fato de que temas tratados com os jogadores na última semana não vazaram para a imprensa. Foi o caso, por exemplo, de uma disputa por um mesmo número de camisa. A história foi contada pelo próprio técnico.
"Quando acontece de que, por acaso, dois gostariam de usar o mesmo número, ai decido eu. Teve uma solicitação e resolvi", revelou Scolari.
O problema, segundo ele, foi solucionado sem maiores consequências. O que o técnico comemorou mesmo foi o fato da história não ter vazado.
"A gente tem pedido muita coisa a eles com silêncio. Não passo isso para ninguém. E eles estão acatando. Muito bom. Solicitamos bico calado e está legal", completou.
Bronca e reação
"Seremos campeões do mundo". Não foram poucas as vezes que Felipão falou isso desde que o time venceu a Copa das Confederações, em 2013. O discurso de confiança foi repetido durante todo o ciclo do técnico e, bem verdade, foi embasado com vitórias e boas atuações na maioria dos jogos.
Dois treinos seriam suficientes para derrubar toda a confiança na sua equipe? Claro que não, mas não custa nada deixar todo mundo em alerta. No último domingo, depois do trabalho no campo da Granja Comary, um Felipão com cara fechada disse à TV Globo que estava tudo errado no seu time.
Dois dias depois, após o amistoso contra o Panamá, reconheceu que a bronca foi uma alerta e que queria uma reação dos jogadores. Segundo ele, em parte ela veio.
"Eu tenho pensando no excesso de autoconfiança. Se não tivesse pensado, não tinha dado aquela bronca. É o que eu falo pra eles lá dentro. As vezes falo aqui dos erros, mas falo mais forte lá dentro", admitiu.
Agrados e cobrança
Se bateu com as palavras críticas, Felipão também soube afagar os jogadores nos primeiros dias de trabalho para Copa. Eles tiveram autorização para levar familiares e amigos aos treinamentos e receberam visitas. Além disso, na programação fechada até o final da primeira fase foram incluídas três folgas depois dos jogos.
A estratégia é repetida nos trabalhos do técnico. Tido como linha dura na disciplina, ele dá voto de confiança aos jogadores. Quem não anda na linha, claro, sofre as consequências. Ramires sabe bem. Após se atrasar numa apresentação em Londres, onde mora, deixou de ser chamado por um tempo. O meia, porém, pediu desculpas, conseguiu reconquistar o técnico e está na Copa.